II Encontro de Mulheres Negras na Dança
Evento apresenta uma série de atividades e espetáculos entre os dias 03 e 29 de julho no Centro de Referência a Dança de São Paulo
O “Encontro de Mulheres Negras na Dança” chega a sua segunda edição com uma série de eventos gratuitos no Centro de Referência a Dança, em São Paulo. De 03 a 29 julho, a Nave Gris Cia Cênica, promove o encontro que revela a trajetória, experiência e a produção de artistas negras na dança. Trata-se de um evento que afeta e dialoga diretamente com as pessoas e proporciona a reflexão sobre os fazeres e lugares conquistados e ocupados por essas mulheres, no meio artístico da cidade de São Paulo. O encontro tem como objetivo proporcionar a experiência estética ao reunir diversas produções e gerações de artistas negras, instigando novas parcerias e redes, além fortalecer os vínculos já existentes.
São quatro espetáculos e uma performance que revelam diversas perspectivas sobre o fazer artístico, uma exposição fotográfica e dois workshops. Além de expressar a pluralidade criativa, o projeto também estimula a aprendizagem e a troca entre as artistas negras e o público presente.
O evento abre com a exposição Mulheres Negras na Dança, com fotografias feitas pela artista visual Mônica Cardim, além de imagens do acervo pessoal de cada uma das artistas convidadas para as duas edições do Encontro. A exposição é um breve retrato da trajetória artística e pessoal dessas mulheres. Haverá um arquivo vivo interativo, em que o público poderá colaborar para o registro de artistas negras atuantes na cidade. Na abertura, contaremos com a performance “Leite derramado”, da artista Ana Musidora.
Rés, de Verônica Santos, abre a programação de espetáculos. O argumento da coreografia reflete a experiência da intérprete nos trabalhos de assistência à casa de detenção feminina em Minas Gerais. Estas memórias que hoje se somam às estatísticas de encarceramento em massa de mulheres nas mais diversas formas, são a base desta partilha estética.
território Meu, de Ciça di Cecília, também está no primeiro dia de programação. Autobiográfico, o solo investiga a relação da mulher negra com o assédio e o seu corpo, enquanto território de histórias e de apropriações frente a sociedade machista.
Conhece-te a ti mesmo, da Ouvindo Passos Cia de Dança, com a bailarina Paula Salles, sugere um diálogo poético na busca do autoconhecimento tendo como referência a influência da religiosidade nessas transformações. Mais do que um “autorretrato” coreográfico, este espetáculo questiona os incessantes movimentos “migratórios” da sociedade contemporânea, a partir de experiências e memórias da intérprete, construídas durante o espetáculo.
Moringa, do Coletivo 22 é o espetáculo que encerra a programação do II Encontro de Mulheres Negras na Dança e expressa a ideia desse objeto, que é feito de terra e água, cozido ao fogo e esfriado pelo vento. Também traz uma textura lisa, úmida e na qualidade de receptáculo contém algo. Tudo é transformado pelo trabalho do oleiro que na circularidade desenha no tempo marcas do feminino – vagina, útero e seio. O elenco passeia por essa ideia de objeto e de construção que se funde com o corpo e seus movimentos.
A agenda possibilita também a aprendizagem e um amplo campo de reflexão sobre a dança e o realizar artístico de mulheres negras. Devolve à pélvis o que é da pélvis, abre a programação de workshops. O foco do encontro é a criação de dramaturgias corporais, a partir da interligação entre a pélvis, a bunda, as coxas e os pés. A proposta tem âncora em algumas expressões negro-diaspóricas, tais como a Dança-Afro e o Samba, incluídas as relações com as corporeidades cotidianas. A ideia é que, nos dois dias, os participantes reconectem-se com esse circuito específico do corpo a partir das expressões citadas e seus respectivos conjuntos de gestualidades. As vivências serão conduzidas pela bailarina e atriz Deise de Brito e pela percussionista Talita Bonfim, integrantes do Núcleo Vênus Negra.
O segundo workshop sobre dança negra contemporânea fica por conta de Cristina Matamba, que foi dançarina e coreógrafa do Ballet Afro Kamberimbá e do Ballet Afro Koteban e também atuou como assistente de coreografia e dançarina na Cia. de Dança Negra Batá Kotô. Com estas companhias, Cristina se apresentou em diversos lugares, como em Seul. O encontro mostra que dançar é transmitir certo estado de espírito, uma maneira de se ver e de ver o mundo, de sentir plenamente o corpo e o utilizar para conhecer outros sentimentos e sensações. Promovendo assim o bem-estar e sociabilidade entre os participantes.
