Lideranças femininas para um futuro de inclusão

A RAÇA está diretamente ligada com empresas que pensam no futuro e inclusão e entrevistamos a CEO da LIDE FUTURO que mudou a perspectiva através da liderança feminina. Laís Macedo é formada em Relações Públicas e pós graduada em administração estratégica, especialista em marketing de relacionamento, experiência, impacto e influência.

Ela foi responsável pela expansão nacional e internacional do LIDE, que é hoje a mais qualificada plataforma de networking, conteúdo e experiência entre jovens lideranças brasileiras. Laís criou e lidera o W LIDE FUTURO, braço de empoderamento com base na competência, diálogo e atitude da mulher. Com uma ampla e qualificada rede de networking, acredita no poder das conexões e de uma rede bem consolidada. Ela falou exclusivamente com a RAÇA sobre suas experiências e como se transformou em uma grande mulher empreendedora.

RAÇA: Fale um pouco sobre você

LAIS: Mineira por criação, paulista por vocação, eu sou uma apaixonada por pessoas, conexão, networking e por tudo que deriva da oportunidade de ser ponte entre pessoas e oportunidades. Eu tenho uma alma inquieta, o que justifica eu ser uma pessoa que é bastante entusiasmada para carregar um CNPJ, sou bastante corajosa, mas ainda tenho um pouco de medo e, ainda bem, ele é meu aliado, porque é o que define um limite na alma do empreendedor e tenho sonhos enormes. Então, o que me move, coloca-me em estado de evolução, desenvolvimento e é algo que me faz sentir viva. Eu vibro por aquilo em que eu acredito, o que é curioso, porque é muito fácil saber quando algo pode dar certo ou não ao meu lado, liderado por mim, algo com que eu me envolvo que é quando há entusiasmo por aquilo que eu vibro, eu realizo e se eu vibro por algo é porque eu acredito. Acho que posso me definir assim, uma apaixonada por sonhos, planos, pessoas, networking e com uma energia gigantesca, com vontade de fazer acontecer em cada lugar em que tenho a oportunidade de chegar.

RAÇA: Quando você virou sócia do Lide, era a única mulher entre mais 11 sócios homens. Você acha que as mulheres ganharam mais espaço nas empresas, nesses últimos anos?

LAIS: Sim, com certeza. Em parte porque temos uma sociedade em evolução, ainda bem, acho que com tantos preconceitos e com tanto viés inconsciente e às vezes infelizmente consciente, acredito que quando começamos a expor o problema, começa a não aceitar o cenário e começa a falar sobre ele e também questionar, a gente já cria um cenário de mudança, obviamente se é no sentido de construção e não de conflito, mas temos uma sociedade hoje que acredito que está bastante orientada para a construção, uma sociedade que questiona porque não concorda e constrói. Acredito que é um movimento coletivo da sociedade e do mercado para que a gente mude esse contexto. Vejo o copo meio cheio e penso: sou uma mulher entre 11 homens, ainda bem já sou uma, mas obviamente temos que entender que um dia seremos 6 em uma sociedade de 12 pessoas. O processo é longo, o caminho é sinuoso, mas a gente tá em movimento; então, é acelerar na direção dessa mudança, porque as coisas estão melhorando, é um lugar que ocupo hoje com 32 anos, que antigamente era impensável para minha mãe, por exemplo. Estamos mudando sim, estamos ganhando espaço, estamos ganhando vozes porque deixamos de agir sozinhas, está virando um movimento coletivo, enquanto há esse apoio de quem fica indignado com o mundo tão singular em que vivemos, quanto mais gente trazemos para um lugar de consciência, maior se torna o movimento e mais força temos para mudar. 

RAÇA: Quando você chegou a São Paulo tinha objetivos definidos. Alterou ou adaptou algum deles?

