Exposição online e gamificada conta a história de penteados e adornos ancestrais

Por Isadora Santos

Ambiente do game

Criada pela artista ILLI, a exposição online permite que os espectadores interajam com as obras enquanto conhecem a história dos penteados de diferentes etnias africanas

Exaltar a estética negra tem sido uma das principais missões da Revista Raça. Nos últimos anos, pessoas de sucesso compartilharam suas histórias e suas imagens conosco, mostrando o quanto existe diversidade na cultura negra e as heranças que trazemos de nossos ancestrais. 

Quando falamos especificamente sobre cabelos, vamos nos dando conta das semelhanças entre os penteados afro feito por nossas avós, mães, tias e por muitas trancistas negras que, de geração em geração, transmitem os conhecimentos sobre os cuidados com os cabelos crespos e sobre penteados que podemos comparar com aqueles característicos das diferentes etnias africanas.

Através da exposição “Negras Cabeças”, a artista ILLI “têm como propósito estabelecer uma conexão visual-ancestral, partindo de referências e registros históricos de mulheres pertencentes a grupos étnicos que utilizavam penteados e adornos de cabeça como artifício de linguagem para expressar aspectos pertinentes à sua cultura”.   

A exposição criada pela artista visual estreou no dia 25 de julho, em celebração ao Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Realizada totalmente online, ela traz a gameficação como ferramenta de interação dos visitantes com as obras desenvolvidas por ILLI. 

ILLI, artista criadora do projeto

“A ideia do game, essa experimentação de você colocar o espectador também como partícipe e como responsável pela formação do conceito geral do projeto era coisa que sempre me fascinava e casou de nesse período eu estar estudando, fazendo essa especialização entre as mídias, então assim o projeto é dividido em três etapas que eu não tive recursos suficiente para fazer tudo e é especificamente nessa primeira a gamificação, mas em algum momento “spoiler” a gente vai ter alguma coisa mais direcionada a panorama, a imersão física, porque era uma coisa que eu não poderia fazer agora por conta do cenário de pandemia” 

A exposição apresenta pinturas de mulheres das etnias Betsimisaraka, Mangbetu, Suri, Mursi, Mwila, Mbalantu, Fulani e Himba. A artista reforça que a exposição celebra essas etnias “É um olhar para a ancestralidade. Uma reverência às linguagens e tecnologias utilizadas por esses grupos para codificar mensagens através dos penteados, dos adornos, a fim de comunicar status e situações de interesse daqueles grupos, tendo se constituído com traços culturais definidores ao longo do tempo. Não à toa a cabeça é usada como suporte dessa conexão. A materialidade resultante concentra uma intersecção entre comunicação e arte, que podem ser lidos em duas instâncias: pela forma, expressão estética, e pelo conteúdo, expressão linguística. Há um princípio nesses grupos em se fazer entender pelo que se vê e como se vê. A exposição é uma celebração dessas etnias”, explica.

Sobre a escolha das etnias retratadas na exposição Negras Cabeças, ILLI explica, “Meu grande desafio foi reduzir esse universo por uma questão simplesmente de ordem, por conta do recurso que eu tive, que foi um incentivo da lei que não cobria dentro da proposta de fazer a minha exposição, eu não teria como articular todas aqui, eu me interessei por todas as que eu descobri, então no primeiro momento eu cheguei com mais ou menos 15 e fui afunilando com alguns critérios que estabeleci, mas o filtro principal para chegar nessas oito obras, que era o que eu podia fazer considerando a forma da experiência de imersão que eu queria proporcionar para o público, eu precisava chegar ao número de 8 e o critério definidor foi que elas, para quem não teve o embasamento que eu tive através da minha pesquisa, que aquilo visualmente já fosse de imediato na questão das diferenças estéticas, de como esteticamente elas se diferenciam, apesar de estarem falando sobre coisas muito similares, status social, passagem, possivelmente algum momento religioso, alguns códigos sociais. Então, assim, falar das mesmas coisas para grupos étnicos diferentes, que se expressam de formas estéticas diferentes, então eu finalizei com essas oito com coração apertado, porque eu queria mesmo era pelo menos fazer as 15, mas de uma maneira que as pessoas ao sair de uma sala para outra, de um espaço para outro, entendessem o que mudou, porque eu tenho etnias que são muito parecidas esteticamente, inclusive tem muita confusão na internet colocando gente de uma etnia em outro etnia por conta de algumas similaridades”, conta.

Sobre o público da mostra, a artista deixa seu recado: “Meu público, prioritário, assim em tudo que eu fizer sempre vão ser as mulheres e as mulheres negras, mas não é um trabalho exclusivo, é inclusivo. Então, assim, isso não quer dizer que só as mulheres vão acessar, quer dizer que essas mulheres que por muitos e muitos anos foram abdicadas do direito de se reconhecerem em plataformas, espaços e situações que elevassem a sua autoestima no sentido de uma identificação positiva, dessa representação associada a algo que é valorizado, que é tido como bonito, que é tido como especial, enfim, que isso não era acessado por elas e que elas possam experimentar entrando em contato com meu trabalho.

Por conta do sucesso da exposição, ela deve continuar em cartaz ainda em 2022: http://www.negrascabecas.art 

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