Fazenda Coutos é o bairro mais negro de Salvador; Liberdade fica em 54º lugar

Dentro do contingente de 24 mil habitantes do bairro, os negros são 90,57% da população local. Por isso, hoje, Fazenda Coutos pode ostentar o título de bairro mais negro de Salvador

“Pode olhar, quem tem a pele clarinha é de fora!”. Parece extremista, mas se você olhar mesmo pelas ruas do bairro de Fazenda Coutos, vai ver que a feirante Maria Cremilda dos Santos, 32 anos, não está enganada. Encontrar a tal “pele clarinha” é difícil. “Tenha certeza de uma coisa: meu bairro é negro e eu também”, disse, orgulhosa.

Maria Cremilda está entre os 21.967 moradores de Fazenda Coutos que se definem como negros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dentro do contingente de 24 mil habitantes do bairro, os negros (tecnicamente definidos pela soma dos que se declararam ao IBGE como pretos ou pardos no Censo de 2010) são 90,57% da população  local. Por isso, hoje, Fazenda Coutos pode ostentar o título de bairro mais negro de Salvador — atrás somente de Ilha de Maré, com 92,99% de negros entre os 4.236 habitantes.

É, esqueça a Liberdade… O bairro que, por muito tempo, foi considerado o mais negro da cidade – e, diziam alguns, até da América Latina – ocupa a 54ª posição, em números relativos ao tamanho da população: 85,41%.  Se considerarmos apenas os números absolutos, vá lá… A Liberdade fica em 10º lugar, com 35.704 negros. Mas, seguindo essa lógica, Pernambués tem o maior número de negros – são mais de 53 mil. No entanto, eles representam 82,45% da população de 64.983 habitantes.

“Raça e cor têm a ver com quanto a comunidade se identifica. Bairros como a Liberdade podem ter representação sobre identidade negra mais evidenciada, mas bairros com mais pessoas com pele preta ou parda não são esses de referência”, diz o coordenador de disseminação de informações do IBGE, Joilson Rodrigues.

Fazenda Coutos pode não ter a tradição de resistência negra, mas, para a doméstica Telma Regina, 42, que mora lá há 30 anos, não há como negar a realidade local. “Aqui, não tem pessoas ‘parmalat’, de pele branca, cabelo liso e olhos claros. Se tiver, são só gatos pingados”, brincou. “O bom é que todo mundo é igual e ninguém trata ninguém com indiferença”.

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