Itália: primeiro país europeu derrotado num campo de batalha na África

Colunista: Zulu Araújo

A colonização italiana no continente africano, pode ser considerada de pequena monta, diante dos estragos produzidos pelos seus conterrâneos europeus. Isto porque, além de ser uma nação recentemente unificada (1870), era um país pobre e agrário, com dificuldades econômicas, políticas e sociais de todas as ordens.

A situação à época (final do século XIX) era tão crítica que mais de 25 milhões de italianos haviam migrado para outros países, inclusive o Brasil, por conta do estado de miséria que o país vivia.

Ainda assim, a Itália não se furtou a participar do assalto ao continente africano.

Esteve sob o domínio italiano, por mais de 60 anos, a Eritréia (1882), a costa da Somália, (1889) a Líbia (1911). A Etiópia (1935) foi um caso à parte, pois foi o único país africano a não ter sido colonizado e foi invadido pela Itália em 1936, durante a segunda guerra mundial, num ato de vingança do governo fascista de Mussolini. 

 Em que pese ter sido um dos períodos mais curtos de colonização de um país europeu na África, os estragos feitos pelos italianos não foram menores.

Mas, a grande referência da Itália no continente africano, ocorreu no dia primeiro de março de 1896, quando o exército italiano sofreu uma derrota humilhante, na chamada Batalha de Adwa (África Subsaariana) para o exército etíope.

Esse feito liderado pelo Rei Menelik II, da Etiópia entrou para a história mundial como o primeiro líder africano a derrotar um exército europeu, sendo considerado algo quase mítico.

Segundo o pesquisador etíope Tsegaye Tegenu, da Universidade de Uppsala, na Suécia, a “Batalha de Adwa ocupa um lugar único na historiografia africana e etíope”. Nessa batalha histórica os italianos que possuíam um exército de 18 mil homens e a arrogância do tamanho do continente europeu, enfrentou um exército de mais de 100 mil homens africanos, bem treinados e em poucas horas tiveram 7 mil deles mortos, 1,5 mil feridos, além de 3 mil capturados.

Essa derrota acachapante dos italianos, assustou os países europeus, pois simbolizava uma derrota não apenas da Itália, mas do próprio colonialismo, pois poderia pôr em risco todo o projeto colonial europeu. E para evitar novos dissabores a Etiópia foi deixada de lado durante um bom tempo. 

A partir dessa importante vitória, “A Etiópia começou a ser vista como a terra da pureza, onde o cristianismo não foi corrompido pela escravidão”, conforme afirma a historiadora do Centro de Estudos Africanos da Cidade do Porto, Patrícia Teixeira Santos.

Ao longo de anos, o ressentimento por conta desse vexame político militar, foi alimentado pelos italianos, que em 1936, voltaram a invadir a Etiópia, dessa vez comandados pelo ditador Mussolini, sob o pretexto de que era necessário recuperar a honra e o orgulho do povo italiano.

Nesse sentido, além de usar um exército de mais de 200 mil homens, fez uso, largamente, de armas químicas, (contando com a conivência dos países europeus) que já eram proibidas à época, para assim derrotar os etíopes, massacrando mais de 35 mil africanos.

Mas, ainda assim, essa aventura durou pouco mais de cinco anos, pois em 1941, a Itália se retirou definitivamente da Etiópia.

Enfim, embora escassa a presença italiana no continente africano também deixou sua marca de violência, destruição e ódio.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

Comentários

Comentários

About Author /

Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?