Entrevista exclusiva com Kekel

Nascido no bairro de Guaianases, no extremo leste de São Paulo,Keldson William da Silva, ou Kekel, como é conhecido é símbolo de luta e vitória!

Kekel ingressou como cantor de funk paulista em 2012 e ficou conhecido nacionalmente em 2016 com o lançamento da canção “Quer andar de meiota?.” Kekel faz sucesso e arrasta multidões por onde passa.

Conheça mais sobre este menino de ouro nas páginas da RAÇA.

RAÇA – Quem é o Kekel e como a música entrou na sua vida?

Kekel – O Keldson William da Silva é filho da dona Fátima Conceição da Silva. Isso diz muito sobre mim. A música entrou na minha vida por meio da minha família, que tinha um grupo de rap. Minha prima fazia parte do grupo Sombras MCs, com eles aconteceu meu primeiro contato com essa arte. Tudo começou como brincadeira, mais por diversão. Comecei a levar a sério após o falecimento da minha mãe. Foi meu ponto de refúgio e dali em diante não parei mais.
Em 2012 eu já cantava como Mc Kekel profissionalmente. A música veio como calmaria no meu coração, aliviou a dor da perda de minha mãe, eu só tinha 16 anos, e resolvi me entregar à música.

RAÇA – Você é do extremo leste de SP, de Guaianases. O que você leva das suas raízes na sua vida pessoal e profissional? Como reflete nas músicas?
Kekel – A originalidade de onde eu vim, essa parada de ser como você é, não ter vergonha de onde você saiu. Trazer esse Keldson que todo mundo conhece, de zoeira, felicidade, de dançar, tudo
é de Guaianases. Eu trago da minha quebrada a pessoa que eu sou. O que eu sou na frente das câmeras eu sou atrás das câmeras. Guaianases me trouxe isso de ser realista em qualquer lugar da sua vida. Me ensinou a ser forte, minha quebrada me ensinou a ser feliz com o pouco.


RAÇA – Você está voltando de uma turnê. Como foi a experiência?
Kekel – Já é a quinta ou sexta vez que eu faço turnê pela Europa, em Portugal então nem digo. Todas as vezes que eu vou para lá é uma energia diferente, uma energia maravilhosa. O público de lá abraça o funk de uma forma única. Parece as vezes que lá fora é mais forte do que aqui, mesmo não sendo. E eu, sendo da zona leste, pegar um avião, fazer uma viagem internacional, sentir aquele prazer de estar pisando em outro país, outro lugar no mundo e ver a recepção deles, não tem preço nem dinheiro que pague.

RAÇA – Se você fosse definir o Kekel de hoje, como seria?
Kekel – Me definiria como um superpai. Porque eu trato minha irmã como se fosse minha filha, trato meu irmão como se fosse meu filho, trato meu
tio, a quem chamo de pai, como se fosse
meu filho. Trato minha família inteira como se
fosse meu filho. Então eu me definiria como
um superpai, por que eu não olho para minha família com olhares diferentes. Eu olho todos como iguais. Até meus amigos eu olho como se fossem meus filhos. Eu pego o problema daquela pessoa e coloco como se fosse meu e ajudo a solucionar. Então eu me olho como um superpai, um grande profissional naquilo que eu faço hoje no funk. Então eu pego tudo isso, essa é uma fase nova que estou vivendo.

RAÇA – Como você se sente sendo referência para os jovens negros, principalmente da periferia?
Kekel – Eu me sinto carregando uma voz e um fardo de representatividade. No nosso mundo negro a responsabilidade de ser de quebrada, da favela, por ter vindo de um bairro pobre, por ser negro e ter uma grande representatividade e uma grande voz que a internet deu para a gente, principalmente para o MC Kekel. Eu tento ser exemplo de todas as formas, tento também dar informação, que eu acho que a gente ainda é um pouco carente de informação, e eu quero ser o maior exemplo para todos. Eu acredito que o funk não é só cantar. Também é se posicionar e saber de onde você veio e ajudar também quem está lá, para poder chegar até onde você está.


