Jojo Todinho de direita, me conte uma novidade!

Zulu Araújo

A grande polêmica da última semana, nos campos LGBTQI+ e da política, foi a dura crítica que a Deputada Estadual Érika Hilton do PSol de São Paulo fez a cantora Jojo Todynho, chamando-a de “traidora”, após a mesma declarar seu voto para uma candidatura de extrema direita, para a Prefeitura do Rio de Janeiro. 

Além da declaração de voto, a cantora informou que vai retirar do seu playlist um dos seus maiores sucessos “ Arrasou, Viado” criada em apoio ao movimento LGBTQI+, tendo em vista não mais concordar com o conteúdo da música. 

“Se as pessoas colocaram algum tipo de expectativa em mim, isso é um problema delas, não meu”, afirmou a artista. 

Jojó deixou clara a sua posição política, afirmando “estar aliviada por finalmente poder se declarar uma “mulher preta de direita”, informando, inclusive que pretende se candidatar nas eleições de 2026.

Todo esse furor conservador de Jojó Todynho, ocorreu após ela ter se encontrado com a ex primeira dama do país, Michelle Bolsonaro, em um evento de campanha da extrema direita no Rio de Janeiro.

A Deputada Érika Hilton que é uma das grandes lideranças nacionais do movimento LGBTQI+, não perdoou nem deixou barato, e afirmou categoricamente: 

“Não é porque ela é uma mulher, negra, gorda, vinda da periferia, que ela não pode ser de direita. Não é sobre isso. Sabe qual é a diferença dela para todas essas pessoas que eu mencionei agora? É que nenhuma delas usou a agenda e a pauta das pessoas LGBT, dos seus direitos, como trampolim para chegar até lá”

E arrematou, “”Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”.

Em verdade, não há nenhuma novidade no fato de celebridades lacradores/as, como Jojó Todynho  se assumirem como figuras da extrema direita. Aliás, a lacração, tanto nas redes sociais como em programas televisivos, tipo BBBs tem sido há muito tempo a antessala desses movimentos políticos conservadores, em nosso país. 

Diria mais, é na origem do identitarismo norte-americano onde estão as digitais dos movimentos conservadores que tem assolado o mundo: individualismo extremado, intolerância religiosa, teoria da prosperidade, negacionismo, violência, etc. tem sido a marca registrada e usados como verdadeiros mantras de uma nova sociedade. 

O culto ao sucesso imediato, mesmo que seja a custo de bizarrices, escândalos, destruição de reputações e fake news tem sido as ferramentas utilizadas por todos e todas que pretendem ser protagonistas desse processo ameaçador. 

Portanto, Jojó Todynho é apenas mais uma personagem dessa trama macabra que tem cobrado um preço alto aos movimentos sociais organizados, não havendo, portanto, nenhuma novidade nesse gesto da cantora. Se tiverem alguma dúvida é só lembrar das estripulias de Karon Konká, Nego Di, Kleber Bambam, Edilson Buba, Felipe Prior, etc. nas redes sociais, revelando o desprezo que essas celebridades possuem com tudo aquilo que signifique democracia, inclusão e igualdade. 

Esse fenômeno que está ocorrendo mundo afora, é a prova concreta de que se não estivermos atentos para distinguir os movimentos em defesa da igualdade, do respeito a diversidade e de combate ao racismo da espetacularização promovida pelo identitarismo, estaremos fadados a jogar na lata do lixo, todas as conquistas alcançadas até o momento em prol do avanço civilizatório.

Por isso mesmo, tenho afirmado com frequência de que não é a cor da pele, o gênero ou a opção religiosa que definem a consciência crítica de quem quer que seja. A saída, portanto, é consolidar as conquistas alcançadas, estimular as organizações coletivas e defender radicalmente o Estado Democrático de Direito. 

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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