Enquanto o Brasil avança em debates sobre equidade, jovens mulheres negras seguem enfrentando taxas alarmantes de desemprego (16%) e informalidade (mais de 40%), segundo dados da Rede MUDE com Elas. Esses números, que refletem séculos de exclusão estrutural, estarão no centro do 2º Encontro Nacional da Rede MultiAtores MUDE com Elas, realizado em 24 de julho no Museu da República, durante o Festival Latinidades. O evento contrasta com a realidade de um mercado que, mesmo com discursos de diversidade, ainda marginaliza essa população.
A iniciativa reúne poder público, empresas e movimentos sociais em painéis sobre políticas de cuidado, aprendizagem e justiça climática – temas urgentes para quem sofre dupla discriminação por gênero e raça. “Garantir trabalho digno exige escutar as jovens negras na construção das soluções”, defende Shirley Santos, do CEERT, em um recado claro às instituições que promovem inclusão de forma superficial, sem enfrentar as raízes do problema.
O encontro ocorre no mês do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, data que ressalta a resistência histórica contra a invisibilidade. Andréia Alves, do projeto MUDE com Elas, destaca o protagonismo das ativistas: “Elas não são vítimas a serem salvas, mas lideranças capazes de transformar realidades”. Essa abordagem desafia o assistencialismo ainda presente em políticas públicas e programas corporativos.
Organizações como Oxfam Brasil e Fundação Volkswagen participam da rede, mas o evento evita celebrar parcerias como conquistas isoladas. Angela Schwengber, da Terre des Hommes Alemanha, enfatiza: “Só a articulação multissetorial pode romper barreiras”. A crítica implícita é a projetos fragmentados que tratam a desigualdade como caso pontual, não como sistema a ser desmontado.
Enquanto empresas anunciam metas de diversidade, o encontro coloca no centro denúncias de violações trabalhistas e a necessidade de canais efetivos de reparação. A escolha de Brasília como sede não é casual: simboliza a pressão por mudanças legislativas e a cobrança por ações concretas do Estado – historicamente omisso na proteção dessa parcela da população.
Mais que um debate, o evento é um contraponto à lógica que reduz a inclusão a números ou meses temáticos. As intervenções artísticas programadas lembram que a luta por equidade não cabe em planilhas: é feita de corpos negros que insistem em ocupar espaços, reescrevendo narrativas ainda marcadas pelo silenciamento. Enquanto o mercado discute “capacitação”, essas mulheres exigem estruturas que as permitam existir plenamente – e não apenas sobreviver.