Enem 2022: tema da redação retrata realidade brasileira
O tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2022 foi “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”. Quase 3,4 milhões de candidatos estão inscritos para edição deste ano. Com questões sobre Amazônia e Estado de Direito, o primeiro dia de provas foi encerrado às 19h. A informação foi divulgada pelo ministro da Educação, Victor Godoy, às 13h49, por meio de uma publicação no Twitter. Os participantes também respondem hoje 90 perguntas das provas de Humanas e Linguagens.
Está é a primeira vez desde 2017 que o Enem usa a palavra “desafios” no tema. Naquele ano, o texto tratou de “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”.
Em 2021, o tema foi “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. A nota da redação tem grande peso no resultado final e, se não seguida algumas regras, os candidatos podem zerar no texto.
Em anos anteriores, a redação também abordou temas de abrangência nacional, como o estigma associado às doenças mentais, a democratização do acesso ao cinema e o controle de dados na internet.
No próximo domingo (20), os candidatos respondem perguntas de matemáticas e ciências da natureza.
Para Roberta Panza, professora e autora do Colégio e Sistema pH, o tema desta edição do Enem é “bem importante para o contexto” brasileiro. Segundo ela, o tema “dialoga muito com o eixo também de meio ambiente, porque fala da valorização das comunidades e dos povos tradicionais”. Ela pondera ainda que o assunto é bem relevante e universal e faz refletir sobre cultura e sociedade.
“Estamos falando de minorias sociais históricas, que são grupos que sofrem e sofreram opressão. São grupos importantíssimos para o país. Pensar os desafios desses grupos dentro do nosso país é uma questão super importante”, diz.
Na avaliação de Daniela Toffoli, coordenadora de Linguagens do Curso Anglo, esse tema “é a cara do Enem. “É um problema de ordem social que, portanto, vai levar o aluno a pensar em uma proposta de intervenção que valorize os direitos humanos e, em especial, os direitos humanos das comunidades e dos povos tradicionais do Brasil”, reflete.
Falta de representatividade política
A professora do Anglo pondera que, para dar encaminhamentos mais específicos quanto à argumentação, é preciso saber o perfil da coletânea para entender se o recorte é mais cultural ou diz respeito à questão da violência contra estes povos. No entanto, ela destaca que, o fato de o tema já dizer que existem desafios para que se valorize estas comunidades e povos tradicionais faz com que seja possível pensar em alguns pontos afins deste tema.
“Por exemplo, o passado histórico escravocrata em que os indígenas foram escravizados e essa mentalidade de que são povos inferiores, de que não foram inseridos na sociedade de forma adequada ainda predominam nos dias de hoje. Então, existe um certo preconceito”, ressalta.
Daniela cita ainda a falta de representatividade política desses grupos. “Tivemos campanhas, agora neste ano de eleição, muito fortes para que se aumentasse a representatividade política destes povos. A gente pode pensar na mentalidade de preconceitos que existem ainda em relação a estas comunidades, à cultura destes povos, e também, claro, não dá para ignorar o agronegócio que, a partir do momento em que se sobrepõe à preservação destes povos, faz com que sejam desvalorizados”, opina.
Manifestações culturais ancestrais
Maria Aparecida Custódio, professora do Laboratório de Redação do Objetivo, destaca que o tema fala de povos indígenas, mas também de outras comunidades que dificilmente são lembradas. “Como os ciganos, os extrativistas, os pescadores, os quilombolas, e tantas outras comunidades que têm um papel importantíssimo de proteção do território e da terra”, diz.
A observação da professora de redação da Plataforma AZ de Aprendizagem, Marina Rocha, vai na mesma linha. Ela ressalta que a proposta inclui povos cujas manifestações culturais brasileiras ancestrais não se organizam de acordo com a lógica urbana e possuem uma característica central que é a dependência dos recursos naturais para manter a sua cultura.
Fonte: G1