Loja no aeroporto de Salvador vende peças de cerâmicas de negros escravizados
As “obras de arte” tinham a etiqueta “Escravos de cerâmica” e custavam R$ 99,90 a unidade
Na última segunda-feira (7), imagens de peças de cerâmica de negras e negros escravizados vendidas em uma loja no aeroporto de Salvador chocaram as redes sociais. Em visita à capital baiana, o historiador Paulo Cruz estava no aeroporto, indo para o Rio de Janeiro, sua cidade Natal, quando se deparou com as peças.
Ao g1 ele contou que ficou indignado ao ver as peças que estavam à venda “Foi um choque tremendo né? Em primeiro lugar porque eu acho que é um tipo de coisa que não deve se comercializar em lugar nenhum, muito menos uma cidade como Salvador, principalmente depois da experiência que eu tive, vendo a vivência das pessoas pretas, dos movimentos e tudo mais”, afirmou.
As peças à venda mostravam homens e mulheres negras com as mãos acorrentadas e estavam sendo vendidas sob o título de ‘obra de arte’. A etiqueta que fazia referência às ‘mercadorias’ continha o texto: “Escravos de cerâmica – R$ 99,90, a unidade”.
“A imagem estava na prateleira central da loja, que fica de frente para o corredor onde passa as pessoas, estava identificada o nome ‘escravos’ e o preço embaixo. Além do tremendo mau gosto, uma questão nitidamente racista, porque é de mau gosto você colocar uma obra identificada como ‘escravos’ e com preço”, contou Paulo Cruz durante entrevista.
Em entrevista ao jornal Metro 1, o Vovô do Ilê mostrou indignação e afirmou que as autoridades devem tomar uma atitude a respeito. “A polícia tinha que chegar lá e fechar essa loja. Cadê o judiciário baiano? Nós do Movimento Negro temos que fazer alguma coisa, uma atitude, porque não pode ficar assim”, afirmou o fundador do Ilê, ele também disse que levaria a pauta para a reunião com os blocos afros que ocorreu na tarde desta segunda-feira (7).
Em um trecho da nota enviada à imprensa, a loja Hangar das Artes afirmou que trata-se de imagens de Pretos Velhos:
“As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) – espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.
Pedimos nossas mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua história. Nossas correntes foram quebradas! E não queremos de maneira alguma trazer de volta memórias desse passado tenebroso e vergonhoso.
Por isso, retiramos todas as peças de circulação afim de minimamente nos retratar diante do ocorrido. Sabemos que não se apaga o que foi feito, mas reconhecemos a nossa falha e não tornaremos a repeti-la, não só pela repercussão que houve e sim por não condizer com a nossa verdade.
Nossas sinceras desculpas pelo ocorrido.”