Em meio à comemoração de seu aniversário de 34 anos, o cantor e compositor Filipe Escandurras precisou interromper a alegria para lidar, mais uma vez, com a dor do racismo. Em um desabafo sincero nas redes sociais, ele compartilhou um episódio que, infelizmente, reflete o que muitas pessoas negras vivem todos os dias no Brasil.
Enquanto dirigia uma Land Rover, o artista foi abordado por um homem que, sem hesitar, questionou:
“De quem é o carro?”
A pergunta carregava o peso do preconceito.
Como se fosse improvável que aquele carro pertencesse a um homem negro. Como se ele não tivesse o direito de ocupar aquele espaço.
“É meu!”, respondeu Escandurras, visivelmente abalado. “O cara me perguntou para quem eu estava dirigindo, só porque estou numa Land Rover. É triste. É fda essa prra.”
O cantor não escondeu a revolta e, principalmente, o cansaço.
“Eu sofro essa parada aí todos os dias. Sem descanso. Todos os dias, um episódio diferente. Um olhar diferente.”
Um desabafo que fala por muitos
No vídeo, ele também fez questão de deixar claro:
“Tudo meu é 100% lícito. Imposto pago. Tudo organizado. Sem tigrinho, sem trapaça. Mas, ainda assim, fico preocupado com o que vão achar, pensar ou falar.”
Esse medo constante — mesmo estando certo, mesmo sendo honesto — é o que adoece.
É o que corrói.
É o que mostra que, no fundo, a estrutura ainda tenta dizer quem pode ou não ter sucesso, quem pode ou não pertencer.
Não é sobre um carro. É sobre dignidade.
O relato de Escandurras é sobre algo muito maior do que um automóvel de luxo. É sobre direito à dignidade, à liberdade, à existência sem julgamentos.
É sobre não precisar se explicar por aquilo que foi conquistado com esforço.
É sobre olhar para a própria história e não permitir que ela seja diminuída por olhares atravessados.
E é, sobretudo, um lembrete de que ainda temos muito a caminhar. Que é urgente escutar, acolher, aprender — e agir. Porque não dá mais para naturalizar o que machuca. O que fere. O que separa.