Revista Raça Brasil

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Fotos: Reprodução (@vozdascomunidades

A dor da mãe de Herus e o luto imposto às mulheres negras pela violência

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Rachel Quintiliano

Editora do Portal Raça. Jornalista e escritora com quase 30 anos de experiência, tanto na comunicação corporativa quanto da imprensa, especialmente imprensa negra. Autora do livro ‘Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia’. É responsável por planejar os conteúdos do portal, assegurando a linha editorial e estratégia narrativa do grupo RAÇA.

“Eu não queria enterrar meu filho”: a dor da mãe de Herus e o luto imposto às mulheres negras pela violência. Herus Guimarães, de 23 anos, foi morto com um tiro de fuzil durante uma festa junina no Rio de Janeiro. Sua mãe denuncia o descaso e o desrespeito com o corpo do filho. A dor dela é a de milhares de mães negras no Brasil.

“Ele foi cuidado com tanto amor. Eu vigiei, eu tomei conta. Eu não queria ter enterrado o meu filho.” A frase de Mônica Guimarães, mãe de Herus, 23 anos, expõe a dor que atravessa tantas mães brasileiras, especialmente as negras. O jovem Herus foi assassinado na madrugada de 1º de junho, com um tiro de fuzil, durante uma operação do Batalhão de Operações do (Bope), em uma festa junina na comunidade de Santo Amaro, no Rio de Janeiro.

Segundo testemunhas, homens armados invadiram o evento e abriram fogo. Herus morreu no local, e seu corpo foi arrastado escada abaixo por agentes de segurança. A própria mãe presenciou a cena. No programa Encontro, da TV Globo, ela relatou, em lágrimas:  “Arrastaram o corpo do meu filho escada abaixo. Eu vi o tiro de fuzil que atravessou o corpo dele.”

A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso, mas até o momento ninguém foi preso. A cena do crime, segundo familiares, foi marcada por desprezo, violência e desumanização — práticas que se repetem com frequência quando a vítima é um jovem, negra, pobre e de comunidade.

Herus era estudante, trabalhador, tinha sonhos e uma rede de afeto. Sua mãe, que sempre o protegeu, agora precisa suportar a ausência forçada, o silêncio das instituições e a brutalidade da forma como a morte de seu filho foi tratada.

Infelizmente, Herus não é exceção. É mais um nome dentro de uma lista que cresce a cada semana. De acordo com o Atlas da Violência 2023, 77% das vítimas de homicídio no Brasil são negras, e a juventude negra masculina entre 15 e 29 anos é a mais atingida. São mais de 23 mil jovens negros mortos por ano — uma geração dizimada diante dos olhos do país.

Uma pesquisa realizada pelo Geppherg/UERJ, divulgada pela Agência Brasil em 2023, analisou o adoecimento de mães que perderam seus filhos para a violência estatal. Os dados revelam quadros de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, insônia e pensamentos suicidas. Mais do que luto, essas mulheres enfrentam uma espécie de tortura contínua, marcada pela impunidade e pela indiferença social.

O documentário Auto de Resistência (2018) retrata exatamente esse cenário: mães que tiveram seus filhos mortos pela polícia sob a justificativa de confronto — uma narrativa que mascara execuções sumárias. O filme denuncia como o racismo opera para apagar essas vidas e silenciar quem fica.

Ao lado do pai de Herus, ela afirmou: “Não era para ele estar naquele caixão. Era para ele estar vivendo.” Seu depoimento, transmitido em rede nacional, na manhã desta segunda-feira (09/06) quebra o silêncio imposto às vítimas da violência e ecoa o grito de milhares de mães negras: basta.

 

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