ENTREVISTA COM JANETE PIETÁ – PARTE 1
Confira trechos da entrevista com a Deputada Federal Janete Pietá
TEXTO: Redação | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
Hoje, ela é a única deputada negra eleita pelo estado de São Paulo na Câmara Federal*. Em sua trajetória de vida, Janete Pietá atuou em movimentos sociais de defesa dos negros, das mulheres e lutou por moradia. Orgulha-se de ter sido uma das fundadoras do PT, e tem se tornado nos últimos anos uma referência na defesa de alguns dos temas mais polêmicos que passaram pela Câmara, como o Estatuto da Igualdade Racial, a PEC das Domésticas e cotas raciais. Nessa entrevista exclusiva, a deputada fala da infância, das lutas,das conquistas e do trabalho incansável como militante que exerce há décadas.
Trechos da entrevista com Janete Pietá:
Como foi a sua infância e a relação com a família?
Minha mãe era baiana e bordadeira. Faleceu de tuberculose, não pude conhecê-la, tinha apenas 4 meses. Sei que era uma negra linda e uma pessoa muito determinada, porque quando soube que estava com essa doença, me colocou em um carrinho junto com todos os meus brinquedos e me entregou para a minha mãe de criação, que era a sua sinhá. O meu pai biológico me rejeitou porque queria um filho homem.
Como foi o seu início na política?
O meu movimento na política se deu desde que eu tinha cinco anos. Eu morava em um bairro de Nova Iguaçu, e lá meus pais compraram um terreno na parte de cima, aonde a água do brejo não chegava. Não tinha ônibus, não tinha nada lá. A família do meu pai era composta de metalúrgicos, então nós fomos lutando para que o bairro melhorasse, me lembro que eles faziam reuniões com os vereadores da cidade, enquanto eu brincava. Tudo para trazer benefícios para a gente. Então eu digo que participo das lutas de movimento de bairro desde que eu era criança, mas claro que não de uma forma consciente. A família da minha mãe não era muito ligada às tradições rurais, mas meu pai trabalhou na roça e foi para o Rio de Janeiro para estudar no SENAI. Quando eu cresci, comecei a participar de movimentos de igreja baseados na teologia da libertação. Nós lutávamos por um cristo que vivia integrado naquela luta por melhores condições de vida.
Então a fé te levou à política?
Fiz parte de um grupo ligado a uma congregação belga e estudei em colégio de irmãs. Naquela época nem todo mundo estudava, e eu sempre pedia aos meus pais para ir à escola. Eu fui alfabetizada por uma negra, aquela do tipo “Amélia”, bem grandona. E eu sempre criava problema, era muito arteira, mas meu maior sonho era ler e escrever.
Em que momento se deu seu encontro com o Partido dos Trabalhadores?
Conheci o Lula quando eu era professora de história e resolvi mudar para a área técnica. Então comecei a participar do movimento sindical e integrava a chapa de oposição, até a construção da CUT. Foram muitas lutas e participações. Fui presidente do PT, fui do executivo ao estadual, participei da campanha das diretas mobilizando e organizando o partido. Em 2000, o Elói, meu companheiro, já era deputado estadual, e em 1982 eu fui candidata para o mesmo cargo. Na época recebi cerca de 15 mil votos, fui a 19° suplente.
Leia a segunda parte da entrevista.
*Janete Pietá não conseguiu ser reeleita nas eleições de 2014
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