Realizar o evento no Centro de Referência à Dança – CRDSP reforça o desejo da Nave Gris Cia Cênica, de que esta seja uma ação estética e política importante na construção de uma memória da dança que não apague o movimento vivo dessas artistas, que se destacam como criadoras, intérpretes, coreógrafas e pensadoras com seus posicionamentos éticos e histórias que habitam seus corpos.
O II Encontro de Mulheres Negras na Dança faz parte do projeto A-VÓS, contemplado pela 21ª edição do Programa de Fomento à Dança da cidade de São Paulo. A Nave Gris propõe uma série de ações que dão continuidade a trajetória da Cia de estabelecer e fortalecer espaços de trocas artísticas.
Sobre a Nave Gris Cia Cênica
A Nave Gris Cia Cênica – atualmente composta por Kanzelumuka e Murilo De Paula em parceria com Fredyson Cunha – nasceu em 2012 do encontro entre artistas de linguagens distintas e dedica-se, desde então, à pesquisa e desenvolvimento da cena como campo de pluralidade, espaço expandido e limiar entre dança, teatro e performance. Cada um dos criadores se encontram no fazer a partir de suas diferenças e afinidades estéticas e técnicas, construindo trabalhos onde divergências e convergências tornam-se presentes como procedimentos de criação e matéria poética.
A Cia realizou os trabalhos Poéticas do desacontecer, performance que teve inspiração no poema Carreta Pantaneira de Manoel de Barros; o espetáculo de dança negra contemporânea Dikanga Calunga e a intervenção coreográfica Minha Cabeça Me Salva ou Me Perde, que têm em comum a abordagem de mitos presentes na tradição banto relacionados aos minkisi femininos e às danças do Candomblé Angola, como motrizes para a criação em dança contemporânea. Estes dois trabalhos foram muito importantes na definição de um percurso de pesquisa artística da Nave Gris e desdobraram-se em duas ações que tiveram o intuito de aprofundar as discussões em torno da produção em dança contemporânea a partir de referenciais culturais afro-brasileiros: o Encontro Mulheres Negras na Dança e a VISÍVEL+NAVE – Encruzilhada Ocupação Cênica (em parceria com o Visível Núcleo de Criação). Ambas as ações contaram, em sua programação, com oficinas, rodas de conversa e espetáculos de artistas negros(as), que possuem trabalhos autorais e plurais em dança contemporânea, produzidos de forma independente e voltados para a investigação da linguagem
Serviços:
II Encontro de Mulheres Negras na Dança
Quando: De 03 a 08 de julho (A exposição fotográfica permanece até o dia 29 de julho)
Onde: Centro de Referência a Dança
Endereço: Baixos do Viaduto do Chá, s/nº, Galeria Formosa, Centro de São Paulo
Censura: Livre
Quanto: Grátis (Retirada de ingressos 1 hora antes de cada espetáculo, para os workshops enviar e-mail para navegrisciacenica@gmail.com, com assunto “Inscrição workshop”. As vagas são limitadas).
Capacidade: 60 pessoas
Ficha Técnica:
Coordenação, concepção, pesquisa e curadoria: Kanzelumuka, Murilo De Paula
Coloaboração: Fredyson Cunha
Fotografa da exposição: Mônica Cardim
Registro audiovisual e edição: Carlos Massingue
Design gráfico e projeto expográfico: Caco Bressane
Assessoria de imprensa: Iara Filardi
Produção executiva: Rochele Beatriz (Guria QProduz)
Assistência de produção: Antônio Franco
Realização: Nave Gris Cia. Cênica, Guria QProduz, Cooperativa Paulista de Teatro, Programa Municipal de Fomento à Dança e Secretaria de Cultura.
Programação
3/7 às 19h – Abertura da exposição “Mulheres Negras” (com a performance Leite Derramado, de Ana Musidora, 20 min), ficará no espaço até o dia 29/07
4/7 das 10h às 13h – Workshop – Devolve à pélvis o que é da pélvis
4/7 das 16h às 19h – Workshop – Dança Negra Contemporânea
5/7 das 10h às 13h – Workshop – Devolve à pélvis o que é da pélvis
5/7 das 16h às 19h – Workshop – Dança Negra Contemporânea
6/7 às 20h – Espetáculo Rés (Solo, 30 min)
6/7 às 20h30 – Espetáculo Território Meu (Solo, 40 min)
7/7 às 20h – Espetáculo Conhece-te a ti mesmo (Ouvindo Passos Cia de Dança, 40 min)
8/7 às 20h – Espetáculo MORINGA (Coletivo 22, 40 min)