Kamala Harris – Mulher, Negra e Empoderada

 

E o movimento “Vidas negras importam” que mobilizou milhões de pessoas mundo afora, em especial nos EUA, no combate a violência policial contra os negros norte-americanos, continua produzindo resultados, e neste caso, positivo. Dessa vez a noticia é pra lá de auspiciosa. É uma grande vitória para o ativismo feminino negro. O candidato democrata à Presidência da República – Joe Biden, que foi o vice do Presidente Obama, acaba de escolher uma mulher negra para compor a chapa que irá enfrentar o candidato republicano Donald Trump.

O nome dela é Kamala Harris. Foi a primeira promotora geral negra do Estado da Califórnia e atualmente é Senadora pelo referido Estado. Possui atuação destacada no campo de combate ao racismo estrutural e a violência policial, embora seja conservadora nas questões de segurança e moderada na pauta dos costumes.

Em verdade, é uma grande cartada política do Partido Democrata respondendo há um só tempo ao racismo explicito do candidato republicano assim como a agenda política das milhões de pessoas que foram as ruas após a morte do afro americano George Floyd. Mais que isto, é um passo adiante na direção do enfrentamento do machismo e do racismo, elementos fortemente presentes na sociedade norte americana. Ou seja, é para se comemorar.

E neste sentido, por mais que queiramos tangenciar, é inevitável a comparação com a realidade política brasileira. Por aqui, infelizmente ainda estamos longe de alcançar este patamar. Dois grandes temas têm consumido a pauta do movimento negro brasileiro, nas redes sociais: o racialismo e o colorismo. Estas são pautas altamente desagregadoras da frágil unidade política duramente conquistada pelo movimento negro, nos últimos 30 anos.

Para quem não é iniciado no assunto, explico: Racialismo é o estabelecimento da cor da pele como o principal referencial na luta de combate ao racismo, já o Colorismo é o estabelecimento de hierarquia política e social dentro da comunidade negra, a partir do percentual de melanina que cada pessoa possui. Protagonizar essa discussão num momento de retrocesso político agudo como o que estamos vivendo, aliado a uma questão cultural de difícil trato que é a miscigenação brasileira, e temos o cenário ideal para a autofagia.

Importante registrar que tem havido forte reação a estas pautas por parte de lideranças importantes do movimento negro, bem como de intelectuais que apontam com clareza que para o combate eficaz ao racismo no Brasil é fundamental, além da unidade do movimento negro, não apenas o apoio, mas

a participação ativa de não negros, particularmente os brancos, visto que a herança escravista ainda se faz presente a olhos vistos.

Portanto, essa sinalização vinda do EUA, pais reconhecidamente racista, machista e segregacionista, não deixa de ser positiva para o enfrentamento de questões assemelhadas por aqui. Brancos e negros, juntos na luta pela igualdade de gênero e racial. Diria mesmo, que em alguns aspectos esses temas por aqui são até mais graves do que nos Estados Unidos, por conta da tradição de impunidade que ainda é regra geral no país, o que faz com que frequentemos os índices mais altos de violência contra a mulher e contra os negros.

Enfim, torçamos que para além da simbologia que a presença de Kamala Harris na chapa Democrata possa ter que venha a contribuir efetivamente para o fortalecimento da luta das mulheres, em particular das mulheres negras no mundo e do combate ao racismo em geral.

Toca a zabumba eu a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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