Estilistas pretos brilham com moda autoral
Evento destacou diversidade e criatividade em coleções que exaltam identidade e raízes culturais.
A 55ª edição da Casa de Criadores, encerrada na última terça-feira (10), reafirmou seu papel como maior vitrine da moda autoral no Brasil. Durante os seis dias de evento, o Viaduto do Chá, em São Paulo, foi palco de desfiles que celebraram a inovação, representatividade e autenticidade, com destaque especial para estilistas pretos que transformaram a passarela em um espaço de expressão cultural e resistência.
Mônica Barboza, com sua marca RIDDIM, abriu a edição com uma coleção que entrelaça referências da negritude global e reflexões sobre pertencimento. Peças fluidas e texturas marcantes dialogaram com a música e o street style, consolidando a identidade ativista da marca.
O Studio Ellias Kaleb, comandado por Ellias Kaleb, explorou a liberdade criativa e a irreverência com trabalhos manuais que mesclam texturas, formas inovadoras e um convite à desconstrução. A performance do desfile, que incluiu a distribuição de frutas ao público, reforçou o apelo sensorial e inclusivo da apresentação.
Sandro Freitas, à frente da Berimbau Brasil, emocionou com a coleção Raízes, um tributo às conexões afro-brasileiras e afro-indígenas do Maranhão. Combinando moda e manifesto, as peças exaltaram a herança cultural com tons terrosos, tecidos naturais e acessórios luxuosos criados em colaboração com marcas parceiras como Jazz NGZ e Luciano Pinheiro Design.
A marca Afroperifa, de Will da Afro, levou ao evento a coleção União e Firmeza Permanente, inspirada nos Queixadas, operários que lideraram uma greve histórica na década de 1960. Elementos industriais e urbanos se misturaram em peças sustentáveis, criando um diálogo visual que homenageia a história da periferia brasileira.
A coleção Perfídia, da estilista Silla Filgueira, traduziu a poesia e o sentimento da música homônima do Trio Irakitan em peças sofisticadas e carregadas de emoção. Já Letícia Cortes, da marca VOLAT, trouxe a coleção Bateia, inspirada no garimpo do Vale do Jequitinhonha, transformando o cotidiano em poesia e valorizando a riqueza cultural da região.
Com apresentações impactantes, os estilistas pretos reafirmaram a potência de suas narrativas e consolidaram a Casa de Criadores como um espaço essencial para a visibilidade e valorização da diversidade na moda brasileira.
Texto: Fernando Costa