Gaúcha de Pelotas é responsável por grupo que valoriza profissionais negros dentro da Microsoft
Com 27 anos, Lisiane Lemos, natural de Pelotas, foi eleita pela revista Forbes, em 2017, como jovem de impacto no Brasil, integrando uma lista de 91 nomes. Formada em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), ela concluiu sua graduação em janeiro de 2013 e, desde então, tem construído uma carreira alicerçada em temas como igualdade racial e de gênero.
Lisiane vem de uma família de mulheres acadêmicas e, por algum tempo, acreditou que esse seria o caminho que seguiria também. “Eram professoras e líderes comunitárias”, detalha. Hoje, ela é especialista em Soluções de Suporte da Microsoft, por isso reside em São Paulo. “É um cargo de vendas focado em grandes empresas do mercado corporativo”, explica. Além disso, divide a liderança do Comitê de Igualdade Racial do grupo Mulheres do Brasil e da Rede de Profissionais Negros, faz parte do grupo consultivo do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) e atua como consultora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Muitas das grandes conquistas de Lisiane surgiram após um intercâmbio realizado na África através de um programa da Aiesec, Organização Não Governamental (ONG) mundial que desenvolve a liderança entre jovens. Foi ali que ela entrou em contato com o mundo corporativo. “Percebi que tinha vocação para a área de vendas e que aquele era meu desejo para mudança de carreira”, lembra.
Enquanto morou na África, Lisiane se candidatou para ser diretora de Desenvolvimento e Expansão da Aiesec em Moçambique. Sua função era entender os planos de sucessão de lideranças jovens, tratar com universitários sobre transformação social e dar suporte a projetos de intercâmbios e criação de novos escritórios. Após uma fratura no tornozelo e problemas financeiros, voltou ao Brasil, em novembro de 2013.
Nessa época, decidiu tocar a vida em São Paulo. “Ficar no Rio Grande do Sul não foi a minha primeira opção, porque as grandes multinacionais estavam em São Paulo. Esse cenário, hoje, mudou, mas, há quatro anos, era somente aqui”, salienta. Em seguida, conquistou a vaga na Microsoft.
“Para mim, a militância no mercado corporativo começou na entrevista, porque, diferentemente dos processos tradicionais, tive muitas perguntas relacionados ao meu propósito de vida, quais eram os meus valores”, afirma. “Sempre fui uma aliada do movimento LGBT e do de pessoas com deficiência. É sempre importante pregar a palavra aliada, porque não sou a protagonista desses movimentos”, complementa.
No momento em que Lisiane ingressava na empresa, ocorria uma transformação na companhia que propunha o aumento de funcionários negros. Por este motivo, passou a se formar um grupo que tratava justamente de assuntos ligados à igualdade racial.
A Microsoft Brasil virou a primeira filiada fora dos Estados Unidos do Black At Microsft, onde Lisiane teve o papel de fundadora. “Isso me deu uma visibilidade exponencial, porque tinha o branding da Microsoft e a empresa me respaldando e me dando força para falar que igualdade racial é um tema importante no mercado corporativo. A empresa decolou muito bem, e senti que aquele seria o meu lugar”, orgulha-se, por ver seus interesses pessoais indo no mesmo rumo da trajetória de trabalho.
Atualmente, com todas essas experiências, Lisiane lembra com orgulho do que teve de superar para chegar ao espaço que ocupa. “Já fui a única na minha escola, na minha universidade, no trabalho. Agora, já não sou mais no mercado de tecnologia. Se outras mulheres negras não se enxergarem e pensarem que esse lugar também pode ser delas, vou continuar sozinha aqui, o que não é o objetivo. Melhorou, mas ainda tem muito a fazer. A gente segue sendo a maioria no desemprego e entre as pessoas de baixa renda.”