Revista Raça Brasil

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Mãe Stella de Oxóssi: 100 anos de uma voz ancestral que eternizou o Candomblé na Bahia

Primeira ialorixá a integrar a Academia de Letras da Bahia, Mãe Stella deixou um legado literário e espiritual que fortaleceu a presença das religiões afro-brasileiras na sociedade.

      Se estivesse viva, Maria Stella de Azevedo Santos — ou Mãe Stella de Oxóssi — celebraria 100 anos nesta sexta-feira (2). Nascida em Salvador, ela se tornou uma das maiores referências do Candomblé no Brasil, sendo reconhecida não só como sacerdotisa do Ilê Axé Opô Afonjá, mas também como intelectual, escritora e ativista.



      Iniciada na religião aos 14 anos, Mãe Stella passou oito décadas ligadas ao terreiro fundado em 1910 por Eugênia Ana dos Santos, Mãe Aninha, uma das mais importantes figuras religiosas da história afro-brasileira. À frente do Ilê Axé Opô Afonjá por mais de 40 anos, ela desempenhou um papel crucial na preservação e divulgação das tradições iorubás no Brasil, especialmente na Bahia, considerada o berço do Candomblé no país.



       A ialorixá foi pioneira ao utilizar a escrita para traduzir a sabedoria ancestral do Candomblé para os livros. Com nove obras publicadas, entre elas “Meu tempo é agora” e “Òsósi – O Caçador de Alegrias”, Mãe Stella foi a primeira sacerdotisa a integrar a Academia de Letras da Bahia, rompendo barreiras que por muito tempo afastaram o saber oral das instituições formais de conhecimento.



      Sua trajetória também inclui o título de doutora honoris causa concedido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), reconhecendo seu papel como ponte entre o saber tradicional e o acadêmico.



       Além de ialorixá e escritora, Mãe Stella foi enfermeira por formação, e sua visão humanitária atravessava todos os âmbitos de sua atuação. Ela enxergava o terreiro como um espaço de cura, de resistência e de construção de identidade.



      O centenário de Mãe Stella é, acima de tudo, um marco na luta contra o preconceito religioso e no fortalecimento da cultura afro-brasileira. O Candomblé, religião ancestral trazida da África pelos povos escravizados, encontrou na Bahia um solo fértil para florescer, apesar de séculos de perseguição. Hoje, os terreiros são reconhecidos como espaços de resistência cultural, espiritual e social.


      A trajetória de Mãe Stella é marcante por diversos motivos, entre eles, o de popularizar e caracterizar as religiões de matriz africana como parte da identidade e da resistência cultural do negro brasileiro. Um levantamento feito pelo JusRacial em 2023 revelou que 33%, ou seja, ⅓ dps casos de racismo, envolviam intolerância religiosa. A luta de Mãe Stella segue sendo travada.



      A memória de Mãe Stella permanece viva não apenas em seus livros e ensinamentos, mas também em cada roda de axé, em cada toque de atabaque, e no combate cotidiano à intolerância religiosa. Sua história é símbolo de dignidade, força e sabedoria ancestral que ainda ecoa nos caminhos da Bahia e do Brasil.

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