Garimpeiros exigem sexo com meninas e mulheres ianomâmi
Garimpeiros exigem sexo com meninas e mulheres indígenas como moeda de troca por comida na Terra Yanomami. É o que aponta o relatório da Hutukara Associação Yanomami (Hay), divulgado nesta segunda-feira (11).
As informações foram antecipadas pelo jornal “O Globo” neste domingo (10). O documento traz relatos de indígenas, pesquisadores e antropólogos, e mostra que ao menos três adolescentes, de até 13 anos, ficaram doentes e morreram em 2020 após os abusos praticados pelos garimpeiros.
“Elas eram novas, tendo apenas tido a primeira menstruação. Após os garimpeiros terem provocado a morte dessas moças, os ianomâmis protestaram contra os garimpeiros, que se afastaram um pouco. As lideranças disseram para eles [garimpeiros] que estando tão próximos, se comportam muito mal.”, diz o relato de uma pesquisadora indígena após conversa com uma mulher ianomâmi.
Na região do Rio Apiaú, os moradores relataram à Hutukara que um garimpeiro que explora a região ofereceu drogas e bebidas aos indígenas e, quando todos já estavam bêbados, estuprou uma das crianças da comunidade.
Há também a denúncia de um “casamento” arranjado de uma adolescente ianomâmi com um garimpeiro, com a promessa de pagamento de mercadoria, que nunca foi cumprida.
Para Dário Kopenawa, vice-presidente da Hay, o governo precisa avaliar as ações adotadas até hoje, pois muitas operações de combate ao garimpo “não surtiram efeitos”.
“Esse documento mostra a realidade que estamos vivendo e suas consequências, de muita violência e vulnerabilidade. O meu povo está sofrendo. Pedimos o apoio da população para se unir ao nosso grito de socorro para a retirada imediata dos garimpeiros do nosso território”, disse Dario Kopenawa.
Procurado, o Ministério Público Federal (MPF) disse que apresentou à Justiça Federal pedido para obrigar a União a retomar ações de proteção e operações policiais contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, pois constatou que “as operações executadas em 2021 pelo Governo Federal não foram capazes de conter o avanço da atividade ilegal no território”.
“Assim, na ação protocolada com urgência, o MPF pede que o Governo Federal coordene o planejamento de novas operações de repressão contra os crimes socioambientais da região e que as equipes policiais permaneçam no local até que todos os infratores ambientais sejam retirados da terra indígena”, disse o MPF em nota.
Em resposta, a Fundação Nacional do Índio (Funai) disse que “desconhece o estudo citado e que não comenta dados extraoficiais”. Disse ainda que “o problema da mineração na área Yanomami é agravado, ainda, pelo aumento do número de garimpeiros venezuelanos na região, em razão do fluxo migratório de pessoas da Venezuela para o Brasil decorrente da crise humanitária”.
Avanço do garimpo e explosão da malária
A Terra Indígena Yanomami é a maior reserva do país, com mais 10 milhões de hectares distribuídos no Amazonas e Roraima, onde fica a maior parte. São mais de 28,1 mil indígenas que vivem na região, incluindo os isolados, em 371 aldeias. Além da destruição ambiental, a presença do garimpo também provoca a disseminação de doenças e desnutrição.
O relatório revela que em 2021, o garimpo ilegal avançou 46% em comparação com 2020. No ano passado, já havia um salto de 30% em relação ao período anterior. De 2016 a 2020, o garimpo na Terra Yanomami cresceu 3.350%, conforme o estudo.
O número de comunidades afetadas diretamente pelo garimpo ilegal soma 273, abrangendo mais de 16 mil pessoas.
“A extração ilegal de ouro [e cassiterita] no território ianomâmi trouxe uma explosão nos casos de malária e outras doenças infectocontagiosas, com sérias consequências para a saúde e para a economia das famílias, e um recrudescimento assustador da violência contra os indígenas”, diz a Hutukara.
O monitoramento começou a ser feito em outubro de 2018, e a área total destruída pelo garimpo somava cerca de 1,2 mil hectares, com maior concentração nos rios Uraricoera e Mucajaí.
De lá até 2021, a área impactada dobrou e atingiu em em dezembro passado o total de 3.272 hectares, segundo a Hay. O crescimento, conforme o relatório, foi acentuado principalmente a partir do segundo semestre de 2020, coincidindo com o avanço da Covid-19 na região.