Evento da Consciência Negra traz o protagonismo do movimento negro na história do Brasil

As lutas do movimento negro na história do Brasil foram questões centrais da II Expo Internacional da Consciência Negra promovida pela Prefeitura de São Paulo e aberta ao público de 18 a 20 de novembro passado, no Expo Center Norte.

Este foi mais um importante passo na estratégia da política pública “São Paulo, Farol de Combate ao Racismo Estrutural”, lançada em 2021, em uma parceria da Secretaria Municipal de Relações Internacionais e da Secretaria Municipal de Educação (SME).

A política pública visa combater o racismo estrutural na sociedade a partir da educação, incidindo na formação das próximas gerações.

“Reunimos nesta Expo autores e pensadores que resgatam a história não contada nas nossas escolas; ao mesmo tempo, artistas com extraordinária força para comunicar uma mensagem antirracista que reverbere muito além deste momento e deste espaço. O que queremos é uma São Paulo que diga não ao racismo e lidere um movimento maior no país e para outras nações”, afirmou a secretária municipal de Relações Internacionais, Marta Suplicy, idealizadora da política pública, ao falar com a revista Raça, durante o evento.

“Só vamos conseguir combater o racismo estrutural com o esforço conjunto de toda a sociedade, dia após dia”, afirmou o prefeito Ricardo Nunes. “Parabenizo todos os dirigentes e servidores da Prefeitura que contribuíram para a realização da II Expo da Consciência Negra e implementando ações e políticas públicas para criarmos uma sociedade cada vez mais justa e livre de preconceitos”, concluiu.

ORGANIZADORA

Elaine Gomes de Lima, organizadora da Expo, por meio da SMRI, disse que “ser negro, no Brasil, é algo extremamente particular, cada um tendo as suas vivências e percepções”. Para ela, “o autoconhecimento da negritude tem implicações sem volta no intelecto de uma pessoa negra e a militância requer força e coragem de se reestruturar diariamente”.

“Ninguém nasce racista, mas torna-se. Falar sobre isso, principalmente na infância, é essencial para que as crianças entendam o seu lugar na sociedade, como antirracistas e empoderadas da própria cultura”, ressaltou Elaine Gomes.

CURADOR

Tom Farias, curador desta edição, considera a II Expo Internacional da Consciência Negra um passo importante a ser dado para o combate orgânico do racismo na cidade de São Paulo, o que, pela sua estratégica posição social e econômica no contexto nacional, serve de exemplo a ser seguido para todo o Brasil.

Além do mais, de acordo com o curador, “a II Expo provocou uma reflexão substancialmente forte para os dias tumultuados em que vivemos: exige um posicionamento firme de todos em prol do fim do racismo, sobretudo na estrutura do mundo corporativo, cultural e educacional”.

Farias salientou que o Dia da Consciência Negra, criado na cidade de São Paulo há 18 anos, pela Lei Municipal 13.707, de 7/1/2004, sancionada pela então prefeita Marta Suplicy, a partir de projeto dos vereadores Claudete Alves e Ítalo Cardoso, impulsionou a criação da data em outros municípios do estado. Hoje, mais de mil cidades brasileiras, além de estados como Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro celebram o Dia da Consciência Negra, data da morte de Zumbi dos Palmares, marco da luta do povo negro.

Cultura, Educação e Justiça compõem os eixos das exposições

A partir de três eixos: Cultura, Educação e Justiça, a segunda edição da Expo da Consciência Negra, evento que os organizadores visam que entre para o calendário oficial da cidade, proporcionou aos visitantes uma imersão em lutas do movimento negro no Brasil e provocou reflexões quanto às raízes do racismo, além de difundir a cultura negra e reafirmar a capital paulista como indutora do debate e das ações para promoção da igualdade racial no país e na América Latina.

A programação gratuita e inclusiva teve preocupações em oferecer desde a acessibilidade para pessoas com deficiência á tradução em librar para quem acompanhou os painéis com palestrantes nacionais e estrangeiros. Também houve transmissão ao vivo do evento, por meio de parceria da São Paulo Turismo (SPTuris) com o Portal Terra.

