É importante pedir perdão aos negros e indígenas brasileiros
Por: Théo Van Der Loo
Muitos dizem que esta discussão em torno da escravidão e suas consequências é coisa do passado, pois “já faz muito tempo que isso aconteceu”. É verdade, concordo que devemos pensar muito mais no hoje e no amanhã. Mas para que possamos avançar, acredito que seja igualmente importante reconhecer os erros e atrocidades
históricas cometidos pela humanidade. Recebo muitas críticas dizendo que somos todos humanos e que devemos esquecer essa “coisa de raça”. Ocorre que, até os dias de hoje, alguns humanos se acham mais humanos (superiores) que os outros. Os humanos – brancos que criaram e se beneficiaram da escravidão nos anos 1500 e os humanos – negros que viram suas vidas e sonhos destruídos, já não estão aqui. Mas as sequelas dessa odisseia persistem até os dias de hoje. Uma delas é o racismo e a desigualdade crônica.
A abolição da escravatura ocorreu em 1888, mas o racismo e preconceito ainda seguem muito presentes. Nunca houve um reconhecimento e pedido de perdão formal do Estado brasileiro e de Portugal, pelas atrocidades e injustiças históricas cometidas contra os negros. Quero fazer uma analogia com a questão do povo judeu, que foi perseguido durante toda sua vida. O Holocausto, entre 1941 e 1945, durante a II Guerra Mundial, foi o ponto mais
horroroso dessa história. Após a II Guerra, houve um esforço enorme de vários países para ajudar a comunidade judaica a se reerguer. Será impossível eliminar os traumas e sequelas deixados pelo Holocausto. Essa história jamais poderá ser esquecida, em memória às vítimas e seus descendentes e para
que ela jamais se repita.
Outro fato histórico importante (1492) é a questão dos judeus sefarditas, na Espanha e em Portugal, que foram perseguidos, forçados a se converterem para o catolicismo, expulsos dos seus países ou executados. Em
2015, os dos países reconheceram a injustiça histórica, pediram perdão e ofereceram aos descendentes dos judeus sefarditas a nacionalidade de seu país de origem (Espanha ou Portugal).
Parece que, apesar de altos e baixos, nossa sociedade está avançando. Países colonizadores estão reconhecendo as injustiças e erros cometidos no passado e fazendo esforços para amenizar as sequelas, como foi o caso dos judeus sefarditas. Relatórios indicam que a escravização de africanos na América Latina começou em 1525, alguns dizem que foi até antes. Os principais comerciantes de escravos do Atlântico, ordenados por
volume de comércio, foram os impérios: português, britânico, francês, espanhol e holandês. Porém, após uma busca na internet, pode ser constado que alguns pedidos de desculpas por parte destes países ainda foram muito tímidos. Foi apenas em 2015 que as Nações Unidas inauguraram um Monumento Permanente para Honrar as Vítimas do Comercio da Escravidão Transatlântica.
www.un.org/en/events/slaveryremembranceday/memorial.shtml
Em abril de 2005 o presidente Lula pediu perdão à África (Senegal) pela escravidão. Um gesto louvável, mas feito na África. Pessoalmente eu não tenho dúvidas de que é necessário fazer um reconhecimento sobre essa injustiça histórica e pedido oficial de perdão, para todos os negros aqui no Brasil e avançarmos ainda mais com as políticas públicas, incentivando o setor privado a participar ativamente nessa jornada contra o racismo e redução da desigualdade. Aqui não me refiro apenas aos negros, mas também aos índios que passaram por grandes injustiças também. Todos vamos nos bene ciar disso, principalmente as próximas gerações. Uma coisa é certa. Deixar tudo como foi até hoje não é mais uma opção. Para sermos uma grande nação, precisamos dar pulos e não passos.
O Brasil tem pressa!
Esse é um passo além do racismo.