França na África: Liberté, Egalité e Fraternité para os brancos.

Colunista: Zulu Araújo
O mundo inteiro conhece a França como o país que inspirou a modernidade, por meio da Revolução Francesa. Naquele momento histórico os franceses anunciaram que ao tempo da tirania chegara ao fim e que a era das luzes se aproximava.


O ano era 1789, e a Revolução Francesa foi cantada em prosa e verso, como o paradigma da democracia ocidental – Liberdade, Igualdade e Fraternidade foram os princípios que os franceses afirmaram ser os princípios da humanidade.


Mas, não para os africanos.


O que a história nos conta sobre a presença colonial da França no continente africano, até os dias atuais, e em particular após a Revolução Francesa, é algo tenebroso e de deixar estarrecido qualquer cidadão minimamente informado.


Além de ter participado ativamente da espoliação da África, a partir da Conferência de Berlim (1884/1885), a França promoveu um dos experimentos mais tristes e dolorosos da história da humanidade – a violenta repressão ao movimento de libertação na Argélia, assumida recentemente pelos próprios franceses.


A presença francesa na Argélia, nega de forma veemente, aquilo que eles pregavam, pois foi caracterizada pelo apartheid entre as comunidades nativas e os colonos franceses e para tanto, a França fez uso de todos os mecanismos repressivos ao seu alcance.


Após quase 10 anos de luta contra os franceses (1954/1962), alimentados pelo poderoso movimento nacionalista que varria o continente africano e materializado na Frente de Libertação Nacional da Argélia, os argelinos foram vitoriosos.


Para tanto, mais de 300 000 argelinos morreram durante a lua de libertação e outros tantos foram torturados e massacrados.


Frans Fanon, um dos intelectuais negros mais importante nesse período, apoiador e combatente na luta argelina, afirmava que a repressão francesa era muito mais do que um caso isolado, mas intrínseca ao colonialismo – “O colonialismo não é uma máquina de pensar, não é um corpo dotado de razão. É a violência em estado de natureza”.


Outro exemplo cruel e emblemático da colonização francesa e que representa de forma insofismável a negação dos princípios iluministas, é o Haiti. E nesse caso, a França agiu, em aliança com as potências ocidentais de forma mais cruel ainda.


Isso porque, a Revolução Haitiana foi além de uma grande rebelião de escravos que levou a Ilha de São Domingos à independência, foi também a primeira vez na história que uma revolta escrava derrotou os seus senhores e criou uma nação.


Isso foi considerado intolerável, para os franceses, apesar de dois anos antes, terem declarado que a liberdade, a igualdade e a fraternidade deveriam nortear as relações entre os homens.


O Haiti foi punido com tal violência que as consequências estão presentes até os dias atuais. Além de ter sido invadido pelo exército de Napoleão, ter seu povo massacrado e reescravizado, foi obrigado a pagar uma indenização a França (pelo fato de ter acabado com a escravidão) da ordem de 21 bilhões de dólares americanos por mais de 100 anos. Fato este que destruiu o país.


Dos 54 países que compõe o continente africano, ao menos a metade deles foram colônias francesas até meados do século XX: Marrocos, Tunísia, Guiné, Camarões, Togo, Senegal, Madagascar, Benin, Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Chade, República do Congo, Gabão, Mali, Mauritânia, Argélia, Comores, Djibouti, República Centro Africana.


Além disso, a França, controla de forma total a economia de 12 países africanos que utilizam o franco CFA como moeda corrente e que é controlado pelo Banco Central da França.
Enfim, esse é o grande legado francês ao continente africano – Liberdade, Igualdade e Fraternidade, apenas para os brancos, preferencialmente cristãos.


Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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