RAÇA – Você estourou em 2016 na internet, principalmente no Youtube. Como isso te ajudou na carreira e qual a importância das redes para você?
Kekel – A internet na minha carreira foi fundamental, o tal compartilha e marque seus amigos funcionou muito. Nem existia o arrasta para cima, nem o stories, peguei a fase do Youtube,
que só tinha o Mc Guimê com 60 milhões de visualizações. Eu estava ali e vieram os meninos da G6 e todo mundo ali batendo 20, 30 milhões. Eu peguei a fase que o canal da Kondzilla estava começando a ser bem assistido, porque os clipes eram de uma outra forma. Muita ostentação, os carros que a gente falava tinham nos clipes. Eu estourei com uma música simples, um clipe simples que bateu na época 30 milhões, que é a famosa Meiota. Gravei a primeira música no canal da Kondzilla, Partiu, que hoje tem por volta de 200, 300 milhões de views. Naquela época o povo seguia a música, nem sabiam quem era o cantor. Por mais que tivesse muito acesso no Youtube, o povo seguia a música. Na verdade, eu peguei segui a “bíblia” que o Mc Guimê e outros Mcs estavam escrevendo. Sabia na hora que a parada estava para explodir.

RAÇA – Você tem duas filhas. Qual o legado que você quer deixar para elas?
Kekel – Aprendi com a minha mãe que não adianta deixar dinheiro, casa, carro, uma vida estável, se você não deixa educação, ensinamentos. A primeira coisa que é primordial que eu quero ensinar para a minha filha é: aprender a viver a sua própria realidade. Não enfeitar a vida para fazer proposta para ninguém. Então por elas serem minhas filhas, tenho que ser muito forte para conseguir posicioná-las. Eu nasci sem nada, sem ser herdeiro de nada e quero que cada uma siga seu sonho, não quero atrapalhar o crescimento, mas quero deixar elas crescerem em Guaianases, que é onde eu estou, onde eu moro. Quero que elas aprendam que para chegar no topo você não precisa se afastar das pessoas que estão perto. Você precisa se afastar do pensamento ruim. O que te faz crescer na vida não é com quem você anda. O que te faz crescer na vida é quanto você pensa para si e para a sua melhoria. É isso que eu quero passar para as minhas filhas. Isso que aprendi sozinho, não tive professor.


RAÇA – A RAÇA tem um foco principal na questão racial. Há racismo no meio da música?
Kekel – Nosso país continua sendo preconceituoso, ainda há muito preconceito, julgamento e na música não é diferente, sempre tem a famosa panelinha. Acredito que, em diversos aspectos, ainda há preconceito em todos os lugares.


RAÇA – Deixe uma mensagem para os leitores da RAÇA que estão entrando no meio musical.
Kekel – Para a galera que está entrando no meio musical, acho que não é conselho, porque acredito que conselho hoje é falho, todo mundo dá conselho, mas ninguém segue nada. A melhor frase que existe é você acreditar em si mesmo. Ouvi isso a minha vida inteira, porque a música só é boa no momento que ela estoura. Fora isso ela é ruim. Então o seu talento só é enxergado a partir do momento que você mostra ele. Fora isso ele é só teu, e só você sabe. Então, se todo mundo pudesse fazer isso aqui, a receita é trabalhe, divulgue, lute, acredite no seu sonho. Promessa que todo mundo faz, falar que vai ajudar todo mundo fala. Acreditar em si mesmo, se priorizar no seu próprio sonho, porque as vezes tem pessoas que param o próprio sonho para fazer o sonho de outras pessoas que é quase igual o seu, e essa pessoa não te ajuda depois. Então meu maior conselho é construa seu próprio sonho, não tenha medo, acredite em si mesmo.


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