Fazendo história

Por: Márcio Barbosa

‘Escrever para a revista Raça tem sido um prazer e um privilégio.’

Pode-se dizer que conheci a revista Raça antes de seu nascimento. Cresci no mesmo bairro periférico de um dos seus criadores e primeiros editores, Fran Oliveira. Antes do lançamento da revista tive a oportunidade de ouvir o Fran falar sobre a necessidade de termos um veículo de mídia que trouxesse informações sobre a gente, informações que a grande mídia não trazia. Acho que ainda hoje isso é uma necessidade.

O lançamento da Raça causou um barulho bom e a revista recebeu a atenção merecida. Meses antes de o primeiro número da revista vir à luz, o coletivo do qual participo, o Quilombhoje, publicou um livro que trazia na capa a foto de um casal de negros. Uma foto assim era uma novidade naquela época. Mas aí veio a Raça como uma tempestade e inundou nossos olhos e nossa sensibilidade com imagens maravilhosas de pretos e pretas em suas páginas, algo que passou a alimentar nosso imaginário com nutrientes de beleza, autoestima e muita informação.

É impressionante a capacidade que a revista tem de se atualizar. A Raça está viva no mundo digital, mas a revista impressa ainda seduz. Talvez porque seja um objeto que podemos folhear e isso nos lembre que há pessoas reais fazendo aquilo, que aquilo é produto de suores, sorrisos e lágrimas de gente dedicada. Sim, a revista também pode ser lida numa tela, num computador, num celular. Mas, como os livros, a revista impressa tem essa magia de poder ser guardada, às vezes emprestada (aliás, se for emprestar, é melhor esquecer e considerar que foi dada, afinal, amar é também deixar ir, e quem sabe, a revista vai fazer outra pessoa mais feliz).

Nos primeiros anos da revista, escrevi textos para alguns números, a convite do editor Fran Oliveira. Tive inclusive a oportunidade, por iniciativa do próprio editor, de escrever um texto sobre Carolina de Jesus, numa época em que pouco se falava dessa autora, e pude levar a alguns leitorxs, que talvez não a conhecessem, sua impactante história. Depois, ao longo dos anos, acompanhei de longe o crescimento da revista, até ser convocado pelo Mauricio Pestana para escrever sobre livros. Aceitei com alegria. Poder falar de livros numa revista como a Raça é ótimo. A literatura afro-brasileira precisa da leitura do nosso povo e nosso povo precisa de literatura afro, embora muitas vezes não saiba. É fundamental a Raça ter esse espaço para dar indicações da crescente produção literária negra.

A Raça vai fazendo história. Mostra artistas, musicistas, modelos, empresários, militantes, gente comum, gente diversa. Sabemos a dificuldade de dar continuidade a um projeto como esse. Por isso, cada número deve ser celebrado. Eu particularmente vibro quando vejo cada nova capa e procuro espalhar a novidade, afinal a Raça é como um espelho, um campo semeado com esperanças, um abraço de quem a gente gosta. 26 anos! Como diria o poeta: o grande desafio é não parar.

Vida longa à Raça!

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