Lumumba, o mestre ancestral da cultura afro brasileira.

Por Tadeu Kaçula

Sempre que uma mestra ou mestre da cultura tradicional faz a sua passagem para o plano superior, é costume dizer que “Ele(a) Encantou”. Isso ocorre porque a sabedoria cultural e ancestral faz parte da história desses mestres e mestras que detém um conhecimento considerado patrimônio imaterial.

A perda desses importantes patrimônios imateriais de memória, oralidade, sabedoria ancestral e manutenção das cosmologias afro brasileiras é sem sombras de dúvidas uma perda imensurável. 

Entre os principais mestres da música e da cultura afro brasileira destacamos o Griô Benedito Luiz Amauro, conhecido nacionalmente como Mestre Lumumba. Filho de Ogum, além de ser um exímio fazedor de tambores (Oni-lu) e conhecedor dos mistérios do ofício milenar da percussão, Lumumba também é conhecido por ser poeta e compositor. No início da década de 80, lançou Cafuné, seu 1º disco compacto.

Foi através do acolhimento recebido pelo Mestre Didi, sacerdote máximo do culto aos ancestrais, que Lumumba abre a percepção de mundo para os ritmos e instrumentos afro-brasileiros. Em companhia de Mestre Didi, inicia-se na irmandade dos tambores, vivenciando sua fabricação, sonoridade e história. Em 2020 lança a obra Ifé Bogbo Aiye (Amor para o mundo todo) pelo selo Kalakuta.

Mestre Lumumba aprofundou os seus conhecimentos sobre os valores simbólicos e civilizatórios do legado cosmológico dos povos das diásporas aficanas. Ifé Bogbo Aiye são movimentos sonoros perfumados em ervas de cheiro, folhas que curam, incensam, limpam e protegem corporeidades criativas, pérolas negras, culturas banhadas em águas salgadas e doces que formam composições musicais fundamentadas na transculturalidade das múltiplas áfricas em território brasileiro, histórias cantadas aos pés das N’gomas, tambores que saúdam, exaltam e retratam mitologias milenares que perpassam gerações pela oralidade, que ressoam no tempo e espaço dos terreiros de barro batido em terras caboclas.

Um ditado africano bastante conhecido diz que “quando um Mestre Griô morre, é uma biblioteca que se fecha”. Foi exatamente isso que aconteceu no último sábado, dia 08 de abril. O nosso Mestre Lumumba fez a sua passagem para o Orum (plano superior) e nos deixou um legado riquíssimo sobre a cultura e a tradição ancestral construídos ao longo de todo período em que ocorreram as diásporas africanas para o Brasil até os tempos atuais. Ele nos deixa uma obra musical que consolida a nossa música como uma das principais referências da cultura popular brasileira.

Que o nosso Mestres Lumumba seja acolhido no Orum com todas as honrarias de uma nobreza africana! 

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