Literatuta Afrofuturista: O futuro negro em histórias de ficção

Imagem: Madu Sanffer

Já imaginou viver em um universo onde pessoas pretas vivem tranquilamente, não enfrentam opressão, violencias ou racismo? E melhor ainda, onde suas histórias são contadas de maneira grandiosa, em cenários que valorizam sua cultura e identidade? Pois é, ele não existe. Mas embora esse mundo incrível ainda não exista, ele já foi imaginado e reimaginado por meio da literatura afrofuturista!

No afrofuturismo, as narrativas que vivemos atualmente, não existem e as barreiras que a realidade impõe a pesoas pretas são rompidas. Existem autores que têm criado mundos onde pessoas pretas não apenas existem em papéis de protagonismo, mas também lideram jornadas impactantes, em viagens intergalácticas, dominam tecnologias inimagináveis e redefinem um futuro, que, acima de tudo, vivem livres de limitações, violencias ou preconceitos que nos foram impostos por séculos.

Essa magnífica utopia, onde narrativas negras estão no centro, em papeis de protagonismo, nos leva por viagens que não se limitam apenas a terras conhecidas. No afrofuturismo, o céu deixa de ser um limite para que exploremos o espaço, o tempo e a própria realidade, sempre explorando e ressignificando em nossas mentes, cenários criativos que entrelaçam ciência, espiritualidade, ancestralidade e tecnologia.

O conceito de afrofuturismo não é apenas uma estética ou um gênero literário, mas sim, uma forma interessante de reimaginar nosso futuro, trazendo consigo a esperança de um futuro onde a narrativa negra é o centro, onde somos protagonistas. Ele desafia o convencional da ficção científica tradicional e coloca pessoas pretas em papéis de liderança, poder e conhecimento, levando o leitor para diversos universos que celebram as raízes e aprendizados do passado, indivíduos grandiosos que somos no presente e a grandeza do futuro.

O afrofuturismo vai além do entretenimento, ou um movimento estético, ele é uma forma de resistência cultural e política. Ele oferece uma nova possíbilidade de pensar o futuro da população negra, que não seja moldada pela violencia e marginalização que sempre esteve presente nos livros e nos filmes. 

Quando se imagina um novo futuro, o afrofuturismo dá poder a vozes negras de se enxergarem como protagonistas de suas histórias. É uma realidade interessante pois o afrofurismo é o oposto da realidade da qual fomos acostumados, coloca as narrativas e corpos negros no centro da história, como protagonistas! Apesar das naves espaciais, tecnologias inovadoras e realidades intergalácticas, a perspectiva do afrofuturismo é sobre protagonismo negro.

Então, enquanto ainda estamos longe de viver nessa incrível narrativa, sem racismo e opressão, a literatura afrofuturista nos convida a sonhar, a imaginar e, mais importante, a construir essa visão protagonista de nós mesmos. Ela nos mostra que outro futuro é possível, e nos permite, ao menos nas páginas dos livros, viver essa utopia.

Autoras e Autores que Reimaginam o Futuro

Por isso, para você embarcar nessa brilhante jornada do afrofuturismo, selecionamos alguns autores com livros envolventes para sua viagem pelo afrofuturismo!

Octavia Butler 

A autora foca mais na vivência afro-americana do que nos valores e na cosmovisão africana, ela traz elementos da cultura africana em suas histórias. Em Kindred, por exemplo, temos um dispositivo de viagem no tempo chamado Sankofa, um conceito importante na cultura africana que remete à ancestralidade. Além disso, em outros livros, Butler nos convida a refletir sobre como nós, pessoas negras, podemos nos enxergar no futuro. Entre seus trabalhos publicados no Brasil estão A Parábola do Semeador, A Parábola dos Talentos, Ritos de Passagem e o conto Sons de Fala.

Lu Ain-Zaila
Considerada a maior voz do afrofuturismo no Brasil, a escritora carioca Lu Ain-Zaila é a mente por trás da primeira série futurista nacional, Brasil 2408, composta pelos livros (In)Verdades e (R)Evolução. Lu também é autora da antologia Sankofa: Breves Histórias Afrofuturistas e do romance Ìségún, lançado em 2019.

Samuel R. Delany
Precursor do afrofuturismo na ficção científica, Samuel R. Delany aborda em suas obras questões de negritude, sexualidade, classes sociais, memória e linguagem. Apesar de apenas dois de seus livros, Babel-17 e Estrela Imperial, terem sido publicados no Brasil, eles não são tecnicamente afrofuturistas. Ainda assim, Babel-17 se destacou ao vencer a segunda edição do Nebula Award em 1967 e ser indicado ao Hugo Award no mesmo ano.

Nnedi Okorafor
Nnedi Okorafor, escritora estadunidense, se identifica mais com o termo “africanofuturista”, já que suas obras estão profundamente enraizadas na cultura, história e mitologia africanas. Mesmo assim, ela apoia tanto o afrofuturismo quanto o africanofuturismo. No Brasil, duas de suas obras foram publicadas: Quem Teme a Morte e Bruxa Akata. Sua obra premiada Binti, vencedora do Nebula e Hugo Award de 2016, ainda não foi lançada aqui.

Fabio Kabral
Fabio Kabral é uma das principais referências do afrofuturismo no Brasil, ao lado de Lu Ain-Zaila. Kabral é responsável por criar o universo de Ketu 3, uma metrópole governada por sacerdotisas empresárias e tecnologias movidas por fantasmas. Esse cenário serve de pano de fundo para os livros O Caçador Cibernético da Rua 13 e A Cientista Guerreira do Facão Furioso. Atualmente, ele está trabalhando na continuação desse universo.

N. K. Jemisin
N. K. Jemisin fez história ao ser a primeira pessoa negra a vencer o Hugo Award na principal categoria (Melhor Romance) e a única a conquistar o prêmio por três anos consecutivos (2016 a 2018). Seus livros abordam temas como justiça social, violência e comportamento humano. Sua trilogia A Terra Partida, composta por A Quinta Estação, O Portão do Obelisco e O Céu de Pedra, é um grande sucesso. Seu lançamento mais recente, The City We Became, ainda não foi traduzido para o português, mas traz uma história intrigante onde um vírus ameaça destruir Nova York, só que este “vírus” é, na verdade, um espírito que propaga ódio e preconceito.

Tomi Adeyemi
Tomi Adeyemi é autora da trilogia O Legado de Orishä, inspirada na cultura iorubá. O primeiro livro, Filhos de Sangue e Osso, foi publicado no Brasil e ficou 50 semanas na lista de best-sellers do New York Times. O segundo livro da série, Children of Virtue and Vengeance, ainda está sendo traduzido para o português. Filhos de Sangue e Osso também foi finalista do Nebula Award de 2018 e recebeu diversos outros prêmios.

Fonte: https://cearacriolo.com.br/3524-2/

Madu Sanffer

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