Revista Raça Brasil

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KL Jay e o poder da música no combate ao racismo

O evento “O poder da música no combate ao racismo” foi uma iniciativa relevante e necessária em tempos nos quais o combate às desigualdades raciais ainda precisa de ações consistentes e contínuas. Promovido como um espaço de escuta, troca e conscientização, o encontro proporcionou ao público a oportunidade de refletir sobre o papel transformador da arte – em especial da música – como linguagem potente na luta por justiça social. A presença de dois nomes de destaque no cenário musical brasileiro, KL Jay, DJ dos Racionais MC’s, e DJ Will, agregou uma camada de autenticidade, vivência e profundidade ao debate, uma vez que ambos têm trajetórias marcadas pelo uso da música como ferramenta de denúncia e transformação.

KL Jay, com sua história diretamente ligada ao rap e à luta contra a exclusão social e o racismo, reforçou durante o evento a importância de ocupar espaços com responsabilidade e consciência. Sua fala, marcada por emoção e firmeza, ressaltou que a música vai além do entretenimento: ela é também instrumento de resistência, educação e mobilização. Ao levar mensagens potentes às periferias, às escolas e aos palcos, a música negra brasileira tem ajudado a formar novas gerações mais críticas e conscientes. DJ Will, por sua vez, compartilhou vivências semelhantes e reforçou como a cultura negra, por meio da arte e da criatividade, tem sido essencial para abrir caminhos e romper silenciamentos históricos.

No entanto, apesar do impacto simbólico e da relevância de encontros como este, é preciso fazer uma reflexão mais profunda: até que ponto eventos pontuais são suficientes para enfrentar a complexidade do racismo estrutural? O racismo no Brasil não é apenas um problema de atitudes individuais ou de preconceitos isolados – ele está presente nas instituições, nas relações sociais, nas estruturas econômicas, no sistema de justiça, na educação, na mídia e no mercado de trabalho. É um problema sistêmico, que exige um enfrentamento igualmente sistêmico.

A metáfora usada por KL Jay durante o evento – “o racismo é como morar em uma casa que está desabando” – ilustra com força e precisão a urgência da causa. Para quem vive diariamente o racismo, não há como relaxar ou ignorar os perigos: tudo à sua volta está em colapso, e sobreviver exige constante esforço, atenção e, muitas vezes, sacrifício. No entanto, reconhecer a gravidade do problema não basta. É preciso agir. É fundamental que essa metáfora mobilize não apenas a emoção, mas também políticas públicas de reparação, programas de inclusão e estratégias de transformação real da sociedade.

Combater o racismo exige muito mais do que discursos: é preciso implementar políticas de ação afirmativa, investir em educação antirracista desde a infância, garantir o acesso equitativo a oportunidades e valorizar as vozes negras nos espaços de poder. A luta contra o racismo também precisa ser uma prioridade de empresas, escolas, universidades, veículos de comunicação e instituições governamentais. Cada um desses espaços tem responsabilidade na construção de um país mais justo.

Por isso, eventos como “O poder da música no combate ao racismo” são importantes, sim – pois contribuem para a sensibilização, promovem escuta ativa e valorizam narrativas negras. Mas não podem ser ações isoladas ou simbólicas. Devem fazer parte de um plano contínuo e articulado de enfrentamento ao racismo, que inclua a escuta das comunidades afetadas, a reparação de desigualdades históricas e a promoção efetiva da equidade racial.

A música tem o poder de tocar onde muitas vezes a política não chega. Ela fala direto ao coração, conecta experiências e desperta consciências. Por isso, ao lado de outras frentes – como educação, políticas públicas, comunicação e representatividade – ela deve ser reconhecida e fortalecida como parte essencial do combate ao racismo. Como nos lembra KL Jay, não basta apenas ouvir: é preciso agir para que a casa não desabe de vez – e sim, seja reconstruída sobre alicerces de igualdade, dignidade e justiça.

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