LAIS: Cheguei a São Paulo sem saber o que eu ia encontrar, sabia que eu sonhava gigante e nunca trabalhei como estagiária, embora eu fosse uma, sempre agia de forma maior, eu queria ser mais e nunca foi ganância, sempre foi ambição. Eu vim para cá com uma chance só, para os meus pais foi um esforço gigante para me tirar de casa com 18 anos e colocar para estudar, eu tinha que honrar essa única chance, tinha que fazer acontecer e tinha que fazer história. Desde o início eu me virei, e entendi no começo mesmo que seria o networking que construiria minha história, não à toa, desde o início da faculdade fui representante de classe, de curso, de calouro, me envolvi muito, fui até presidente da comissão. Nos espaços que tive oportunidade de transitar, eu transitava com responsabilidade e com muita consciência da oportunidade de me relacionar e isso foi me ajudando muito. Essa consciência eu tinha, talvez eu não soubesse naquela época verbalizar com tanta maturidade e clareza como faço agora, mas já sabia que essa consciência existia. Os meus objetivos eram esses, eu queria crescer, queria construir uma carreira, queria construir uma história, nunca disse que queria ganhar uma quantidade x  queria muitos lugares, que obviamente eu atrelava sim a uma das recompensas o fator financeiro, mas era muito motivado ao desejo de viajar, conquistar minhas coisas e mudar a vida dos meus pais. Nunca foi sobre um sonho só, mirar um lugar só ou então o dinheiro, foi sempre um grande coletivo, várias coisas me movem, eu cheguei a São Paulo sonhando gigante com todas elas e quando eu entrei no LIDE, foi ali que eu tive a certeza que era ali que queria construir minha história, eu dizia muito que queria ser gerente antes dos 25, diretora antes dos 30; sinto que a gente tem que tomar cuidado com o que a gente deseja porque as coisas a que a gente se dedica e que fazem o bem, temos que ter valores, quando se faz o bem sem passar a perna em ninguém, quando faz as coisas no timing correto da vida, faz as coisas com amor, com verdade e trabalhando no seu máximo, as coisas vão acontecer. Eu digo isso, porque me tornei gerente ao 25 e me tornei CEO do LIDE Futuro antes dos 30, eu realizei, acho que eu nem tinha noção do tamanho do lugar que eu sonhava, porque depois que eu ocupei, foi muito mais pesado do que eu pensava. Mas então a resposta é: estão definidos? Não sei, possivelmente não, porque eu não conhecia aquilo que eu podia sonhar, eu vinha de uma cidade com 35 mil habitantes, eu nunca tinha falado com uma pessoa que trabalhava em um empresa grande, nunca tive contato com uma liderança, um executivo, nem sabia o que era ser um presidente, mas que eu sonhava grande eu sonhava, o que eu entendi é que com o tempo eu fui apenas nomeando o sonho, porque ele já existia.

RAÇA: Qual a sua maior conquista até agora? Tem mais objetivos?

LAIS: Eu vejo minha vida com muitos marcos e é até curioso, cheguei à gerência do Lide e foi uma grande conquista, eu nomeava essa conquista mas não nomeio mais, porque ela chegou junto com o burnout, então fica muito subjetivo, o que é conquistar? É conquistar a qualquer custo? Eu olho a fase seguinte, que é a sociedade com os meus 11 homens e entrar no Lide futuro como sócia e CEO, como mais uma conquista e aí já com mais maturidade e que veio acompanhada de uma consciência da importância da minha qualidade de vida, meu bem-estar, então aí eu olho com mais carinho e reconhecimento para essa conquista, não desmerecendo a gerência, mas eu estou reconhecendo a consciência de uma conquista coletiva. É muito injusto e cruel com a gente quando a gente atribui realização à caixinha profissional e deixa de lado nosso bem-estar, a nossa vida, o nosso cuidado, a nossa família, os nossos amigos e as nossa relações. Então eu revisito, nomeando algumas fases como grandes marcos, mas eu também poderia dizer que no dia de hoje, estou rumo a minha maior conquista. Desejo mesmo que a partir do próximo mês eu possa formalizar, dizer, anunciar que a minha maior conquista foi realização do summit Future is Now. Eu digo isso porque sinto que estou no meu máximo, no máximo do meu sonho, do meu trabalho, da minha entrega, estou colocando em prática coisas que eu não trouxe até agora como aliadas como a minha vulnerabilidade, aprendi a pedir ajuda, estou deixando meu impostor de lado, não estou me sabotando, estou me colocando firme e forte nesse sonho. Espero daqui a pouco dizer que essa foi a minha maior conquista, hoje eu posso dizer que foi ter entrado na sociedade. Eu não sabia que eu era capaz, eu nunca me imaginei nesse lugar de tanta oportunidade e acho que só fui o reflexo do meio, eu convivo com tanta gente incrível, que realiza tanto o impossível que a gente desconstrói essa ideia, o impossível é só uma questão de opinião.

