Gilsons voltam aos palcos
Trio formado por filho e netos de Gilberto Gil fala sobre o novo álbum e a trajetória da banda
“Há de nascer / Um novo amanhã / Pra gente acordar / E dançar”, canta Francisco Gil, ou o “Fran”.
São poucos minutos depois das 21h. As luzes se acendem no teatro Paulo Autran do SESC Pinheiros, na capital paulista, para revelar Fran no centro do palco, com João e José Gil lado a lado.
Após viver uma escalada súbita de popularidade durante a pandemia, mas passar o maior tempo desse sucesso presos às interações virtuais, os Gilsons – trio formado por um filho e dois netos de Gilberto Gil – aos poucos começam a conhecer os fãs que acumularam durante a pior fase da Covid-19. Só no Spotify, o número total de streams nas músicas saltou de 2 milhões para 206 milhões entre o momento pré-pandemia e o atual.
Os primeiros versos cantados no show são de “Pra Gente Acordar”, música que abre e também dá nome ao álbum de estreia do trio.
A música, que canta a esperança de um amanhã “sem que nada possa nos machucar”, não foi escrita exatamente para a pandemia.
“Então, vai ter show / Quando tudo passar”
No início de 2020, a banda começou a ver uma expansão de seu sucesso, mas foi surpreendida, como todo o setor cultural, com a chegada da pandemia de Covid-19 e todos os shows já agendados tiveram de ser cancelados. “Só que a gente se reformulou. Conseguimos encontrar um jeito de trabalhar”, explicou Fran. Segundo eles, a banda encontrou nas parcerias com outros artistas um modo de se “fortalecer”.
Enquanto a pandemia estava em seu pior momento, até meados de 2021, eles lançaram apenas músicas em colaboração com outros cantores e bandas da cena, e foram cinco singles ao todo.
Uma das primeiras parcerias foi com a cantora da banda Bala Desejo, Julia Mestre, que resultou na música “Índia”, lançada em outubro de 2020. No entanto, as produções do grupo com a compositora carioca vão muito além. Presente na plateia do show no SESC Pinheiros, Julia foi citada algumas vezes pelos meninos no palco quando introduziam a música. Ela inclusive escreveu “Pra Gente Acordar” junto com Fran, ainda em 2019, e divide outras composições com João e José também.
O último “feat” lançado antes do álbum foi “Algum Ritmo”, com a banda curitibana Jovem Dionísio. Tanto a letra – que canta “Então, vai ter show / Quando tudo passar” – quanto a produção da música, refletem os impactos do distanciamento social forçado pela Covid-19.
“A gente gravou a música inteira de uma forma remota e filmou o clipe todo desse jeito também. A gente só foi conhecer eles [os integrantes da Jovem Dionísio] depois”, contou Fran.
Foi durante esse período de isolamento que a banda ganhou lugar cativo nas playlists da chamada “Nova MPB”. Antes da pandemia, de acordo com a assessoria da banda, o grupo registrava, no total, 2 milhões de streams no Spotify e 2,5 milhões de visualizações no YouTube e esses números saltaram para 206 milhões e 67 milhões, respectivamente.
Pesquisas
Segundo dados do Google Trends, o primeiro pico de interesse e buscas por “Gilsons” aconteceu na semana de 13 a 19 de setembro de 2020.
Foi nessa semana que o festival paulistano Coala Festival organizou uma edição virtual, na qual os Gilsons se apresentaram ao lado de “seu Gilberto”.
Eles voltaram a atingir índices de busca parecidos no início de março de 2022, quando foram realizados os primeiros shows presenciais da banda.
O show no SESC Pinheiros foi encerrado com uma sequência de homenagens às raízes da família Gil, e uma viagem rápida do Rio de Janeiro à Bahia. Os três fizeram diversas falas sobre a importância da Bahia, dos verões em família e dos blocos afro para a formação da identidade deles.
O trio carioca “não poderia se despedir sem antes tocar um samba”, como eles mesmos apontaram. “Eu e você sempre” e “Alguém me avisou”, dos cariocas Jorge Aragão e Dona Ivone Lara, fizeram a banda sambar em cima do palco.