Entidades divulgam nota de repúdio contra ação da PM que matou três jovens negros na Gamboa, em Salvador
Caso aconteceu na madrugada de terça-feira (1), durante ação policial na comunidade localizada às margens da baía de Todos-os-Santos
Entidades e coletivos da Bahia divulgaram uma nota de repúdio contra ação da PM que matou três jovens negros na Gamboa, comunidade localizada às margens da baía de Todos-os-Santos, em Salvador.
O caso aconteceu durante a madrugada de terça-feira (1), durante uma ação policial. A PM alega que foi acionada depois de ter recebido uma denúncia de que homens armados estariam em um estabelecimento e que atiraram quando a polícia chegou ao local.
Os moradores negam a versão da PM, afirmando que a polícia atirou mesmo sem haver confronto. Os jovens Alexandre dos Santos, 20, Gleberson Guimarães, 22, e Patrick Sapucaia, 16, estavam em um bar na região e foram baleados pelos policiais.
Os policiais dizem que foram recebidos a tiros pelos três e que, depois de ter baleado os jovens, encontrou armas e drogas com eles. Versão refutada por familiares e vizinhos. Em matéria divulgada pelo UOL, pessoas próximas afirmaram que os jovens estavam bebendo quando bombas de gás lacrimogênio foram lançadas na direção deles, antes de serem abordados e levados para um imóvel abandonado onde foram baleados.
Ao invés de chamar apoio médico, os próprios policiais socorreram os jovens, levando-os para o Hospital Geral do Estado (HGE). Os moradores fizeram um protesto contra as mortes e a ação da polícia.
A nota, lançada pela Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador e outras entidades, denuncia a ação dos policiais na Gamboa e afirma que eles não agiram em legítima defesa, considerando os depoimentos de testemunhas da região.
“A violência policial permanece como prática corriqueira e naturalizada contra moradores da Gamboa de Baixo. Os depoimentos de testemunhas apontam que as mortes dos jovens não foram decorrentes de resistência e que não houve qualquer reação ou troca de tiros. A polícia não agiu em legítima defesa! Afirmamos que toda pessoa tem direito à vida, ao devido processo legal e a um julgamento imparcial, sendo inadmissíveis execuções arbitrárias como aconteceu.
Os corpos das vítimas foram removidos e o local das execuções foi alterado, impossibilitando, por óbvio, a apuração dos fatos. Além das execuções e tiros aleatórios foram atiradas bombas de gás na Comunidade, de cima da avenida Contorno. A operação não se funda em qualquer mandado de busca e apreensão, como determina a lei!”, dizia a nota.
As entidades também exigiram que os PMs envolvidos na ação sejam afastados e responsabilizados.
Confira a nota na íntegra:
“A Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador e entidades abaixo listadas denunciam a operação da polícia militar da Bahia na comunidade pesqueira da Gamboa de Baixo. Foram executados sumariamente pela polícia os jovens: Patrick Sapucaia, Alexandre Santos e Cleberson Guimarães.
A violência policial permanece como prática corriqueira e naturalizada contra moradores da Gamboa de Baixo. Os depoimentos de testemunhas apontam que as mortes dos jovens não foram decorrentes de resistência e que não houve qualquer reação ou troca de tiros. A polícia não agiu em legítima defesa! Afirmamos que toda pessoa tem direito à vida, ao devido processo legal e a um julgamento imparcial, sendo inadmissíveis execuções arbitrárias como aconteceu.
Os corpos das vítimas foram removidos e o local das execuções foi alterado, impossibilitando, por óbvio, a apuração dos fatos. Além das execuções e tiros aleatórios foram atiradas bombas de gás na Comunidade, de cima da avenida Contorno. A operação não se funda em qualquer mandado de busca e apreensão, como determina a lei!
A Polícia Militar da Bahia é considerada a mais letal do Nordeste e é líder em mortes por chacinas, segundo dados do relatório “A vida resiste: além dos dados da violência”, da Rede de Observatórios da Segurança. Esses números reforçam a política do estado de genocídio da população negra.
A Gamboa de Baixo é uma comunidade tradicional do início do século XX, autodeclarada comunidade pesqueira, classificada como Zona Especial de Interesse Social-ZEIS 5 na Lei Municipal no 9069/2016, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador. Os (as) moradores e moradoras da comunidade são sujeitos de direitos e merecem respeito!
Uma ação violenta e arbitrária como essa não pode ficar impune! Exigimos o afastamento e responsabilização dos envolvidos. Que o Estado investigue criteriosamente as execuções e todas as demais ilegalidades causadas por seus agentes de segurança contra a comunidade da Gamboa de Baixo nessa madrugada, respeitando o protagonismo das vítimas e seus familiares”.
Veja lista de entidades que assinaram a nota de repúdio:
- Artífices da Ladeira da Conceição da Praia
- Associação Amigos de Gegê dos Moradores da Gamboa de Baixo
- Centro Cultural Que Ladeira é Essa?
- Movimento Nosso Bairro é 2 de Julho
- Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB)
- Coletivo Vila Coração de Maria
- Grupo de Pesquisa Territorialidade, Direito e Insurgência (UEFS)
- Grupo Margear- Faculdade de Arquitetura da UFBA
- SAJU- Serviço de Apoio Jurídico da Faculdade de Direito da UFBA
- MLB
- Coletivo Resistência Preta
- Coletivo Trama
- Campanha Zeis Já
- Observatório da Mobilidade Urbana de Salvador
- Residência AU+E (FA-UFBA)
- Grupo de Pesquisa Ecologia Política, Desenvolvimento e Territorialidades (PPGTAS-UCSAL)
- Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU)
- Grupo de Pesquisa Territórios em Resistência (PPGTAS-UCSAL)
- Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM)
- Grupo de Pesquisa Lugar Comum (PPGAU-UFBA)
- IDEAS – Assessoria Popular
- CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
- GAMBÁ – Grupo Ambientalista da Bahia