RAÇA: Conte um pouco mais sobre W LIDE FUTURO.

LAIS: O W LIDE Futuro veio da minha indignação quando eu entrei no grupo, porque eu via que para entrar no grupo você precisava se aplicar ou ser indicado, o ponto era: mais de 90% das aplicações vinham de homens, as indicações eram de homens, então eu questionava e dizia que as mulheres existem, eu não acho que a gente tem que abaixar a régua, as lideranças femininas existem, mas elas não são projetadas, reconhecidas. Eu me perguntava o que estava acontecendo e comecei entender que elas não se sentiam parte. Quando a gente descrevia o perfil da liderança do LIDE Futuro trazendo tantos elementos de uma liderança sênior, potente, madura, qualificada, as mulheres não se reconheciam nesse lugar de potência, o que é um imenso absurdo. A gente sabe que a mulher se cobra demais, tem que estar infinitamente mais segura que um homem que está equivalente ao dela em termos de carreira. Então o W foi um convite para as mulheres chegarem, nós fizemos vários eventos na construção do W e uma mulher filiada ao LIDE Futuro poderia trazer outra, eu dava as boas-vindas e dizia: começa que aqui é um grupo liderado por uma mulher e aqui quero que vocês se sintam reconhecidas e parte e ali era um estímulo para que elas se filiassem.

RAÇA: O maior público da revista Raça é composto por mulheres. O que você diria para as mulheres que estão começando a liderar?

LAIS: Eu diria algo que eu amo, que é a minha filósofa, Simone de Beauvoir, uma entusiasta do movimento feminista, uma francesa que elevou muito o lugar da mulher com base nos seus questionamentos, na sua indignação e no seu posicionamento. Ela tem uma frase que eu amo que é assim: Que nada nos defina, que nada nos sujeite, que a liberdade seja nossa própria substância já que viver é ser livre. Eu adoro essa frase e meu grande conselho é esse: a gente não pode mais aceitar ser encaixada, já nos definiram e  nos limitaram por tanto tempo. Ocupamos lugares tão pequenos, porque nos contaram que era lá que a gente deveria estar; isso é cruel, nós quando olhamos para dentro sabemos que há muita potência ali e que nós podemos chegar aonde nós desejamos, o ponto é que o externo não nos passava essa mensagem, não nos encorajava; então, a gente não colocava esse lugar de potência para jogo, para realização; que agora a gente possa olhar para o lado e ver outras mulheres nesse externo como esse lugar de referência, então colocar essa nossa força, esses nossos sonhos, essa nossa vontade de realizar gigante a favor daquilo que a gente quer ser, do lugar que a gente quer ocupar. Então se entreguem, acreditem em vocês, entendam aquilo que vocês têm como potencialidade, assumam uma liderança autêntica, uma liderança horizontal, escutem, não aceitem ser definidas, encaixotadas, não aceitem nenhum tipo de assédio, exponham, questionem o tempo todo, não se calem em nenhuma situação onde contarem que você deve permanecer calada e você sabe que o silêncio não é o que tem que habitar ali e sejam vulneráveis, porque por muito tempo uma mulher vulnerável era uma mulher frágil, era TPM, é ser vulnerável sim e se eu estou de TPM hoje e eu não estou em um bom dia, está tudo bem, essa é a minha biologia. Até piada com a minha TPM era algo que me incomodava, é a minha biologia e minha TPM é severa e nesse dia não sou uma boa liderança, eu fico instável emocionalmente, isso faz de mim uma executiva pior? Não, mas faz de mim uma pessoa mais humana. Desse pequeno exemplo para qualquer outra situação que nos eleve para uma condição onde a vulnerabilidade é necessária, sejamos vulneráveis, sejamos seres humanos. 

