Jovem negra diz ter sido vítima de agressão racista em formatura

A formatura dos estudantes de engenharia civil da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ocorrida no último sábado, se transformou em um caso de polícia. Dandara Tonantzin Castro, 23 anos, recém-formada em pedagogia pela mesma instituição, foi ao Palácio de Cristal, em Uberlândia (MG), celebrar a formatura de um grupo de amigos que concluíam o curso, mas diz ter sofrido uma agressão por parte de três homens.

A pedagoga Dandara Tonantzin Castro, vítima de agressão em formatura da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) (Facebook/Reprodução)

A pedagoga Dandara Tonantzin Castro, vítima de agressão em formatura da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) (Facebook/Reprodução)

O motivo? Segundo ela, que é negra, tudo começou por causa de um turbante dourado que usava durante o evento. Em entrevista, ela afirmou que sentiu olhares de reprovação assim que chegou a formatura.“É uma formatura de cursos da engenharia, que hoje ainda são cursos frequentados por pessoas privilegiadas. Eu contava na palma da mão quantos negros tinham na festa”, disse. Em um relato que fez na sua página no Facebook, ela escreveu: “Negros na formatura? Na limpeza, segurança ou servindo.”

A confusão começou por volta das 6h. Ao final da formatura tradicional dentro do salão, um espaço foi montado no lado de fora para que abrigasse um “fim de festa”, com um trio elétrico e barracas de comida. Neste momento, Dandara diz ter se distanciou dos amigos ao encontrar um conhecido, que estava se apresentando junto com o trio e pediu que ela fizesse um vídeo do momento. O registro teria sido interrompido por um homem, branco, que “puxou forte meu turbante“, segundo ela.

Depois de uma discussão ríspida, em que ele teria dito que ela “parecia uma gueixa”, Dandara saiu andando, mas voltou a encontrar o homem. Dessa vez, segundo ela, ele retirou o turbante, derrubou-a no chão e chamou os dois amigos que, juntos, jogaram cerveja na pedagoga. Na sequência, ela procurou a segurança da festa, que identificou os homens e os expulsou do evento, que teriam saído justificando que “só terem tirado o turbante”.

Namoradas dos três homens teriam procurado a segurança e pedido que a pedagoga também fosse expulsa, mas não foram atendidas. Mesmo se julgando agredida, ela disse que optou por ficar até o final do evento. “Nós decidimos ficar até o final para mostrar que esse também é o nosso lugar”, disse ela, que participa do movimento Enegrecer e do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR).

Delegacia

Dandara foi à polícia, mas teve um desentendimento com a delegada de plantão, que se recusou a qualificar o caso como racismo – foi registrado como agressão. “Ela [delegada] forçou para que eu trouxesse algo mais concreto que eles tivessem dito, para comprovar isso [a motivação racial]”, afirmou Dandara, que apontou a “falta de preparo” dos policiais da cidade.

A pedagoga argumentou, no entanto, que “quem tem que se dizer se foi racismo ou não é quem sofreu a violência”. Segundo ela, um elemento que explicita as motivações preconceituosas da agressão foi a procura direta pela peça em sua cabeça. “O turbante é mais que uma roupa para compor o look do dia. É um elemento, um símbolo das religiões de matriz africana, então tem o aspecto racial e também da intolerância religiosa”, concluiu.

Posições

A casa de eventos Palácio de Cristal afirmou que “lamenta o ocorrido em suas dependências e esclarece que os fatos se deram entre convidados do evento”. Na avaliação da empresa, os seguranças agiram corretamente, “dentro dos limites legais e de acordo com seus treinamentos, sempre respeitando todos os envolvidos, sem fazer distinção de qualquer natureza entre eles.” O Palácio de Cristal afirmou também que “repudia veementemente todo e qualquer tipo de preconceito e/ou discriminação de qualquer natureza, prezando sempre pelo respeito incondicional a todas as pessoas”.

Em nota, a UFU também ressaltou seu repúdio a “todas as situações de discriminação, preconceito, exclusão, violência e intolerância”. Em relação ao caso relatado por Dandara, a universidade ressaltou que o episódio ocorreu fora do âmbito da instituição, mas que está “apurando as informações”.

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