Eles são os cartões de visitas

“E você, senhorzinho garboso? Fiquei sabendo que foi para a Europa estudar… Tá gastando o dinheiro que senhor barão amealhou com o café da nossa região, não é? Ora veja.”

A fala é de Mariana Crioula, negra alforriada que faz um passeio pelo centro histórico de Vassouras, no centro-sul fluminense, todos os sábados pela manhã. A personagem, interpretada pela turismóloga Andreia Pit, é praticamente a anfitriã oficial da cidade.

Maria Crioula foi responsável pela liberdade de mais de 300 escravos rebelados em Vassouras, em 1838. Ela e o marido, Manuel Congo, tornaram-se rei e rainha do maior levante de escravos registrado no Rio, no século XIX, que só não fica esquecido totalmente nos escaninhos da memória nacional, graças a Pit.

Sempre de branco, com um tecido colorido cobrindo parte da roupa e um leque nas mãos, Pit (abreviação de Posto de Informações Turísticas) faz visitas guiadas pela cidade, transportando os visitantes para dentro do Império. Formada em Gestão Cultural e Políticas Públicas pela UERJ, ela conta os fatos históricos da formação do município de 34 mil habitantes, por onde passava o ouro levado de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, no século 18 e, posteriormente, muito café, sempre interagindo todo o tempo em meio a jongos africanos, dando uma verdadeira aula de ancestralidade.

Pit taz questão de defender sua cidade, que em 2016 foi alvo do Ministério Publico que, na ocasião, celebrou um Termo de Ajustamento de Conduta com uma fazenda local, onde turistas assistiam a uma simulação de cenas do período da escravidão.

“Jamais houve objetivo de estimular. Muito pelo contrário”