Elo Negro: A agência que fortalece influenciadores negros e periféricos
O luto pode paralisar, mas também pode ser transformado em propósito. Foi isso que aconteceu com Douglas dos Reis de Moura, 36, quando perdeu sua prima Giovana Moura de forma precoce, em 2018. O sonho dela de construir uma carreira artística e conquistar o mundo foi interrompido, mas Douglas decidiu que não deixaria que outras histórias seguissem o mesmo caminho. Assim nasceu a Elo Negro Comunicações, uma agência dedicada a dar voz e visibilidade a influenciadores negros e periféricos.
“Eu sempre dizia para a minha prima que cuidaria da carreira dela, mas não tive tempo. A Elo Negro nasceu desse desejo de fazer pelas pessoas negras o que eu não pude fazer por Giovana”, compartilha Douglas.
A Elo Negro começou a tomar forma durante o TCC de Douglas no curso de Relações Públicas. Morador da Vila Remo, no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, ele sempre sentiu na pele como o mercado da comunicação é desigual. Com a ajuda do ProUni, conseguiu sua graduação, mas percebeu que poucos periféricos conseguiam ter as mesmas oportunidades. Foi aí que decidiu criar um espaço onde a comunicação fosse feita por e para pessoas negras.
Mas o caminho não é fácil. Douglas explica que muitos empreendedores, artistas e influenciadores negros não foram ensinados a se venderem no mercado, porque nunca tiveram espaço para isso. “A gente cresce sem enxergar referências que se pareçam com a gente ocupando esses lugares. Então, muitos nem imaginam que podem construir uma carreira pública”, reflete.
Além disso, ele atua como uma ponte entre esses talentos e as grandes marcas, ajudando a romper barreiras e garantir que o mercado enxergue o valor da diversidade.
O mercado da comunicação segue um padrão branco e elitizado, e Douglas percebe isso todos os dias. “A estrutura da comunicação foi criada por uma perspectiva branca. Funciona, mas não gera identificação. O algoritmo foi feito por mãos brancas”, diz.
Na prática, isso significa que muitos influenciadores negros enfrentam dificuldades para crescer nas redes sociais, conseguir patrocínios e monetizar seu trabalho. E agora, com as mudanças nas regras da Meta, a situação pode piorar. “A guinada das plataformas para discursos de extrema direita pode reduzir as oportunidades para influenciadores negros. Já percebemos dificuldades na captação de patrocínios e apoios desde o ano passado”, alerta Douglas.
Mas ele segue resistindo. Hoje, atende principalmente mulheres negras, mães solo e multiartistas, que dividem seu tempo entre trabalho CLT, criação de conteúdo e outras atividades. “São pessoas que fazem tudo ao mesmo tempo e que precisam de uma comunicação que entenda essa realidade”, explica.
O marketing de influência se tornou um dos setores mais promissores da publicidade. Em 2023, esse mercado movimentou R$27 bilhões no Brasil, segundo a consultoria YOUPIX.
Para Kaique Andrade, 26, especialista em marketing de influência e morador do Capão Redondo, essa estratégia tem um impacto profundo na representatividade. “O marketing de influência permite que pessoas comuns se tornem vozes relevantes, criando uma nova cultura publicitária”, afirma.
Antes, a publicidade era dominada por grandes marcas e celebridades. Hoje, qualquer pessoa com um celular e uma boa história pode se tornar influenciadora. E, para Douglas, é essencial que a periferia faça parte desse movimento.
Mesmo tocando a Elo Negro sozinho, Douglas já conseguiu transformar sua agência em referência. Em 2024, esteve à frente de dois projetos que reforçam seu compromisso com a cultura periférica:
Lançamento da coleção Gênezes 7, do estilista Padduan (Seven Padman) – Douglas estruturou a estratégia de comunicação, captou recursos e produziu um desfile no Museu das Favelas, reunindo mais de 230 pessoas, o maior público do museu em um sábado.
Curadoria e produção do evento Vozes Diversas – Realizado também no Museu das Favelas, durante o Mês do Orgulho LGBTQIA+, esse evento foi o primeiro da agência a contar com um orçamento maior, permitindo a contratação de artistas e equipe técnica majoritariamente negros e LGBTQIA+.
Douglas sabe que ainda há um longo caminho pela frente, mas segue determinado a fortalecer a presença de influenciadores negros e periféricos no mercado. Seu trabalho vai muito além da publicidade: é sobre dar espaço, criar oportunidades e reescrever narrativas.
Porque quando um influenciador preto e periférico conquista seu lugar, ele abre caminho para muitos outros.