Revista Raça Brasil

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Educação como fator de apartheid social, econômico e racial

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Mauricio Pestana

CEO do Grupo Raça Comunicações. Jornalista, publicitário, cartunista e escritor, referência no país e no exterior no que diz respeito à produção de materiais didáticos nas áreas de diversidade, cidadania e direitos humanos. Foi secretário de Promoção da Igualdade Racial da Cidade de São Paulo e, atualmente, é diretor executivo da Revista Raça.

A educação no Brasil é um reflexo da profunda desigualdade social e racial, que permeia todas as camadas da sociedade brasileira. Enquanto o país ostenta o título de ter o maior número de milionários na América Latina, com aproximadamente 433 mil indivíduos com patrimônio superior a um milhão de dólares (dados revelados recentemente pelo relatório do banco suíço UBS), nossa realidade educacional revela um cenário de apartheid racial. As escolas particulares de alto desempenho, que deveriam ser berços de excelência acadêmica e diversidade, são, na verdade, espaços de segregação e exclusão.

Os dados tabulados pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (GEMAA) são alarmantes. A maioria das escolas particulares de alto desempenho no Brasil tem menos de 10% de alunos autodeclarados pretos e pardos. Em São Paulo, nenhum dos dez colégios com melhor desempenho no ENEM registrou mais de 20% de alunos pretos ou pardos. Esses números são comparáveis àqueles existentes nos Estados Unidos antes dos anos 1960, quando ainda operavam leis de segregação racial na educação.

Essa realidade é resultado de um sistema educacional, que perpetua a desigualdade e a exclusão. As escolas particulares de alto desempenho são frequentadas majoritariamente por alunos brancos, de classe média e alta, enquanto as escolas públicas e periféricas abrigam uma população estudantil mais diversa e carente. Essa segregação educacional é um reflexo da segregação social e racial, que ocorre desde o período escravocrata.

O coordenador da pesquisa, Luiz Augusto Campos, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, afirma que “naturalizamos o sistema educacional privado de alto desempenho como um ‘apartheid racial na educação'”. Essa naturalização é um problema grave, pois implica que a sociedade brasileira aceita e reproduz essa desigualdade como algo normal.

A educação é um direito fundamental, que deveria ser garantido a todos, independentemente de sua raça, classe social ou origem. No entanto, no Brasil, a educação é ainda um privilégio que beneficia apenas uma parcela da população, rica e branca. As políticas públicas de educação deveriam ser reorientadas para promover a inclusão e a diversidade nas escolas, garantindo que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade, mas, entra e sai governo e os números permanecem quase inalterados.

A perpetuação da desigualdade educacional no Brasil é um problema complexo que requer uma abordagem multifacetada. É necessário implementar políticas de ação afirmativa, para garantir a inclusão de alunos pretos e pardos nas escolas particulares de alto desempenho. Além disso, é fundamental investir em educação pública de qualidade, garantindo que todas as escolas tenham condições dignas e professores capacitados, encarando o problema sem romantismo e falsas promessas e com soluções práticas.

A mudança desse cenário depende da conscientização e mobilização da sociedade brasileira. É preciso reconhecer que a educação é um direito fundamental e que a desigualdade educacional é um problema que afeta todos. Somente com uma abordagem coletiva e inclusiva é possível construir um sistema educacional que promova a igualdade e a justiça social.

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