Revista Raça Brasil

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Fundação Palmares celebra 37 anos com reconhecimento a sua trajetória

A Fundação Cultural Palmares (FCP) completou 37 anos em cerimônia que respirava história, realizada no Teatro Cultural da Caixa, em Brasília, no último dia 22 de agosto. A Revista Raça esteve neste reencontro de gerações que contou com a presença de autoridades, diplomatas, representantes de instituições parceiras e servidores, que destacaram a atuação da fundação na preservação da memória e da cultura negra.

A base legal da instituição foi lembrada por Carlos Moura, primeiro presidente da FCP que em suas palavras demonstrou um registro vivo da luta pela criação da instituição. Ele citou o Artigo 68 das Disposições Constitucionais Transitórias, que assegura os direitos dos quilombolas sobre suas terras. Moura afirmou que a aplicação do artigo é contínua, acompanhando o processo de posse das terras ancestrais, e enfatizou a resistência necessária para manter a fundação ativa.

“É muito bom celebrar a grandeza de uma instituição que, em primeiro lugar, trata-se do cumprimento do ato das disposições transitórias da Constituição Federal, em 1988. A Fundação Palmares correu o risco de ser destituída; foram feitos esforços para que ela desaparecesse. Mas nós estávamos lá, em 1988, na defesa destas demandas do Movimento Negro, e estivemos tanto na última gestão quanto agora, para continuar fazendo propostas, dialogando com a consciência do dever cumprido”, declarou.

O secretário Laudemar Aguiar, do Ministério das Relações Exteriores, ressaltou a consolidação da Palmares na lei de 2003, que instituiu o ensino da história africana. “Desde que o presidente Lula, em seu primeiro governo, incluiu o estudo da história africana e sua influência no Brasil em 2003, a Fundação Cultural Palmares se consolidou, ao longo de sua história, como uma instituição fundamental na preservação, difusão e valorização dos patrimônios materiais e imateriais que integram a identidade e a memória histórica do povo brasileiro, não apenas do povo negro, mas de todo o povo brasileiro.”

A dimensão social do trabalho da fundação foi abordada por Kleytton Morais, presidente da Fundação Banco do Brasil. “A Fundação Palmares é vocacionada, desde a sua origem, a promover diálogos de integração e concertação nacional, priorizando o Norte e Nordeste do Brasil, porque, historicamente, são regiões que, do ponto de vista da discussão política e orçamentária brasileira, tiveram um déficit de política pública, de assistência”.

O embaixador de Camarões, Martin Agbor Mbeng, parabenizou a iniciativa e reconheceu o trabalho de preservação da herança africana. “A injustiça e a preservação da herança africana, assim como a promoção das contribuições decisivas dos afrodescendentes para a construção desta grande nação, são fundamentais. O corpo diplomático africano admira os esforços contínuos da Fundação para preservar e disseminar valores derivados da matriz africana, valores que transcendem o tempo. Esses valores ainda nutrem a cultura, a linguagem, as cores, a música, a gastronomia e a identidade brasileira.”

A participação e a liderança das mulheres foram o tema da fala de Janaina Alves, decana da Universidade de Brasília. “Como mulher negra brasileira é, a partir desse momento de representatividade, que nós vamos nos encontrando. Mas, mais do que representatividade, também se trata desses processos e espaços de liderança do não imaginado. Este momento é o momento do não imaginado. E aqui, nesta programação de hoje, dedicada à contribuição das mulheres negras, reconhecemos aquilo que sempre soubemos: que fomos e que seguimos sendo mestres da oralidade, guardiões dos saberes, artistas, educadoras e tantas lideranças”.

João Jorge, presidente atual da FCP, agradeceu aos presentes e à equipe de servidores. Em seu discurso, ele projetou o legado da instituição para o futuro. “Com todo o corpo da Palmares, pudemos trazer uma esperança para a Fundação Palmares e para a cultura, abrindo um caminho para que, nos próximos governos, não se altere e não se destrua a memória negra. Mais do que isso, deixaram um legado espiritual; nosso legado não será material, que se possa pegar ou ver, mas se a forma estiver bem, a cultura brasileira estará bem. Se a cultura brasileira for bem, o caminho para a democracia será irreversível”.

A Ministra da Cultura, Margareth Menezes, detalhou conquistas materiais recentes da fundação. “A Fundação conseguiu recuperar sua estrutura física, que é um legado que esta gestão está deixando para nós. O prédio atual, que agora pertence ao Ministério da Cultura, é uma grande conquista, pois temos uma sede fixa que traz toda a beleza das culturas afro-brasileiras. Além disso, trouxe de volta a biblioteca e retomou a logomarca histórica, o Machado de Xangô, da Fundação Palmares.”

Entre os momentos institucionais, houve a entrega de duas certificações a comunidades quilombolas. Dona Maria do Carmo, matriarca griô da comunidade Baixa Xánda, em Parintins (AM), recebeu a certidão e cantou um trecho de um canto ancestral. Joaquim, griô da comunidade Antinha Debaixo (GO), recebeu das mãos do CEO da Revista Raça, Maurício Pestana, as certidões de autorreconhecimento. Até o momento, a FCP já alcançou a marca de mais 200 certificações emitidas.

O evento incluiu o lançamento de três publicações: “Pombagira – A Entidade Silenciada”, de Ana Manetto; “Nos Caminhos de Odé”, de Babá Aurélio de Odé; e “Comunicação Antirracista”, de Mídia Noelle. Foi apresentada também a “Cartilha de Denúncia: Racismo e Propostas Antirracistas na Educação”, resultado de uma parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A programação foi finalizada com apresentações do Grupo Cultural Obará, Ana Manetto e Adão Negro.

 

Essa publicação é fruto de uma parceria especial entre a Revista Raça Brasil e o Fórum Brasil Diverso, evento realizado pela Revista Raça Brasil nos dias 10 e 11 de novembro, que celebra a diversidade, a cultura e a potência da música negra brasileira. Não perca a oportunidade de participar desse encontro transformador — inscreva-se já www.forumbrasildiverso.org

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