Revista Raça Brasil

Compartilhe

Infraestrutura urbana ainda é um privilégio branco no Brasil

Você já parou pra pensar em como o lugar onde a gente mora pode dizer tanto sobre nossas oportunidades, ou sobre a falta delas?

Um levantamento do Censo 2022, divulgado nesta quinta-feira (17) pelo IBGE, escancarou o que muita gente já sente na pele: pessoas pretas e pardas vivem, majoritariamente, em locais com menos estrutura urbana. Menos calçadas. Menos iluminação. Menos segurança e mobilidade. Menos dignidade.

É como se o caminho até o básico, como andar com segurança na rua ou pegar um ônibus perto de casa, fosse mais difícil pra uns do que pra outros. E isso não acontece por acaso.

A pesquisa mostrou que 91,3% da população branca mora em ruas pavimentadas. Entre pessoas pretas, esse número cai pra 87%. Entre pardas, pra 86%. E as calçadas, que tornam possível caminhar com segurança? Estão presentes em 88,2% dos endereços de pessoas brancas, mas só em 79,2% dos de pessoas pretas e 81% dos de pardas.

Mas não é só a presença, é a qualidade também. Buracos, desníveis e calçadas quebradas fazem parte do dia a dia de 67% das pessoas pardas e 65,2% das pretas. Entre brancos, o número é 63,7%. Ainda alto, mas menor.

A desigualdade também aparece no acesso ao transporte público. Apenas 7,1% das pessoas pardas e 8,2% das pretas vivem em ruas com ponto de ônibus ou van. Entre os brancos, o índice é de 10,6%. Pode parecer pouco à primeira vista, mas faz diferença no dia a dia de quem depende disso pra trabalhar, estudar ou viver com dignidade.

E a mobilidade ativa, como o uso de bicicletas? A infraestrutura é quase inexistente no país inteiro, mas o dado ainda escancara desigualdades: 2,5% dos brancos vivem em ruas com alguma sinalização para bikes, contra 1,4% entre pretos e pardos.

Rampas para cadeirantes estão em apenas 15,2% das ruas brasileiras. Entre a população branca, esse número é de 19,2%. Para pretos, 11,1%. Para pardos, 11,9%. Isso mostra que até o básico, como pensar na acessibilidade de todos os corpos, também está longe de ser garantido, principalmente nas periferias, onde a maioria da população preta e parda vive.

Segundo o IBGE, isso tem relação direta com fatores socioeconômicos e com o fato de pretos e pardos representarem mais de 72% dos moradores de favelas e comunidades urbanas no país.

O estudo também olhou para os dados de pessoas indígenas. Em quase todos os indicadores de infraestrutura urbana, elas estão em situação ainda mais precária. Por exemplo: apenas 75,3% vivem em locais com calçadas pavimentadas, bem abaixo da média nacional, que é de 88,6%.

Mas os pesquisadores lembram que, nesse caso, é preciso considerar o modo de vida e organização dessas comunidades. Nem sempre as referências urbanas fazem sentido dentro de seus territórios.

Esse levantamento envolveu cerca de 30 mil agentes do IBGE, que observaram as condições de mais de 11 milhões de trechos de rua em todo o Brasil. No total, foram analisadas as áreas onde vivem mais de 174 milhões de brasileiros.

Os dados podem parecer frios à primeira vista. Mas eles contam uma história quente, viva, e urgente: a cor da pele ainda define, em muitos casos, o tipo de cidade em que se vive. E isso precisa mudar.

Créditos: Agência Brasil

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?