Durante o lançamento de seu novo livro, “Na nossa pele”, ator fala sobre o despertar para a leitura e o desejo de criar uma editora para novos talentos.
Durante o lançamento de seu novo livro Na Nossa Pele, ontem (26/03), na livraria da Vila no Rio de Janeiro, o ator e escritor Lázaro Ramos concedeu uma entrevista exclusiva à jornalista Flávia Cirino para a Revista Raça. No bate-papo, Lázaro compartilhou memórias de sua relação com os livros e revelou um grande sonho: criar uma editora para impulsionar novos talentos da literatura.
“Talvez esse seja um dos meus maiores sonhos: produzir pessoas, indicar pessoas que escrevem. Não sei se tenho esse talento, mas vou indicando e fazendo esse serviço aí, porque tem muita gente talentosa escrevendo, produzindo, criando e que merece espaço”, afirmou o artista, reconhecido por seu engajamento com a cultura e a valorização de vozes negras.
Lázaro também relembrou sua trajetória como leitor, revelando que, na infância, não tinha interesse pelos livros. “Eu era um péssimo leitor, lia porque achava que era obrigação da escola. Até que, com 15 anos, comecei a ler livros relacionados à minha profissão, a ler biografias, e entendi que, se não quisesse continuar um livro, poderia parar. Foi aí que descobri que o livro é um lugar de prazer, de companhia, de alegria, de aprender coisas — um lugar onde eu nunca me sentia sozinho. Daí eu viro um leitor e agora leio todos os dias.”
Na nossa pele
Em Na nossa pele, um Lázaro mais maduro entrelaça fatos de sua vida íntima com reflexões sobre o ofício de artista e outros temas como as pautas raciais, emancipação e mobilidade social. Ao estabelecer uma ponte com inúmeras outras personalidades negras, mostra como seus pensamentos e ações são forjados numa mesma ancestralidade. Assim, são muitas as vozes que habitam as páginas deste livro. A mais importante delas é a de sua mãe, Célia Maria do Sacramento, que faleceu quando ele tinha apenas dezoito anos. Mais maduro e ciente das complexidades de sua própria história, Lázaro se sente finalmente pronto para compartilhar as memórias da mulher que foi sua maior inspiração.
Lázaro também convida seus leitores e leitoras a refletirem sobre a vida e seu lugar no mundo. Partindo da premissa de que não existem respostas simples para questões complexas, acredita que a efetiva conquista da emancipação, a individual e a coletiva, é ainda um enorme desafio. Devemos retomar a aparentemente velha e esquecida ideia de que o melhor caminho é aquele que inclui a equidade, o valor à vida, o respeito às diferenças, o cuidado com o meio ambiente, a proteção à infância e a retomada da alegria — mas não a alegria que anestesia, e sim a alegria revolucionária, transformadora. Do lançamento de Na minha pele para cá, muita coisa mudou. Foram inúmeras as conquistas, e Lázaro comemora cada uma delas, mas será que a importante e necessária ascensão da população negra já alcançou toda a sua plenitude?