Empresário, negro e favelado. De milionário a presidiário num conflito com a PagSeguro
Uma reportagem publicada nesta manhã pelo jornal The Intercept conta a história de Fábio Souza Lima. O empresário, criado na favela dos Bancários, no Rio de Janeiro, fundou em 2017 a startup Tilix, que de acordo com a reportagem “foi criada para solucionar esse problema, sincronizando e rastreando caixas de e-mails, inclusive de diferentes pessoas da mesma família, por exemplo, buscando somente os boletos, e pagando automaticamente, por meio de um software chamado Billing Delivery”.
Para desenvolver seu tecnologia, Fábio se mudou para Goiânia e levou parte da família para trabalhar com ele. O empresário conseguiu montar sua empresa em pouco mais de um ano de processo e estava em busca de investidores, quando foi fez contato com a diretora geral do PayPal na época, Paula Paschoal, ela era responsável pela gestão dos negócios no Brasil, naquela época.
Em 2018, o Maurício Lopes Cruz, diretor de fusões e aquisições da UOL entrou em contato com Fábio Souza Lima a fim de falar sobre seu interesse na compra da Tilix. A reportagem aponta que “algum tempo depois, em setembro daquele ano, o empresário já tinha se encontrado com o CEO da PagSeguro, Ricardo Dutra, e até mesmo com o dono da Folha de S. Paulo, Luiz Frias, para discutir os termos da venda da startup”, diz o texto.
As negociações aconteceram em setembro e em dezembro de 2018, Fábio fechou contrato com a PagSeguro por R$ 15,8 milhões. O empresário explicou à repórter Júlia Dolce que com a aquisição da Tilix, “quem recebe pagamentos de clientes com a máquina de cartões da PagSeguro poderia usar esse dinheiro automaticamente para pagar contas, com um só clique”, cita um trecho da reportagem. Nas palavras de Fábio, “A PagSeguro ganharia muito dinheiro com isso, porque em vez de o cliente pagar as contas com cartão de crédito, paga direto lá dentro. O dinheiro circula dentro da plataforma”.
Em 2019, dez meses depois de fechar negócio com a PagSeguro, Fábio foi encontrado desacordado pela mãe. Ele havia tentado suicídio. O relatório escrito pela psiquiatra Grace Lopes e divulgado pela reportagem apontava que Lima tinha: “Episódios de intensa angústia, choro, diminuição do apetite, perda de energia e sentido de vida”.
O empresário afirma ter sofrido um calote milionário da PagSeguro e a disputa judicial que começou a partir dessa alegação levou a prisão de Fábio Souza Lima. De acordo com o texto: “No contrato, a Tilix foi vendida à PagSeguro por R$ 15.810.000. Deste valor, apenas R$ 10 mil foram pagos à vista. O restante seria depositado em parcelas variáveis a depender dos cumprimentos das metas da Tilix entre 2018 e 2021, o que é conhecido no mundo empresarial como earn-out. Os sócios da Tilix receberiam cerca de 93% do lucro que a tecnologia proporcionasse nesses três anos, e a maior parte iria para Fábio, que detinha 41% da startup na época da venda para a PagSeguro. Além do valor pago na aquisição, a PagSeguro também contratou o empresário como gestor da Tilix e injetou cerca de R$ 9 milhões na empresa.”
A demora da PagSeguro na implantação da tecnologia da Tilix, que levou mais de nove meses, congelou sua atuação e o lucro da empresa em 2019. Além disso, uma cláusula de exclusividade no contrato impedia a venda da tecnologia para outras empresas. A fintech alega que Fábio ofereceu um “sistema falho”.
Os conflitos judiais em torno do caso, levaram à acusações de coação, que fizeram do homem negro, nascido em Pojuca, interior da Bahia, criado na Favela dos Bancários, no Rio de Janeiro, que começou a trabalhar como cobrador de van aos 12 anos e chegou a vender sua tecnologia por um valor milionário a viver um pesadelo, sendo preso por quatro dias em uma cela superlotada no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros II, em São Paulo.
E agora, ele briga contra uma gigante para reaver seus direitos e sua dignidade. Confira os detalhes da reportagem no The Intercept.