Grandes nomes da literatura brasileira
Oswaldo Faustino conta a história de 3 dos maiores escritores negros do Brasil, grandes nomes de nossa literatura
TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTOS: Reprodução | Adaptação web: David Pereira
Ao vasculhar a memória para escrever a apresentação do recém-lançado – e excelente – livro “O mundo no Black Power de Tayó”, da escritora negra brasileira e minha amiga Kiusan de Oliveira, lembrei-me dos tempos em que muitos de meus ídolos mestiços “fritavam” seus cabelos para alisá-los. Valia tudo na busca pela aceitação. Revisitaram-me também as lembranças de minhas longas discussões com meu saudoso amigo mestiço Marino Anselmo, para quem a maior ofensa do mundo era ser chamado de negro. Um dos meus argumentos era justamente o quanto o Movimento Black Power – considerado por muitos como mero modismo – ajudou a resgatar, nos anos 60 e 70, a porção negra da mestiçagem brasileira. Por conscientização ou simplesmente por estética, muitos mulatos e mulatas, naquele momento, reencontraram-se com a própria africanidade de maneira positiva.
Não é raro mestiços brasileiros viverem uma crise de identidade, conforme constatam os estudos de outra querida amiga, a antropóloga Eneida Almeida Reis, autora de “Mulato: Negro-não-negro e/ou Branco-não-branco”. Talvez fosse este o motivo para escritores como Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), reconhecidamente um dos maiores nomes da literatura brasileira, aparentemente, não deixarem transparecer, em suas obras, traços da própria ascendência africana. Porém, para o Prof. Dr. Eduardo Assis Duarte, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), é possível encontrar tais revelações através de uma leitura mais frequente de alguns textos desse autor. É o que o acadêmico nos revela em seu livro “Machado de Assis – Afro-Descendente”.
Um dos precursores do conto brasileiro, o mestiço Francisco de Paula Brito (1809-1861) foi tão importante escrevendo quanto na retaguarda da produção literária e jornalística nacional, quando, em 1829, ainda muito jovem, foi trabalhar como tipógrafo. Daí surgiu o apelido “operário das tintas”. Dois anos depois, tornou-se proprietário de uma gráfica, com uma livraria anexa, frequentada tanto por escritores renomados quanto por jovens promissores, como o próprio Machado, Gonçalves de Magalhães e o dramaturgo Martins Pena, entre tantos outros. Editor, jornalista, escritor, poeta, dramaturgo, tradutor e letrista, Paula Brito não escondia sua origem. Ao contrário, a assumiu publicamente, ao dar início à Imprensa Negra Brasileira, quando lançou, no Rio de Janeiro, em 14 de setembro de 1833, o jornal O Homem de Cor, depois rebatizado de O Mulato.