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Liberdade é Pertencer: carreira, dinheiro e o poder de escolha

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Jandaraci Araújo

Executiva, conselheira e uma das principais vozes em governança, ESG e inovação no Brasil. Com mais de 30 anos de atuação nos setores público e privado, em temas relacionados a interseção entre finanças, sustentabilidade e transformação digital. Mestranda em Administração pela FGV, com ênfase em Bioeconomia e Finanças Sustentáveis, tem formação internacional por instituições como UCLA, Kellogg e EADA. Co-fundadora e Presidente do Instituto Conselheira 101, é reconhecida por sua liderança, Top Voice no LinkedIn, professora, escritora e TEDx Speaker.

Sempre que me perguntam o que é sucesso, respondo com clareza: sucesso é liberdade. Liberdade para escolher onde estar — e onde não estar. Liberdade para recusar o que nos adoece. Liberdade para pertencer com dignidade, e não por necessidade. Essa liberdade não é utopia. É construção. E começa com uma conversa que, por muito tempo, nos foi negada: a conversa sobre dinheiro.

Quando o sucesso chega, mas a escassez permanece

É possível ter cargo, salário, título — e ainda assim sentir-se presa. Porque sem educação financeira, o sucesso se torna uma prisão com paredes de vaidade, silêncio e endividamento. É sobre isso que precisamos falar. Principalmente nós, profissionais negros e negras, que fomos educados a sobreviver, não a prosperar.

Crescemos ouvindo que dinheiro é sujo, que falar sobre finanças é indelicado, que o importante é “ter fé” ou “deixar nas mãos de Deus”. Muitos de nós carregam crenças profundas que sabotam decisões cotidianas: gastar para compensar dores, endividar-se para manter aparências, evitar investimentos por medo de perder tudo. Essas crenças moldam nossas escolhas — e nos mantêm no ciclo da escassez, mesmo quando a renda aumenta.

Em tempos de Bet’s, mais do que nunca precisamos de consciência

Vivemos a era do consumo performático. Redes sociais, roupas de grife parceladas, viagens internacionais com cartão estourado. A cultura dos “Bet’s” — black excellence trophy lifestyle — seduz. E cansa. Porque não há excelência sem descanso, sem saúde mental, sem reservas para emergências, sem liberdade para dizer: “isso não é para mim, e está tudo bem”.

Esse texto não é alienado. Não ignora a brutal desigualdade que enfrentamos, nem romantiza a meritocracia. Mas é, sim, uma conversa urgente entre nós, que muitas vezes rompemos o silêncio, mas não rompemos com a escassez.

Sete pactos para transformar sua trajetória com liberdade

  1. Pacto com a sua verdade: não viva para atender expectativas que te sufocam
    Você não precisa provar nada para ninguém. Sua trajetória não é medida por quanto consegue aguentar, mas por quanto consegue se preservar. O que te move de verdade? Priorize isso.
  2. Pacto com o não: aprenda a recusar o que não te alimenta — emocional ou financeiramente
    Dizer não é uma forma de autoproteção. Recusar convites, gastos ou vínculos que te colocam em dívida com sua própria paz é o começo da liberdade.
  3. Pacto com o dinheiro: rompa com as crenças que te mantém na escassez
    Dinheiro não é pecado. É ferramenta. Aprender a ganhar, guardar e investir é tão importante quanto aprender a dizer “sim” para si mesma. Falar sobre dinheiro entre nós é quebrar ciclos.
  4. Pacto com o tempo: voluntariado não pode virar invisibilização
    Ser generosa com seu tempo é bonito. Mas quando o voluntariado ocupa todas as horas do dia e consome sua energia vital, ele deixa de ser escolha e passa a ser mecanismo de apagamento. Tempo é capital — e precisa ser bem alocado.
  5. Pacto com o futuro: liberdade exige planejamento, não improviso
    Criar uma reserva, pensar na aposentadoria, diversificar fontes de renda — tudo isso não é sobre luxo, é sobre fôlego. É sobre não viver refém de emergências, nem depender de favores para existir.
  6. Pacto com o cuidado coletivo sem culpa: ser arrimo de família não pode ser destino fixo
    Apoiar quem amamos é nobre. Mas transformar apoio em obrigação vitalícia é perigoso — para você e para quem recebe. Quando assumimos sozinhos a missão de “resolver a vida” de todos ao redor, perpetuamos a dependência e anulamos nossa própria liberdade. Cuidar também é ensinar limites.
  7. Pacto com o pertencimento real: esteja onde você pode ser inteira, não onde precisa se esconder
    Você pertence onde não precisa se mutilar para caber. A autonomia financeira permite escolher com quem estar, onde trabalhar e quando sair. Liberdade é isso: caminhar com dignidade, não por medo.

Liberdade não é luxo: é dignidade

Falar de finanças, carreira e pertencimento na mesma frase é urgente — e libertador. Porque quem não tem escolha, não tem paz. E quem só sobrevive, não vive.

Planejar não é ignorar as dores do mundo. É honrá-las com responsabilidade. É entender que prosperar com propósito não é individualismo — é revolução pessoal e coletiva. É dar fim ao cansaço crônico que nos ensinaram a normalizar. É sair do lugar da sobrevivência e criar, finalmente, um novo capítulo: o da vida com autonomia, alegria e pertencimento de verdade.

Porque o maior sucesso é este: viver uma vida em que você escolhe, e não apenas aceita.

 

[Os textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Raça].

 

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