Em defesa das mulheres e contra a cultura do estupro no futebol brasileiro.
Zulu Araújo
Duas condenações (uma no Brasil e outra na Espanha), abalaram o futebol mundial. Daniel Alves e Robinho, astros da seleção brasileira foram condenados por estupro. Detalhe – ambos são negros e de origem pobre.
Estupro é um crime grave e merece a repulsa de todo e qualquer ser humano. Portanto, as condenações são mais que justas. São necessárias.
Mas, após as condenações, algo intrigante ocorreu no mundo futebolístico brasileiro – um silêncio ensurdecedor se abateu sobre o caso. Praticamente, nenhum ídolo do futebol, parça, dirigente, empresário, jornalista esportivo, nem muito menos qualquer programa de esportes que inundam as rádios, jornais e tevês brasileiras, falaram sobre o assunto. Todos calaram-se de forma quase obsequiosa.
Só uma mulher, a Presidente do Palmares, (Leila Pereira) ora chefiando (pela primeira vez) a delegação da seleção brasileira de futebol, no exterior teve a coragem de romper esse silêncio criminoso. E ela bradou: “É um tapa na cara de todas nós mulheres”. E cobrou publicamente o apoio e combate a cultura do estupro no futebol brasileiro.
“Sozinha não posso fazer nada”. Afirmou Leila Pereira.
Quem conhece um pouquinho de futebol e gosta do esporte, como eu, tem ouvido, nos bastidores, uma série de argumentos calhordas e cínicos de apoio aos estupradores, do tipo: elas são Marias chuteiras, oportunistas, garotas de programas em busca de dinheiro, etc.
E se forem? Isso dá direito aos jogadores de futebol de as estuprarem? É esse o jogo a ser jogado?
Esses argumentos, que possuem audiência no mundo do futebol, revelam que os dirigentes, particularmente da cúpula do futebol brasileiro precisam adotar urgentemente medidas de saneamento desse tipo de visão entre os jogadores, técnicos, etc. e promover a educação sexual nesse ambiente, desde a mais tenra idade.
Todos sabemos que o mundo do futebol, seja ele no Brasil ou no mundo, é bastante contaminado. Basta ver o que aconteceu recentemente com a FIFA, com vários dos seus dirigentes indo parar na cadeia. A corrupção e os mal feitos são endêmicos e isso termina por estimular a impunidade.
Mas, não é justo que sejam as mulheres a pagarem esse preço. Estupro é um crime hediondo em qualquer parte do planeta. Por que não o seria no mundo do futebol?
No caso do Brasil, o futebol tem sido, em muitos casos, a única saída e esperança para milhares de jovens pretos e pobres das periferias do nosso país, fugirem da pobreza e da miséria. Muitas famílias investem seus minguados recursos que um filho talentoso possa frequentar uma escolinha, ter o talento reconhecido e quem sabe, brilhar mundo afora, salvando todo o resto da família de um futuro tenebroso.
Sabemos também que por trás dos desejos desses jovens correm milhões de reais, dólares, euros e muita sacanagem.
Empresários inescrupulosos e/ou dirigentes de clubes espertos, fazem a festa e enchem seus bolsos, além de fecharem os olhos a todo tipo de assédio sexual a que muitos desses jovens praticam ou são submetidos
Portanto, não basta a condenação, prisão e execração pública. Até porque a responsabilidade por esses crimes é também dos dirigentes esportivos, dos empresários dos clubes, das federações e principalmente da Confederação Brasileira de Futebol que vem ignorando o assunto desde os tempos do técnico João Saldanha, que os denunciou a mais de 50 anos.
O combate a cultura do estupro tem que começar desde a escolinha de futebol, visto que há uma verdadeira cortina de silencio sustentando a impunidade desses criminosos nos clubes de futebol brasileiros. Isso precisa ser rompido. Precisa ser enfrentado.
Do contrário, em breve teremos uma legião de presidiários oriundos do futebol, além de jogar, literalmente pela janela, o futuro do mais popular esporte do país.
Toca a zabumba que a terra é nossa!