George Floyd e seu legado
Maurício Pestana
Nesta quinta-feira, 25 de maio, dia da África completa-se três anos da Morte de George Floyd. No mesmo dia eu recebia a desafiadora incumbência de comentar para os principais jornais da grade da CNN o caso que chocou o mundo e mudou definitivamente o rumo da luta contra o racismo, por diversidade e inclusão em todo o planeta. O assassinato de Floyd trouxe muita dor, revolta, manifestações mudaram os rumos das eleições nos Estados Unidos e também deixou seu legado de que ser antirracista não é um atributo apenas de pessoas pretas, mas de toda uma sociedade em busca de um futuro melhor.
Políticas públicas que não saiam do papel, foram colocadas em praticas, como a reformulação dos modos operantes da polícia norte-americana, leis criadas no período da segregação racial daquele país, foram revogadas e em alguns estados completamente extintas, dando espaço a uma nova forma no aspecto político e institucional de lidar com a questão racial; os acontecimentos em Minneapolis reverberam em parte da estrutura institucional dos Estados Unidos influenciando diretamente a eleição americana que aconteceria meses depois.
Se o fato acelerou processos políticos, a economia não ficaria de fora; uma onda chamada ESG que já se avistava longe, e principalmente o “S” de social se instalou no campo da diversidade e inclusão nas empresas. Exemplo disso foi que pouco tempo depois daquele triste episódio, a poderosa NASDAQ Bolsa, que concentra as ações das maiores empresas de tecnologia do mundo, determinou que as companhias listadas naquele organismo tivessem no mínimo, entre seus diretores, mulheres e outro representante de grupos minoritários.
O Brasil, país com a segunda maior população negra do planeta, com desigualdades brutais e concentração de renda e poder, que chega a lembrar a África do Sul no período do apartheid, onde apenas uma elite branca governava para a maioria negra, ainda segue sem grandes e palpáveis mudanças. É obvio que a presença de negros e negras no alto escalão do governo atual são demonstração de sensibilidade política com o tema e uma mudança radical na narrativa e prática estabelecida no governo anterior, porém, não podemos deixar de notar que a presença nas áreas reais de decisão, que impactam milhões de brasileiros como Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio, Cidades, Saúde, é quase inexistente a presença negra.
A esperança, nas áreas de inclusão, de negros e negras em postos estratégicos, tem vindo do setor privado, também neste pós George Floyd, em que houve uma guinada na política de inclusão racial nos Estados Unidos. Muitas empresas em nosso território intensificaram suas ações de inclusão racial e diversidade aqui, por pressões também vindo de todas as partes, inclusive sociedade civil e instituições como Fiesp e até a B3, que tem atuado de forma incisiva no debate da inclusão racial.
Ainda é muito pouco diante das diferenças sociais e econômicas entre negros e brancos em nosso país, mas dá para afirmar que, nesses mais de trinta anos cobrindo este tema, avançamos uns dez anos depois do trágico assassinato de George Floyd e que Diversidade e Inclusão é um caminho sem volta.