“Lugar de macaco é na jaula” declarou a idosa negra presa por injúria racial contra motorista de ônibus
Mesmo após ser presa, a mulher continuou a proferir ofensas; a vítima diz que estranhou “receber racismo de uma pessoa preta igual a mim”
Alda dos Santos, uma idosa de 78 anos e, surpreendentemente negra, foi presa no último domingo (19), em Vila Velha (ES), após proferir ofensas racistas contra Deiverson Fernandes, de 33 anos, motorista de ônibus. A idosa afirmou, entre outras ofensas, que “não gostava de preto” e que “lugar de macaco é na jaula“.
Deiverson contou à repórter Daniela Carla, da TV Gazeta, que a idosa estava sentada no banco da frente, dormindo. Assim que o ônibus chegou ao Terminal, ela acordou e já começou com os xingamentos.
“Ela disse que eu era bandido, foragido da polícia, que ela conhecia gente da minha laia… Até aí não estava me afetando. Segui o percurso, até que em determinado ponto ela falou que não gostava de preto e me chamou de macaco, aí informei aos passageiros que eu iria conduzir o ônibus até a delegacia”, disse o motorista.
O motorista conta que a idosa não se intimidou e prosseguiu com as ofensas no trajeto à delegacia. “Ela foi falando o percurso todo que eu era macaco, que lugar de macaco era na jaula. No momento eu mantive a tranquilidade. Claro que a gente fica indignado. A gente vive numa sociedade onde a maioria é preta, e ela falar um negócio desse, a gente tem que fazer o que tem que ser feito, procurei os direitos na delegacia”, desabafou.
“Preta igual a mim”
O motorista diz ainda nunca ter passado por nada semelhante: “a gente já viu pessoas tratando com indiferença, mas assim nunca tinha ocorrido antes. Eu até estranhei, receber racismo de uma pessoa preta igual a mim. Mas não é o fato de ela ser idosa que dá o direito de ela ir contra a minha honra. Tem que ter respeito de ambas partes.”
A prisão, no entanto, não fez com que a idosa voltasse atrás. Na segunda-feira pela manhã, ela voltou a fazer as mesmas ofensas em entrevista à TV Gazeta: “Não sou obrigada a gostar (de pessoas pretas). Lugar de macaco é na jaula”, disse.
Alda passou por audiência de custódia e recebeu liberdade provisória sem fiança. Entre as medidas cautelares, ela não poderá sair da Grande Vitória e não se aproximar da vítima, mantendo uma distância de no mínimo 500 metros.