Incêndio no Carnaval Revela Desafios para Trabalhadores nas Escolas de Samba

Na manhã de quarta-feira (12), um incêndio de grandes proporções atingiu uma fábrica de fantasias no Rio de Janeiro, deixando trabalhadores em situação crítica. Alguns ficaram presos devido a janelas com grades, dificultando a fuga. Com a ajuda do Corpo de Bombeiros e colegas, todos conseguiram escapar, mas 21 pessoas foram hospitalizadas, algumas em estado grave por intoxicação e queimaduras nas vias aéreas.

A fábrica estava operando a todo vapor para finalizar as fantasias para o desfile das escolas de samba do grupo de acesso, como a Império Serrano, Unidos da Ponte e Unidos de Bangu. O incêndio destruiu as fantasias e prejudicou os desfiles.

A Polícia Civil suspeita que a causa tenha sido uma sobrecarga em uma rede elétrica clandestina. Esse incidente trouxe à tona a precariedade das condições de trabalho no carnaval carioca, especialmente nas escolas do grupo de acesso, que, historicamente, têm maior presença de trabalhadores negros e de comunidades periféricas. O carnaval, como uma das maiores manifestações culturais brasileiras, tem raízes profundas na cultura afro-brasileira, e muitos dos trabalhadores responsáveis pela produção das fantasias e alegorias enfrentam condições de exploração e marginalização.

A engenheira Cláudia Morgado, da UFRJ, explica que o ambiente da fábrica tinha muitos fatores que ajudaram na propagação do fogo, como a falta de compartimentalização e o uso de materiais altamente inflamáveis, como plásticos e colas. Esses problemas de infraestrutura e segurança afetam especialmente as populações vulneráveis, entre elas as pessoas negras, que historicamente têm menos acesso a melhores condições de trabalho e recursos.

O carnavalesco Leandro Vieira, que já trabalhou com escolas do grupo de acesso, destacou que a fábrica afetada era uma das mais bem estruturadas na produção das fantasias, mas ainda assim havia falhas no local de trabalho. Vieira apontou que muitos barracões de escolas de samba do grupo de acesso são precários, com instalações elétricas deficientes e sem sistemas adequados de ventilação ou segurança. Vale ressaltar que a maioria dos trabalhadores nesses barracões vem de comunidades de baixa renda, onde a população preta e parda é maioria, e muitas vezes se vê obrigada a aceitar essas condições devido à falta de opções em um sistema que historicamente os marginaliza.

O prefeito Eduardo Paes anunciou que a prefeitura fiscalizará mais de perto os locais de produção das fantasias para garantir condições de trabalho mais seguras. Além disso, falou sobre a construção da Cidade do Samba 2, uma medida para melhorar a infraestrutura para as escolas do grupo de acesso. Porém, a Cidade do Samba também não está imune a problemas de segurança, já que, em 2011, um incêndio destruiu barracões de escolas do grupo especial, com impacto principalmente nas comunidades negras envolvidas.

Fábio Fabato, jornalista e pesquisador, alertou para a exploração de muitos trabalhadores do carnaval, que, em alguns casos, enfrentam condições análogas à escravidão. Eles trabalham em turnos exaustivos e sem garantias trabalhistas, o que compromete sua saúde e segurança. Essas condições afetam, de maneira ainda mais cruel, a população negra, que se vê forçada a trabalhar nessas condições devido à escassez de oportunidades e à marginalização histórica.

A chefe de fiscalização do Ministério do Trabalho, Ana Luiza Horcades, informou que os auditores realizam vistorias anuais nas instalações de produção de fantasias. Ela reforçou que a fiscalização é feita de forma preventiva para evitar acidentes e doenças entre os trabalhadores, mas a realidade dos trabalhadores negros nas favelas e periferias exige mais que uma fiscalização periódica, ela exige uma mudança estrutural que garanta direitos reais e igualdade.

Para Cláudia Morgado, é essencial que as escolas de samba e ligas carnavalescas exijam de seus fornecedores que ofereçam condições seguras de trabalho, como já fazem grandes empresas. A profissional acredita que o carnaval precisa ser mais profissionalizado para garantir a segurança de todos os envolvidos, já que é uma grande indústria que movimenta muitos recursos, mas que também depende fortemente do trabalho de comunidades marginalizadas, majoritariamente compostas por negros e trabalhadores informais.

Fonte do texto e fotografia: Agência Brasil

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