O Governo Federal, por meio da Secretaria de Políticas da Promoção da Igualdade Racial, estuda uma parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para capacitar os árbitros na identificação de casos de injúria racial e racismo nos estádios. A ideia é que o tema faça parte do programa de formação dos apitadores a partir do ano que vem. “O árbitro é o principal responsável por identificar os casos em campo e registrá-los na súmula”, disse o secretário Juvenal Araújo, com exclusividade, ao jornal O Estado de S.Paulo.
O órgão pretende atuar também junto aos clubes e às torcidas organizadas, fazendo um trabalho de conscientização popular. O secretário reconhece que ainda precisam ser criados mecanismos para a ação, e que o formato ainda não está definido. “Temos de pensar na criação de mecanismos de conscientização”, comentou.
A introdução do tema na formação dos árbitros representa uma inovação. A CBF não atendeu aos pedidos da reportagem para comentar a proposta da secretaria ou para apresentar as ações de combate ao racismo. No último domingo, um novo caso foi registrado no clássico entre Bahia e Vitória, em Salvador. “É obrigação do árbitro principal relatar os casos de injúria racial na súmula do jogo”, afirmou Ronaldo Piacente, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
Em São Paulo, por exemplo, os árbitros levam um ano e meio para se formar. Eles aprendem sobre as 17 regras do futebol, fazem cursos práticos e um estágio supervisionado no qual trabalham nas categorias de base do seu Estado. Anualmente são submetidos a avaliações teóricas e orais, além de testes físicos, médicos e psicológicos. As dimensões psicológica e emocional recebem atenção especial. O objetivo é integrar os pilares físico, técnico, mental e social, além de um bom preparo físico.
A Uefa (União Europeia de Associações de Futebol, na sigla em inglês) promove anualmente cursos para árbitros e auxiliares, sejam eles experientes ou iniciantes, que trabalharão nas competições europeias de clubes e seleções. Durante o curso de uma semana, repassam, na teoria e na prática, todas as regras do futebol e suas interpretações, analisam vídeos com situações ocorridas em jogos, trocam experiências e opiniões e são submetidos a testes médicos e físicos. Lá, o tema “racismo” faz parte do programa, juntamente com xenofobia e homofobia.
No caso Aranha, episódio em que o goleiro do Santos foi xingado de “macaco” na Arena Grêmio, em Porto Alegre, em 2014, o árbitro goiano Wilton Pereira Sampaio acabou punido também. Ele não interrompeu o jogo após as reclamações do arqueiro. Somente horas após a partida, Sampaio alterou a súmula, incluindo as reclamações. Depois de ter sido criticado por seu comportamento, foi suspenso por 45 dias e multado em R$ 800. Seus auxiliares foram suspensos por 30 dias e multados em R$ 500.