Numa entrevista ao Dia TV, Linn da Quebrada abordou o tema do vício com sensibilidade e profundidade, refletindo sobre suas causas emocionais e sociais. A artista mencionou o livro “Vício: O Reino dos Fantasmas Famintos”, do médico e escritor Gabor Maté, como uma obra que a ajudou a compreender melhor sua própria trajetória e a de tantas outras pessoas que convivem com o sofrimento psíquico
O livro parte da ideia de que o vício não é um problema isolado, mas uma tentativa recorrente de se autorregular emocionalmente diante de traumas, vazios existenciais e dores profundas não resolvidas. Nele, Maté reúne relatos de dependentes químicos e pessoas em diferentes tipos de compulsão, analisando como essas práticas funcionam como formas de anestesia para angústias que nem sempre encontram espaço para serem elaboradas socialmente.
Para a atriz e cantora, o vício muitas vezes surge como uma resposta desesperada à dor e à ausência de acolhimento. “É a forma como aprendemos a lidar com a vida quando não nos ensinaram outros caminhos”, afirmou. Ela reforça que, antes de julgar ou criminalizar quem está em situação de dependência, é preciso olhar para a história dessas pessoas — muitas vezes marcadas por abandono, preconceito e exclusão — e entender que o alívio proporcionado por certas substâncias ou comportamentos compulsivos pode ser, ainda que temporariamente, a única saída visível para o sofrimento. Esse olhar humanizado, segundo ela, é essencial para pensar em caminhos mais eficazes de cuidado, empatia e reabilitação.
Linn da Quebrada é uma artista multifacetada, com trajetória marcada pelo ativismo, pela música e pelo audiovisual. Ela ganhou destaque nacional ao unir arte e discurso político em suas performances, canções e aparições públicas, sempre reivindicando o direito à existência plena de corpos dissidentes. Participou do Big Brother Brasil, lançou o álbum Trava Línguas e estrelou o filme Bixa Travesty, que retrata sua vida e sua luta como uma mulher trans e preta da periferia. Sua voz potente vai além da música, sendo também uma importante referência no debate sobre saúde mental, gênero, sexualidade e pertencimento.
Ao falar abertamente sobre sua experiência com o vício e o processo de reabilitação, Linn quebra estigmas e ajuda a iluminar um tema frequentemente tratado com tabu e desinformação. O impacto de uma figura pública, especialmente uma artista trans e periférica, se posicionar com franqueza sobre sua vulnerabilidade tem um peso imenso na construção de um debate mais acolhedor e realista sobre dependência. Sua fala amplia o espaço para que outras pessoas também se sintam seguras para buscar ajuda e para que a sociedade repense seus preconceitos diante da complexidade do vício.