Laurentino Gomes lança epílogo sobre a escravidão
Novo volume compreende o período que vai da Independência do país até a promulgação da Lei Áurea; autor diz que o tema é o mais relevante da história brasileira.
Ao colocar o ponto final em “Escravidão: Da Independência à Lei Áurea” (Globo Livros), o escritor e jornalista Laurentino Gomes admite que respirou “muito aliviado”. Terminava ali uma jornada de uma década de trabalho em cima do tema que ele considera o “mais importante do país” e que acabou definindo o futuro da sociedade brasileira.
“Só agora é que me dei conta do tamanho do desafio que tive. Acho que, se soubesse disso antes, ficaria com um pé atrás de seguir adiante”, afirma. Com o volume, ele chega ao fim da trilogia “Escravidão”. As três obras, lançadas a partir de 2019, percorreram três séculos e meio da história do Brasil, o maior território escravista do hemisfério ocidental e o último a abolir a escravidão – de forma precária e improvisada, em 1888, como o novo livro mostra.
“Só agora é que me dei conta do tamanho do desafio que tive. Acho que, se soubesse disso antes, ficaria com um pé atrás de seguir adiante”, afirma. Com o volume, ele chega ao fim da trilogia “Escravidão”. As três obras, lançadas a partir de 2019, percorreram três séculos e meio da história do Brasil, o maior território escravista do hemisfério ocidental e o último a abolir a escravidão – de forma precária e improvisada, em 1888, como o novo livro mostra.
As histórias e os personagens que ele recupera com prosa fluida são fruto de extensa pesquisa bibliográfica (cerca de 200 livros) e in loco (viajou por 12 países, oito deles em território africano). Suas duas trilogias (a primeira abrange os volumes “1808”, “1822”, que ganhou edição comemorativa do bicentenário da Independência, e “1889”) somam 3,5 milhões de exemplares vendidos.
Quando os fazendeiros se sentiram traídos pelas leis do Ventre Livre, dos Sexagenários, pela Lei Áurea, o próprio império desaba. Não é por acaso que a república vem um ano depois do fim da escravidão. Os fazendeiros se sentiram traídos e migraram para a campanha republicana. A monarquia era um gigante dos pés de barro, e os pés de barros eram a escravidão. Quando ela deixou de existir, o gigante desabou”. – Laurentino Gomes, autor da trilogia “Escravidão”
O autor começa, no próximo sábado (2/7), a partir da Bienal do Livro de São Paulo, uma turnê de lançamento que vai percorrer, durante dois meses, nove estados. Laurentino estará em Belo Horizonte em 18 de julho, autografando “Escravidão III” na livraria Leitura do Pátio Savassi. “Hoje, não consigo olhar o Brasil sem colocar a questão racial e a desigualdade social no primeiro plano das minhas análises”, afirma.
Na introdução do novo volume o senhor destaca como a jornada de uma década para escrever a trilogia mudou a sua maneira de pensar a “questão do negro” no Brasil.
Fiz questão de ressaltar isso porque acho que nós estudamos história para entender quem somos hoje. Hoje, não consigo olhar o Brasil sem colocar a questão racial e a desigualdade social no primeiro plano das minhas análises. Como dizia o Joaquim Nabuco: ‘A escravidão marcou e determinou profundamente o futuro da sociedade brasileira’.
Achava certo exagero falar de genocídio negro no Brasil. Sempre tive na cabeça que genocídio era o Holocausto judeu. E pensava: ‘o objetivo do tráfico negreiro e dos senhores escravocratas não era matar os negros, porque eles eram um ativo econômico’. Essa contradição eu tinha certa dificuldade de entender.
Mas aí percebi que existe, sim, um genocídio de natureza cultural, de apagar a história, as raízes africanas, a identidade negra, como se o Brasil ideal fosse um Brasil branco, como se o sangue (negro) tivesse corrompido a índole brasileira. Sob este aspecto, observo que hoje existe, sim, um genocídio em andamento.
Ele acontece tanto nas mortes brutais que a gente vê todos os dias, quanto no apagamento deliberado da memória da escravidão e da vida africana no Brasil. Só muito recentemente, a partir de 2003, a história da África e da cultura afro-brasileira passaram a fazer parte dos currículos escolares. Para mim, isto é um aspecto de genocídio silencioso, que não inclui necessariamente a eliminação física das pessoas, mas sim de sua identidade.
Entrevista completa: Estado de Minas