Revista Raça Brasil

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Imagem reproduzida de Euclides da Cunha

A influência da cultura afro-brasileira nas festas juninas

As festas juninas, celebradas como expressão da cultura sertaneja, carregam em sua essência um legado africano profundamente enraizado. Para além das influências europeias e indígenas, a contribuição afro-brasileira moldou ritmos, rituais, narrativas e sabores, transformando a festa em um espaço de resistência cultural e sincretismo. Essa herança, muitas vezes invisibilizada, revela-se na oralidade, na espiritualidade, nas manifestações artísticas e na culinária, configurando as festividades como um patrimônio plural.


A musicalidade e as coreografias juninas devem muito aos povos africanos escravizados. Ritmos como o forró, o coco e o baião incorporam estruturas percussivas africanas, com instrumentos como o zabumba, o agogô e o triângulo, que ecoam tradições de rodas de capoeira. A própria quadrilha ganhou movimentos sincronizados e adereços inspirados em danças africanas. Expressões como o Maracatu e o Congado também se integraram aos cortejos juninos, mesclando teatro, música e narrativas de luta.


O mês de junho é marcado por ressignificações espirituais profundas. A fogueira, símbolo central, é reinterpretada como homenagem a Xangô, orixá do fogo e da justiça, sincretizado com São João e São Pedro. Já no dia 13, celebra-se Santo Antônio com oferendas a Ogum, orixá das ferramentas e da agricultura, em rituais que agradecem pela colheita e pela tecnologia agrícola trazida por africanos ao Brasil. Essas práticas reforçam o vínculo entre terra, ancestralidade e fartura.


A tradição oral afro-brasileira permeia as festas por meio de contos, adivinhas e cantigas de desafio. Histórias como as do Bumba Meu Boi fundem mitos indígenas, europeus e africanos, representando figuras como Pai Francisco e Mãe Catirina. Na culinária, destaca-se o mungunzá (canjica nordestina), prato de milho cozido com herança africana.


As festas juninas são um testemunho da capacidade de reinvenção cultural. O couro do boi no Bumba Meu Boi, por exemplo, funciona como uma máscara africana, carregando histórias de luta e identidade. Reconhecer essas raízes é essencial para compreender a festa como um espaço vivo de memória e resistência, onde o fogo de Xangô ilumina a ancestralidade que pulsa no coração do Brasil.

Referências:
https://inspiracaodivina.com.br/como-fortalecer-sua-fe/2025/05/a-influencia-indigena-e-africana-nas-festas-juninas/

https://www.terra.com.br/especiais/terraia/festa-junina-e-a-mistura-de-influencias-indigenas-e-africanas-saiba-mais,66d8648667f5ac6a2750413dc4f49a3fawi4s4bo.html#google_vignette

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