Para a chegada ao evento, o público contou com transporte gratuito (traslado), saindo das estações do metrô Barra Funda e Tietê para o Expo Center Norte. 

Os visitantes puderam ter acesso a 74 estandes comerciais e 26 estandes institucionais, na área expositiva. Crianças puderam brincar no espaço infantil denominado “Erê”. Espaços “Cultura”, “Educação” e “Comunidade” e uma ampla praça de alimentação com comidas referenciadas da tradição de matriz africana integraram os 13 mil m² do Expo Center Norte.

CULTURA E EDUCAÇÃO

O Espaço Cultura celebrou a identidade negra, expondo seus signos, atos icônicos, religiões, gastronomia e expressões artísticas, com o objetivo de reconhecer e inspirar novas ideias e possibilidades igualitárias.

Já o Espaço Educação apresentou as produções, invenções e descobertas do povo negro e suas contribuições para a sociedade. Uma contação de histórias africanas e afro-diaspóricas para crianças, rodas de conversas e jogos típicos africanos foram algumas das atividades. A proposta foi mostrar que é possível educar de forma inclusiva e antirracista.

De acordo com o secretário municipal de Educação de São Paulo, Fernando Padula, as ações da Pasta visam garantir que alunos da rede municipal tenham direito a uma educação de qualidade e livre de racismo. Ele pontuou: “adquirimos 174 títulos de livros sobre a cultura africana e afro-brasileira para as bibliotecas e escolas municipais”.

COMUNIDADE E ERÊ

O Espaço Comunidade, por sua vez, trouxe reflexões sobre moda, saúde, música, entre outros temas, enaltecendo a comunidade preta, falando sobre o protagonismo negro e conscientizando seus visitantes sobre igualdade racial, respeito e justiça.

Destinado às crianças, o Espaço Erê promoveu uma programação especial para os jovens, com educação lúdica, espaço tátil e diverso, contações de histórias africanas, apresentação circense, entre outras atividades.

Todos esses espaços tiveram cenografia personalizada, inspirada nas matrizes sociais e culturais africanas e afro-brasileiras.

Além disso, foram apresentados 11 painéis com personalidades e autoridades nacionais e internacionais que discutiram temáticas negras, diversidade, igualdade racial, sociedade, cultura e economia.

Para Tom Farias, curador da Expo, os painéis discutiram temas cruciais sobre o processo de constituição do racismo no estado brasileiro, o papel da abolição da escravatura para a população negra com reflexões sobre que rumo tomar a partir de suas causas e efeitos.

As Mesas da Expo

“SENTIDOS DE LIBERDADE: INDEPENDÊNCIA, ABOLIÇÃO, QUILOMBISMO”

Flávio Gomes, historiador (RJ); Lília Schwarcz, historiadora (SP); Tom Farias, mediador (SP). Sinopse: Tripé do fundamento da sociedade brasileira: sentido da independência entre nós, a abolição brasileira e o movimento de aquilombamento, suas imbricações na sua estrutura social, política e econômica do país.

“ESCRITA NEGRA E VIDA: QUE JOELHO É ESTE QUE TANTO AS SUFOCA?”

Cuti, poeta e ensaísta (SP); Míriam Alves, poeta e romancista (Maricá-RJ); Tom Farias, escritor (SP). Sinopse: O apagamento de escritores negros e negras, como o de Machado de Assis, Luiz Gama e Maria Firmina dos Reis: o racismo na literatura provoca o sufocamento da produção literária e inibe o surgimento de novas gerações?

“BIOGRAFIAS NEGRAS: OS RETRATOS DO BRASIL”

Bianca Santana, biógrafa (SP); Jeruse Romão, biógrafa (SC); Oswaldo Faustino, mediador (SP). Sinopse: Um outro Brasil visto pelas lentes de pesquisadores e historiadores negros: como a vida de homens e mulheres negros impactaram na história do brasileiro contemporâneo.

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