Revista Raça Brasil

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Instituto Jaqueline Goes – Ciência Entre Nós, busca ampliar acesso de mulheres à Ciência

O Instituto nasce comprometido com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente no que diz respeito à educação de qualidade, igualdade de gênero e trabalho decente. Dados do último Censo da Educação Superior, realizado pelo Inep, mostram que apenas 21% dos professores universitários se declaram pretos ou pardos.

A desigualdade na composição do corpo docente é evidente: nas instituições públicas, apenas 3,4% dos professores se declaram pretos e 18,2% pardos, enquanto nas privadas, esses números são de 2,4% e 18%, respectivamente. Ainda que as mulheres sejam maioria no início da trajetória científica, tornam-se minoria nos cargos de decisão. O Instituto nasce para transformar essa realidade, garantindo permanência, qualificação e novas oportunidades para mulheres de grupos raciais minorizados.

A ideia de criar o Instituto nasceu em 2021, quando a Dra. Jaqueline Goes, coordenadora responsável pelo sequenciamento do genoma da COVID em apenas 48 horas, recebeu homenagens da Barbie e da revista Forbes. “Momentos que me sacudiram muito, porque eu não me via nesse lugar. A homenagem da Barbie me deixou preocupada, com toda a representatividade que as pessoas estavam colocando em mim. Eu não achava que meu trabalho até então já teria sido suficiente para receber todo esse volume”, reflete a cientista.

Esse sentimento a levou a procurar a Dra. Valéria Borges, pesquisadora da Fiocruz e sua ex-coordenadora no doutorado. “Eu lembro de ter falado com Val: ‘acho que preciso fazer alguma coisa para devolver isso que a sociedade deposita em mim’. E aí veio a ideia: por que não pensar em um instituto para trabalhar com meninas?”.

O Instituto não apenas visa ampliar o acesso das mulheres de grupos minorizados ao meio acadêmico, mas também criar um sistema de suporte e incentivo que assegure que essas profissionais permaneçam e cresçam na carreira científica. “Minha maior motivação são as disparidades e minha própria vivência. Quando a gente olha os dados, percebe que pouco mudou ao longo dos anos. Somente 38% dos pesquisadores no mundo são mulheres, e a gente nem está falando da metade. Mas, mais do que isso, quando olhamos para os postos de gestão, vemos que são ocupados majoritariamente por homens”, destaca Jaqueline. “Agora, pela primeira vez, temos uma ministra mulher no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Isso já mostra alguns avanços. O que eu penso sobre isso? Alguém precisa fazer algo. Se eu tenho esse alcance e impacto, então quero que mais meninas, principalmente meninas baianas, tenham oportunidades, bolsas de permanência, acesso a intercâmbios e formação qualificada”.

Inicialmente, o Instituto trabalhará com um público-alvo bem definido. No ensino médio, atenderá jovens de grupos raciais minorizados de escolas públicas que estejam em situação de vulnerabilidade social, oferecendo formação científica, programa de tutoria para desenvolvimento de habilidades socioemocionais, ensino de inglês e intercâmbios. No ensino superior, o foco está na imersão científica, direcionando as participantes para programas de pós-graduação, bolsas de permanência e apoio à publicação de pesquisas. “Quando pensamos na ascensão  da mulher negra, o aporte financeiro que ela recebe, normalmente não recebe sozinha. Na maioria das vezes, vai para a família. Nunca é só para aquela mulher, é para a mãe, para o irmão. E nisso vamos percebendo que existe um degrau que precisa ser superado”, explica a biomédica.

O conceito de “dororidade” – a solidariedade entre mulheres negras, ligadas pela dor comum que é causada pelo racismo – é um dos pilares do Instituto. “Confesso que já tive uma aspiração muito grande sobre o Instituto mudar a vida de muitas mulheres. Hoje, entendo que começamos com um pequeno grão, devagar, aos poucos. Mas o que conseguirmos já vai ser significativo. Se conseguirmos impactar dez meninas inicialmente, já será incrível, porque elas também poderão trazer retorno para o próprio Instituto. É sobre criar essa rede em que uma sobe e puxa a outra”, enfatiza.

A força de quatro mulheres na fundação do Instituto

O Instituto Jaqueline Goes nasce não apenas com a visão de sua idealizadora, mas também com o apoio fundamental de outras três mulheres comprometidas com a causa: Dra. Valéria Borges (pesquisadora da Fiocruz), Dra. Deboraci Prates (professora da UFBA) e Edna Goes, pedagoga e mãe da Dra. Jaqueline. Juntas, essas mulheres formam a comissão fundadora e traçam caminhos para garantir que o Instituto atinja seu objetivo de transformar a presença de mulheres de grupos raciais minorizados na Ciência.

A colaboração entre Jaqueline e Valéria Borges remonta aos tempos do doutorado da cientista. Foi Valéria quem a incentivou a submeter seu projeto ao Prêmio CAPES, que acabou vencendo. Esse laço acadêmico e de incentivo mútuo reforça a proposta do Instituto: criar redes de apoio que ampliem oportunidades e impulsionem trajetórias de sucesso.

“É uma grande honra participar do Instituto Jaqueline Goes, um projeto idealizado pela cientista que leva seu nome e inspira meninas e mulheres na Ciência. Com foco na equidade de gênero e raça, o Instituto contribui para ampliar oportunidades e protagonismo. Além de orientação de carreira, incentiva habilidades científicas que podem garantir a permanência na área. Afinal, por que não formar novas potências como Jaqueline Goes?”, conta Dra. Valéria.

A presença de Deboraci Prates e Edna Goes também é essencial na estrutura do Instituto. Deboraci, com sua experiência na Universidade Federal da Bahia, traz a visão acadêmica e institucional necessária para consolidar parcerias e desenvolver programas de ensino.“Participar da fundação do Instituto Jaqueline Goes é uma grande honra. O Instituto traz um olhar atento e engajado para ampliar a participação feminina na Ciência, especialmente de mulheres de grupos raciais minorizados. As desigualdades de gênero e raça ainda são barreiras no meio acadêmico, e essa iniciativa é essencial para promover trajetórias mais diversas e equânimes. Seguimos precisando reparar essas disparidades e criar caminhos para que mais mulheres ocupem esses espaços.”

Edna Goes, por sua vez, representa o suporte familiar e comunitário, essencial para garantir que jovens cientistas não apenas entrem na academia, mas permaneçam e prosperem. “Receber o convite para o Instituto Jaqueline Goes foi emocionante, um misto de alegria, surpresa e desafio. Senti o peso da responsabilidade, mas também a chance de crescer e transformar vidas. Ao lado de uma equipe inspiradora, sei que podemos abrir caminhos para quem sonha com a Ciência. Agradeço essa oportunidade de ressignificar minha trajetória e a de tantas outras pessoas”.

Com apoio de instituições como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), o Instituto Jaqueline Goes inaugura uma nova fase para a inclusão na Ciência, criando oportunidades e promovendo um futuro onde mulheres desse grupo possam estar, cada vez mais, entre nós.

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