Revista Raça Brasil

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Love-bombing: a porta de entrada para relacionamentos narcisistas

Por Giselle Rodrigues

 

Relacionamentos com homens que apresentam traços narcisistas frequentemente começam como histórias encantadoras: atenção intensa, elogios exagerados e promessas de amor eterno. Essa fase inicial, conhecida como love-bombing, refere-se a uma estratégia de sedução marcada por declarações grandiosas, presentes inesperados e demonstrações constantes de afeto, tudo de forma acelerada e intensa.

O objetivo não é apenas conquistar, mas criar uma sensação de conexão única e dependência emocional, o que dificulta que a parceira perceba sinais de alerta. Pesquisas indicam que esse comportamento funciona mais como ferramenta de conquista e validação do próprio ego do narcisista do que como demonstração genuína de afeto.

Estudos mostram que, em média, homens pontuam mais alto em dimensões do narcisismo associadas a liderança, autoridade e sentimento de direito. Esses elementos se traduzem em relacionamentos como expectativa de controle e exploração do parceiro.

Além disso, fatores culturais reforçam esse padrão: papéis de gênero tradicionais que valorizam dominância e assertividade tornam certos comportamentos narcisistas socialmente aceitos, o que contribui para sua persistência.

Após a fase inicial de idealização, a dinâmica muda. Muitos homens narcisistas passam a demonstrar ciúmes, cobranças e tentativas de isolar a parceira de amigos ou familiares. Quando não recebem a validação desejada, podem reagir com desvalorização, explosões de raiva ou mesmo coerção. Pesquisas também apontam para o risco de comportamentos íntimas coercitivas nesses casos, resultado da combinação entre sentimento de merecimento e falta de empatia.

Essa transição do encantamento para o controle mostra que o amor oferecido por um narcisista é essencialmente condicional. O afeto é usado como moeda de troca: quanto mais a parceira reforça a autoimagem do homem, mais atenção recebe. Quando isso não acontece, o “amor” se transforma em cobranças ou punições. Trata-se menos de cuidado e mais de posse, onde a autonomia da outra pessoa fica constantemente ameaçada.

Nós, mulheres, muitas vezes sentimos quando algo na relação não está certo. É aquele incômodo silencioso, difícil de explicar, mas que insiste em aparecer. Esse é o momento de olhar para dentro e refletir: o que eu quero em uma relação? Quem eu quero que esteja ao meu lado?

Preparamos um checklist para te ajudar a identificar sinais de alerta no comportamento do parceiro. Mas, acima de qualquer lista, lembre-se: o seu sentimento nunca deve ser subestimado. Se algo soa estranho, pesado ou doloroso, confie em si mesma. Sua intuição é uma aliada poderosa na hora de proteger sua liberdade, seu bem-estar e o seu coração.

  • Love-bombing muito intenso e acelerado (promessas grandiosas, intensidade emocional nas primeiras semanas).
  • Comentários que reforçam que você “é tudo para ele”, seguidos por cobranças de exclusividade e reprovação de suas redes de apoio.
  • Comportamentos de posse: monitoramento excessivo, ciúmes patológicos, justificativas de “proteger” enquanto minimizam suas liberdades.
  • Reações desproporcionais a críticas (raiva, retaliação, humilhação pública ou privada).
  • Padrões sexuais ou coercitivos quando se sente “desrespeitado” — atenção redobrada se houver histórico de agressão.

Compreender como o narcisismo masculino se manifesta nos relacionamentos é o primeiro passo para quebrar o ciclo de sedução e abuso. Embora esses homens possam parecer apaixonados e dedicados, sua forma de amar frequentemente está enraizada no controle e na necessidade de validação. O verdadeiro antídoto está em reconhecer os sinais cedo, fortalecer a própria autonomia e priorizar relações baseadas em respeito e reciprocidade.

Por fim, é importante lembrar às mulheres que vivem esse medo silencioso: você não está sozinha. Sentir insegurança ou receio de se manifestar é compreensível diante de relações que ameaçam sua liberdade, mas sua dor é legítima e merece acolhimento.

Buscar apoio em pessoas de confiança, profissionais de saúde mental ou redes de proteção pode ser um primeiro passo para recuperar a força que, mesmo abafada, ainda existe em você. Sua vida e sua voz têm valor, e pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem.

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