Ela venceu o mundo do crime e está prestes a se formar.
Se há alguém que pode comprovar que mesmo de um momento muito ruim de nossas vidas nós podemos sair melhores e mudarmos nosso destino, esse alguém é Ravena Carmo.
Hoje uma estudante de 27 anos, prestes a se formar em Ciências Naturais pela Universidade de Brasília, 10 anos atrás Ravena estava envolvida com tráfico de drogas, falsidade ideológica e uma tentativa de assassinato que a levou à detenção. É a partir dessa experiência passada que Ravena também se tornou educadora social, falando com adolescentes que passam hoje pelo que ela atravessou.
Segundo Ravena, a falta de apoio da família e o bullying que sofria por ser gordinha tornaram a vida do crime sedutora para a adolescente que ela foi. Dinheiro e a melhora imediata na autoestima levaram Ravena aos 14 anos a se envolver com os maiores traficantes de Planaltina, onde vive até hoje. Quando teve de cobrar uma dívida em nome do tráfico, ela pediu uma arma emprestada e, no calor do momento, disparou contra a mulher em dívida.
A mulher sobreviveu por pura sorte, e Ravena foi condenada a três anos de detenção. Na prisão permaneceu envolvida com drogas mas, ao sair, em vias de completar 18 anos, decidiu procurar emprego. Foi trabalhando em uma loja que pôde pagar aulas de reforço para tentar o vestibular.
Depois de duas tentativas e de um filho então recém nascido, o resultado enfim veio: Ravena foi a primeira colocada em matemática. Ravena só havia cursado até o quarto ano em escolas convencionais, e o processo de adaptação na universidade foi doloroso, mas ela seguiu em frente.
Sua formatura é no ano que vem e, até lá, além de estudar ela se dedica a ajudar jovens que estejam passando pelo que ela passou. Seu futuro, no entanto, já está sendo devidamente sonhado por ela: um mestrado, e uma vida como professora – que, para ela, será como pagar uma dívida à educação, que lhe salvou a vida.
Ravena sabe que é uma exceção, e afirma não acreditar em meritocracia, pois a falta de oportunidade evidentemente pode impedir que pessoas deem a volta por cima que ela deu. Mas ela também sabe que não é a única, nem a última – e por isso pretende se dedicar a ensinar e ajudar pelo resto de sua nova vida.