RAÇA: Ainda não é tão comum termos CEOs mulheres. Quais os caminhos para mudar isso?

LAIS: É o que eu dizia há pouco: temos referências, é chegar aqui e entender que é um lugar de responsabilidade. Antes eu falava: que oportunidade estar aqui, mas não, é responsabilidade. Responsabilidade chegar aqui e trazer mais alguém, é abrir espaço, é chegar num lugar em que minha voz é ouvida e ocupar ele com responsabilidade, é questionar, é não aceitar, é perguntar se eu tenho possibilidade de influenciar um espaço, uma situação influenciar pelo que eu acredito e o que eu acredito. É na diversidade, sendo a presença de mulheres em cargos de liderança, um programa de desenvolvimento, reconhecimento, valorização da mulher em todos os contextos e é por isso que eu vou lutar. Então o caminho pra mudar isso é o exemplo, é o questionamento, é o movimento e a referência.  

RAÇA: Você é bem engajada quando se trata de inclusão. Como é isso?

LAIS: Me deixa muito indignada essa replicação de semelhantes, de pares. A gente quer uma sociedade plural, nós questionamos os modelos; mas quando a gente se reúne para tomar uma decisão, para se desenvolver, olhamos para os lados e somos todos iguais e eu me encaixo nisso, quando eu olho para o meu ambiente eu me vejo na bolha e o que isso significa? Meu repertório é singular, a minha rede fica singular e os meus movimentos também, então hoje eu faço tudo que eu posso para eu estar o mais distante possível só dos semelhantes, para viver plural, para conhecer realidade que não é a minha, escutar pessoas que ocupam lugares que eu não ocupo, por mais que a gente trabalhe empatia, temos que entender o outro, a dor do outro, ouvir e se sensibilizar, por quê? A partir desse repertório plural, sem preconceitos e de muita interação com pessoas tão diferentes de nós, é que esse repertório nos traz a possibilidade de ser agente de transformação, que a gente fica indignado. Eu trago isso, porque o summit é isso, sou eu não concordando com um monte de coisa que eu vejo no mercado e usando do meu lugar de influência para mudar. O que eu tô dizendo, hoje eu vejo um monte de fóruns de CEOs e quando você chega lá, está repleto de gente igual, homem, branco, cis e se a gente quer mudar, mas o fórum de tomadores de decisões está dentro da bolha, a gente muda como? Então eu vou questionar, eu quero questionar esse modelo, eu quero questionar empresas que são diversas, que levantam essa bandeira com tanta propriedade e a gente vê que elas fazem movimentos muito coerentes de fato de diversidade dentro e fora, mas que vão lá e chancelam um palco como esse, chancelam um evento como esse. Meu grande sonho é que as empresas passem a questionar: eu vou patrocinar seu evento, mas posso saber quantas vagas negras? Quantas mulheres? Qual é a idade? Que a gente questione, hmm não tem? Não tem representatividade? Não me representa. É esse mercado com que eu sonho e é por isso que eu luto, porque eu acredito que enquanto a gente andar como nossos semelhantes, vai continuar igualzinho e do jeito que está não dá para continuar.

Comentários

Comentários

About Author /

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?