ESPECIAL SOBRE A CRACOLÂNDIA – PARTE 3

Leia o trecho final da matéria especial sobre a cracolândia

 

TEXTO: Renato Bazan | FOTOS: Marcelo Camargo-Agência Brasil/Shutterstock | Adaptação web: David Pereira

Estima-se que há 400 mil viciados em crack somente no estado de São Paulo | FOTO: Marcelo Camargo-Agência Brasil/Shutterstock

Estima-se que há 400 mil viciados em crack somente no estado de São Paulo | FOTO: Marcelo Camargo-Agência Brasil/Shutterstock

Confiras as primeiras partes da matéria (Parte 1, Parte 2)

Dentre todas as iniciativas contra o crack que acontecem hoje no Brasil, vale a pena destacar a percepção do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Falando ao jornalista Bruno Torturra, o político comentou o que acredita ser a dupla face da desumanização do usuário do crack: “No tratamento do viciado, o tutor é tão deletério quanto o repressor. Nos dois casos, há uma visão daquelas pessoas como objetos de política pública, e não como sujeitos da própria superação”, explicou, e disparou: “Há um ponto de tangência entre a visão sanitarista e a higienista. A sanitarista trata quem usa o crack como paciente, que deve ser cuidado pelo médico. A higienista o trata como impaciente, a ser tratado pela segurança pública”. Foi no espírito de combate a esse dupla emboscada que Haddad criou seu programa “Braços Abertos”, que emprega os usuários tratados da cracolândia como varredores de rua, oferecendo uma rota de saída para o círculo vicioso do crack. O balanço inicial é animador: em apenas um mês, a prefeitura já registrava uma redução de 70% na circulação de viciados no bairro da Luz. “Por lá, circulavam cerca de mil pessoas. Agora, circulam cerca de 300”, disse o prefeito.

A ação acompanha outras ações de promoção cultural e urbanística que visam combater o estigma da região da cracolândia da maior cidade do país. Ao mesmo tempo em que emprega os dependentes químicos da região como garis, o prefeito inaugurou novas praças, aumentando a demanda de profissionais da limpeza. Também há ações para integrar os viciados na vida cultural da cidade vão longe: em quadras poliesportivas e academia ao ar livre no Largo Coração de Jesus, um torneio de futebol entre usuários de crack e imigrantes haitianos inaugurou a nova pegada da prefeitura, que também montou um palco de dança durante a Virada Cultural para os usuários da droga e guarneceu na região policiais com formação suplementar em policiamento comunitário. “O treinamento reforça a aproximação da polícia com a população, com os PMs, conhecendo, por exemplo, o nome dos moradores e comerciantes. Isso facilita a identificação e a prisão de traficantes que atuam na região”, explicou ao Diário do Grande ABC o overnador Geraldo Alckmin, que coopera com os esforços de Haddad na região.

Tudo considerado, o progresso nas estatísticas do uso de crack na região da Luz é pequeno, frente à expansão da droga pelo Brasil, mas significativo: era ali, há 20 anos, que começava o reino dessa obsessão terrível, e dali deve vir também sua derrota. Seria ingênuo não perceber que esse novo momento no combate ao crack vem associado, em grande parte, à especulação imobiliária que se apodera da região central de São Paulo, e que os vários interesses em jogo não permitem mais a aglomeração de viciados numa região a ser explorada economicamente. Isso, contudo, não desqualifica os avanços no tratamento da dependência química empenhados pelo poder público: se o modelo de São Paulo tiver sucesso e for adotado por outros governos pelo Brasil, a concessão de alguns espaços ao setor privado terá sido um preço baixíssimo a pagar pela recuperação de milhares de viciados pelo país. Basta investir em cidadania.
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