Revista Raça Brasil

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Will Smith no filme Eu, Robô. A produção aborda inteligência artificial

Como a inteligência artificial pode combater ou perpetuar o racismo

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PMR Advocacia

Fabiano Machado da Rosa: Advogado especialista em Compliance Antidiscriminatório e Fundador da PMR Advocacia e Paulo Petri é Advogado, mestre em ciência política, fundador da PMR Advocacia.

A inteligência artificial (IA) está transformando radicalmente o ambiente empresarial – recrutamento, concessão de crédito, decisões estratégicas, todas essas áreas são cada vez mais automatizadas. Em um país com racismo estrutural como o Brasil, isso traz implicações profundas. O potencial da IA para impactar diretamente pessoas reais, especialmente no que se refere a questões raciais, exige atenção imediata dos líderes de negócios, advogados e profissionais de recursos humanos.

 

O risco: perpetuação do racismo estrutural

Um dos principais riscos que precisamos reconhecer claramente é que a IA pode reproduzir preconceitos históricos já presentes na sociedade. Algoritmos são treinados com dados históricos; se esses dados carregam preconceitos raciais, a IA inevitavelmente reproduzirá esses preconceitos.

Pesquisas da Wharton School mostram que algoritmos treinados em dados enviesados podem ampliar sistematicamente decisões discriminatórias, gerando consequências desastrosas em larga escala. Um exemplo dramático ocorreu quando o Google Fotos identificou imagens de pessoas negras como “gorilas”, expondo falhas graves em reconhecimento facial que reforçam estereótipos perigosos.

A Amazon também enfrentou problemas semelhantes. Seu algoritmo de recrutamento, treinado majoritariamente com currículos de homens devido ao histórico de contratação da empresa, acabou discriminando automaticamente candidatas mulheres. Isso ressalta claramente o perigo da automação sem supervisão consciente.

Esses exemplos não são isolados. O artigo “Eliminating Algorithmic Bias Is Just the Beginning of Equitable AI”, publicado pela Harvard Business Review, reforça que eliminar vieses algorítmicos é apenas o primeiro passo rumo a uma IA verdadeiramente equitativa. Os autores Simon Friis e James Riley argumentam que, mesmo após a remoção desses vieses, é essencial assegurar que a IA seja implementada para promover justiça social, particularmente para comunidades historicamente marginalizadas.

A oportunidade: programar a diversidade e a equidade

 

Por outro lado, existe uma oportunidade extraordinária: a IA pode ser utilizada como uma poderosa ferramenta para eliminar vieses e promover a equidade. Diferente dos preconceitos humanos, que são profundamente subjetivos, os algoritmos podem ser auditados, ajustados e transparentemente corrigidos.

 

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) brasileira reforça justamente esse ponto ao estabelecer, em seu artigo 6º, inciso VI, como princípio essencial a transparência e a auditabilidade dos sistemas automatizados. Ela exige que empresas acompanhem ativamente o funcionamento de suas ferramentas, garantindo que estas não promovam discriminação, especialmente racial.

 

Práticas de referência já começam a surgir em empresas líderes globais. Após enfrentar escândalos de discriminação algorítmica, Google e Amazon implementaram comitês de ética internos dedicados a supervisionar e ajustar regularmente seus sistemas de IA. Além disso, esses gigantes passaram a adotar práticas como treinamento com bancos de dados diversificados, auditorias regulares de resultados algorítmicos e processos internos rigorosos de validação ética.

Empresas inovadoras, como aquelas por trás de modelos avançados de IA, incluindo Claude e DeepSeek, estão incorporando desde o início mecanismos robustos de equidade. Elas reconhecem que, ao definir a diversidade e a pluralidade como parâmetros fundamentais em seus algoritmos, conseguem evitar os erros passados e construir confiança junto a clientes e reguladores.

 

A Harvard Business Review destaca claramente em diversos artigos que a gestão ética da IA não é apenas uma responsabilidade moral, mas uma vantagem competitiva significativa. Organizações que adotam práticas transparentes e responsáveis na gestão da inteligência artificial colhem benefícios claros: melhor reputação, maior confiança dos consumidores e menos exposição a riscos legais e éticos.

Uma escolha consciente

 

A inteligência artificial não precisa ser um espelho das desigualdades humanas. Líderes empresariais, advogados e profissionais de RH têm diante de si uma escolha clara: permitir que a IA amplifique injustiças históricas ou programá-la proativamente para apoiar um ambiente empresarial mais justo e inclusivo.

Se o racismo estrutural existe nas sociedades humanas, cabe aos líderes garantir que não seja perpetuado por ferramentas tecnológicas. Pelo contrário, é hora de utilizar o poder da IA para identificar, denunciar e corrigir práticas discriminatórias.

No final, a promessa da IA reside exatamente nisso: uma oportunidade inédita de construir, com transparência e responsabilidade, uma sociedade empresarialmente mais justa e menos preconceituosa. Essa não é apenas uma obrigação ética – é uma estratégia inteligente e lucrativa para empresas que desejam crescer sustentavelmente em um mundo cada vez mais atento e exigente.


[Os textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Raça]

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